Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

Devemos considerar, ainda, que o número de estudantes matriculados em Ensino Técnico profissionalizante é irrisório e que as perspectivas para os jovens da ZV 1 e da ZV 4 são muito diferentes. Mesmo argumentando que o número de jovens entre 18 e 25 anos que não estudam ou os motivos pelos quais eles não estudam não se diferenciam, por condição de vulnerabilidade, passar pela Educação Básica de forma “protocolar” e ter de ingressar de forma precarizada no mercado de trabalho para manter sua subsistência, o que geralmente ocorre com as populações mais vulneráveis, é bastante distinto de possuir uma capacidade de ativos mobilizáveis pela família e optar por trabalhar para aumentar sua autonomia de consumo, o que geralmente ocorre nas populações menos vulneráveis.
Não ter um plano de saúde ou convênio médico privado, para todos os moradores do domicílio, é a realidade de 49% da RMC. Nestes casos, nada menos que 89% declaram utilizar exclusivamente o SUS e 9% utilizam eventualmente o sistema privado. Do ponto de vista individual não ter convênio particular é a realidade de 82% dos moradores da ZV 1, enquanto que na ZV 4 a proporção é de 33%.
Tais dados podem explicar porque, quando perguntados sobre a dificuldade de conseguir atendimento do serviço de saúde, na ZV 1, 17,2% dos respondentes afirmaram ter muita dificuldade de obter o serviço (56,6% afirmam não ter dificuldade), enquanto na ZV 4 a proporção é de 2,9% (93,7% afirmam não ter dificuldade).
Importante notar que uma parte significativa dos convênios de saúde 40,6% é oferecida como benefício da relação de trabalho, tornando visível uma dimensão bastante significativa das diferenças de empresas empregadoras que estabelecem relação de trabalho com as populações mais vulneráveis e menos vulneráveis. Outra perspectiva que demarca a desigualdade do ativo saúde, trabalhando ainda com a variável convênio médico, é que 73,7% dos moradores da ZV 1, têm convênio médico não vinculado ao trabalho, o que significa aumento do comprometimento da renda desta população.
Quanto às condições gerais e acesso ao serviço de saúde da população da RMC, as variáveis vinculadas ao capital humano parecem revelar grandes diferenças de estratos das condições de vulnerabilidade. Porém no caso das políticas públicas de saúde existem outros elementos que, seguindo a nossa classificação de ativos, estariam vinculados ao capital social. O mais significativo deles é a forma diferenciada como a população acessa os serviços público a partir das relações que possuem com a burocracia implementadora das políticas, demonstrando segmentações importantes que caracterizam a desigualdade na mobilização de ativos frente à pobreza (AZEVEDO, 2009)