Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

A atualização de um lugar para o sujeito, do ponto de vista da articulação entre o simbólico e o político pela qual se significam ações do citadino é marcada por um Estado que o individualiza; este entendimento passa pelas contribuições de Orlandi, que aponta nesse processo dinâmico da significação uma marca de tentativa do Capital em tentar estagnar o dinamismo das constantes interpretações, mas à qual se sobrepõe uma insistente significação de resistência da cidade (ORLANDI, 2011).
A partir disso temos uma organização dos “processos de individualização cuja marca do político é reger o poder conforme a discriminação de diferenças pelo valor desigual entre o melhor, o pior, o rico, o pobre, o superior, o inferior, o que tem a existência garantida e o que não deve existir, etc” (op.cit. p. 696). Conforme a mesma autora, é notória a avassaladora proposta de recortar o espaço urbano em condomínios, espaços herméticos em que “individualizam-se as respostas sociais aos problemas que são comuns a todos” (op.cit. 697).
Isto demonstra uma das formas de decorrência da especialização do lugar público e privado, de tal forma que o bairro antigo ou a vila são espaços de transição a serem reconhecidos no cotidiano como possibilidade de ratificação de hábitos consolidados na ida ao bar, padaria, etc (PROST, 2002).
Num modelo mais recente de urbanização, regida quase somente pelo grande capital especulativo por meio de projetos voltados aos interesses de uma privatização do espaço público, o poder público está aberto à privatização e não se atenta que para além do utilitarismo há funções sociais em jogo na delimitação desses espaços transitórios consolidados historicamente e com grande valor social e cultural.
Sendo assim, Prost (op.cit.) explica que as normas de convívio da liberdade burguesa para a qual movimentar-se também é tentar resguardar a privacidade, o que exige refugiar-se da vigilância dos olhares alheios, avançam em aliança aos imperativos higienistas que marcaram o início do século XX (cf. VALLADARES, op.cit.; TATAGIBA, op.cit.); isto porque tal assepsia evitaria o contato e o convívio acentuando-se os limites da propriedade privada e a distância das regras privadas na apropriação do espaço público, cada vez mais, imbuído de hábitos, por exemplo, como os do universo do trabalho.
Esta função dos papéis sociais é por nós entendida neste artigo no âmbito dos determinantes discursivos, dentre estes, o político (cf. ORLANDI, 2011) e que tem nesta discussão relação estreita com o debate sustentado por Haroche (2005) acerca da consolidação de uma Personalidade democrática no espaço urbano, por meio de uma remodelagem da deferência a outrem.