Revista Rua


Havia uma Canudos no "Pinheirinho" em São José dos Campos: Sentidos da ação policial no espaço urbano.
War of Canudos relived in Pinheirinho: meanings of police action in urban space.

Anderson de Carvalho Pereira

Até a consolidação da “personalidade democrática” definida por uma organicidade bem como harmonia entre a conduta e a deferência no espaço público, Haroche (2005) nos mostra a complexidade e dispersão de atitudes e modos de aparição pelos quais as democracias se consolidam. Dentre estes, temos a crença na liberdade como atributo individual e o distanciamento que implica o compromisso não tão explícito com o outro, sendo que esta deferência “pode depender da amabilidade, da urbanidade” que “comporta uma parte intrínseca e irredutível de atenção (autêntica ou aparente), que pode ser de difícil aplicação nas democracias” (HAROCHE, 2005, p.133).
Na seção a seguir, será este o fio da memória ao qual retornaremos ao movimentarmos a análise dos efeitos de sentido que se movimentam em torno das manchetes e das narrativas que colocam o bairro Pinheirinho na esfera dos acontecimentos do cotidiano recente acerca dos sentidos sobre a ação policial na designação de um lugar no imaginário sobre espaço urbano no Brasil.
 
Domínio de memória e dispersão de sentidos: a constituição de um lugar no imaginário sobre a ação policial
Para a análise do corpus nos orientamos principalmente pela noção de recorte como unidade de sentido em torno de uma questão (cf. ORLANDI, 1987, 1996) e de sequência discursiva apresentada por Serrani (1997).
Deste modo, a partir das diversas (re)leituras do corpus elegemos inicialmente quatro questões decorrentes do estranhamento de algumas marcas linguísticas indiciárias das seguintes questões, a saber: 1- uma oposição no uso da nomeação entre duas zonas de sentido em efeito de dominação e apagamento; 2- o efeito de sentido ligado ao caráter de “surpresa” ou “imprevisto” da ação policial; 3 – o uso disperso de verbos pelos quais o relato da ação policial no bairro Pinheirinho é linearizado pelo domínio de memória envolvido com a “luta pela terra” no Brasil. A partir desta formação do corpus são mostradas sequências discursivas (SDs), a partir das quais operam-se retornos à teoria e à formulação inicial da questão.