Revista Rua


Uso da terra real e formal no município de Paulínia (SP): Contribuição para o planejamento municipal
Real and formal land use at the city of Paulínia (SP): A contribution to the urban planning

Cinthia de Almeida Fagundes*, Lindon Fonseca Matias**

Da emancipação à atualidade: processo de produção do espaço paulinense
A partir da necessidade de se pensar o espaço, a natureza e a sociedade e suas relações dialéticas, considera-se como um objeto de preocupação da ciência geográfica a produção do espaço pela sociedade. Para Lefebvre (1999), seguindo preceitos da teoria marxista, o termo produção pode ser ressaltado tanto em um sentido filosófico de produção de ideias, representações e linguagem por meio intelectual, como em outra de sentido estrito da produção de bens de consumo, que se relacionam aos meios de produção do capital.
No que concerne à produção do espaço geográfico como forma de apropriação, utilização e ocupação de uma localidade segundo uma divisão técnica e social do trabalho, existe um direcionamento para além da organização do espaço, na perspectiva de tomá-lo enquanto produto de relações sociais determinadas. Neste aspecto, é possível tratar do espaço dentro de uma abordagem que ultrapassa a simples preocupação com a descrição da organização do espaço, almejando investigar os processos engendrados, os agentes envolvidos, bem como as estruturas consolidadas. De acordo com Carlos (2008), assumir esta escolha significa necessariamente repensar a ideia de espaço, de sociedade e por consequência da relação entre ambos. Desse modo, a reprodução da sociedade se realiza necessariamente enquanto produção espacial, imprimindo marcas, tendências, usos, formas e estruturas espaciais que expressam os diversos processos e funcionalidades ensejadas.
A expressão “produção do espaço” se insere numa abordagem dialética de (re)produção sócioespacial nos diversos moldes da apropriação da natureza pela sociedade (LEFEBVRE, 1995). Notavelmente, é sob os ditames do modo de produção capitalista que este processo de produção se potencializa acarretando transformações intensivas e uma variedade de produtos materializados no espaço, de modo seletivo e excludente, revelando traços de um processo de produção desigual.
Para Lefebvre (1999), o espaço urbano é a expressão por excelência da dupla determinação do conceito de produção, haja vista a determinação da própria cidade como obra, assim como dos produtos que a compõem e encontram-se a serviço da sociedade. Na cidade se materializam os processos engendrados pelo modo de vida urbano, numa conjunção de forças, interesses e agentes em diferentes escalas e procedências. O espaço urbano se reajusta constantemente no seu movimento de reprodução, em contexto de contradição e sobreposição de interesses e necessidades dos sujeitos produtores deste espaço, mas também por deter o mais claro domínio transformador da natureza pela sociedade.