Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

As invasões são apontadas como elemento positivo de coesão interna do grupo, mas alimentam insegurança pelo medo da violência (TARROW, 1997 apud TATAGIBA etall, 2012, p. 413). Citando:
 
O medo da repressão policial é um argumento mobilizado por 34% dos que se posicionaramcontra as ocupações. A criminalização dos movimentos sociais, ao lado da criminalização da pobreza, tem sido uma prática recorrente das administrações municipais que se sucederam desde 2005 (PSDB, DEM e PSD) da cidade de São Paulo, com reintegrações de posse violentas e repressões truculentas não só ao movimento de moradia, mas também ao movimento dos sem-teto, ao movimento estudantil e ao movimento dos moradores de rua. (grifo nosso)
 
Como se percebe na citação, há uma atualização da memória discursiva de fundo higienista, na medida em que as contradições sociais são interpretadas como desordem e a tomada de posição invariavelmente dos oprimidos como fato objetivo; esta objetivação das contradições sociais em que o sujeito é interpelado como criminoso, no caso, por conta da zona de sentido acerca da luta por moradia de que se apropria faz parte a nosso ver de um dos mecanismos ideológicos cuja eficácia se dissipa no cotidiano.
Orlandi (2011) discute essas questões ligadas à complexidade do espaço urbano e do “sentir-se em casa” clamando pela assertividade de nossa constituição simbólica, em que a ausência do Estado para transformar o espaço público em lugar de cuidado para o convívio entre concidadãos não pode deixar prevalecer a violência desmedida.
Isto ocorre porque se trata de um lugar aberto à interpretação. Do ponto de vista teórico, trata-se do embate do político (do âmbito do real) em seu modo de afetar o simbólico. Além disto, vale notar o domínio das formações imaginárias veiculadas em termos das projeções dos especialistas e de suas abstrações e representações quantitativas a favor do grande Capital. Disso decorre um emaranhado de sentidos sobre urbano, cidade e relações sociais; conforme a autora:
Tenho afirmado em meus trabalhos que a cidade tem sido confundida, ou melhor, que há uma sobreposição do urbano sobre a cidade. Isto quer dizer que a cidade é significada pelo urbano. Este, por sua vez, não representa a cidade em seu real, mas é justamente o imaginário pelo qual a cidade é tomada ou como espaço empírico, já preenchido, ou como um espaço abstrato, calculável, administrado por especialistas da gestão pública: com seus planos, projetos, políticas públicas etc. Nesse sentido, enquanto declinada pelo urbano, a cidade é já significada a priori, em nosso caso, pelos padrões capitalistas. Indo mais além, podemos mesmo dizer que o urbano se sobrepõe à cidade e esta é identificada com o social, isto é, as relações sociais são hoje, muito frequentemente, consideradas como o mesmo que relações urbanas (ORLANDI, 2011, p. 695).