Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

Introdução
As relações sociais, e as desigualdades delas decorrentes, inclusive as educacionais, produzem o espaço social, o território. Não há como dissociar a sociedade do espaço. A paisagem que presenciamos traz, na forma, as marcas de uma determinada organização social (LEFEBVRE, 1991). Mas esta relação não é direcionada apenas das relações sociais para o espaço, pois também a forma de organização e de ocupação que os grupos sociais fazem do espaço social são condicionadas pelas estruturas ali estabelecidas. Por isso não é de se estranhar quando escolas pertencentes à mesma rede de ensino apresentam diferenças de estrutura e desempenho escolar, a partir de sua localização, conforme, por exemplo, Cunha et al (2009) nos apresentam.
O trabalho de pesquisa desenvolvido[1], em torno do objeto construído, tem como objetivo analisar a pertinência e robustez do conceito de vulnerabilidade social para a área educacional, através do qual buscamos analisar a realidade de um fenômeno social, no caso a pobreza, como um risco que afeta as famílias, na sua função educacional, objetivadas em seu processo de produção e reprodução da vida cotidiana, a partir de possibilidades e impossibilidades (ativos) que estas têm, dentro de uma estrutura de oportunidades que representa o espaço social.
A finalidade social do fenômeno educacional será analisada, tomando como referência a família. Geralmente, a relação entre família e escola, na sua função educacional, assume um sentido que se impõe da escola para a família. Não por acaso esta recorrente relação se apresenta como hierarquia legítima da instituição formal de ensino que detém o conhecimento racional e, portanto, condiciona a relação de forma institucionalizada (a reunião, o conselho, a agenda...). Tal situação pode gerar desencontros fundados em naturezas institucionais, funções e objetivos distintos entre família e escola.
Tomar como referência a família não significa desvalorizar, retirar ou atribuir papéis a estas duas instituições sociais, pois não se coloca em questão, neste trabalho, uma avaliação institucional, mas construir um objeto de análise que permita melhor esclarecer a estrutura e o funcionamento da mesma na sua ação educacional (sua natureza), sua posição no espaço social (seu contexto), sua relação com a escola e sua


[1] O texto apresentado é composto de excertos da tese de doutorado “Família, Educação e Vulnerabilidade Social: o caso da Região Metropolitana de Campinas” defendida na FE/UNICAMP, em julho de 2011 (STOCO, 2011), originada na nossa participação como pesquisadores do projeto temático FAPESP “Dinâmica Intrametropolitana e Vulnerabilidade Sócio-demográfica nas Metrópoles do Interior Paulista: Campinas e Santos”, desenvolvido no Núcleo de Estudos de População – NEPO/UNICAMP entre os anos de 2003 e 2009. <http://www.nepo.unicamp.br/vulnerabilidade/>.