Revista Rua


Família, educação e vulnerabilidade social: uma análise da Região Metropolitana de Campinas.
family, education and social vulnerability: the case of the Metropolitan Region of Campinas

Sergio Stoco

A limitada participação associativa dos moradores na RMC, e como demonstram algumas pesquisas, dos brasileiros de forma geral, apesar de indicarem um comportamento social de apatia, nas formas de participação coletiva, deve ser observada com mais atenção. Talvez, uma retrospectiva histórica de nossa formação social e política possam indicar elementos não captados (inclusive pouco explorados nesta pesquisa) e que reorganizam, em outras bases, as relações que conformam o capital social. Um exemplo é o fenômeno do clientelismo, conforme Putnam (1996, p. 115), que, na pesquisa do autor, consiste em uma prática mais comum nas províncias italianas de menor civilidade. Os cidadãos substituem o papel da participação em instituições coletivas (sindicatos, partidos, associações...) para uma relação direta com os representantes do poder político.
O caso italiano, também pelas similitudes históricas do processo de formação e organização política que tem com o Brasil, pode nos mostrar um caminho interessante para desvendar estes mecanismos sociais, a exemplo do circuito fechado, Fernandes (1979), caracteriza a relação direta da formação da burguesia brasileira (espelho da oligarquia colonial) que se relaciona com o poder público de forma clientelista (FAORO, 2000).
Para empréstimos e ajuda em dinheiro ou espécie, as famílias da ZV 1 têm como primeira opção recorrer à ajuda de parentes residentes no mesmo domicílio ou não (aproximadamente 60%). Opção que diminui gradativamente nas ZV 2 (aproximadamente 50%), na ZV 3 (aproximadamente 30%) e na ZV 4 (aproximadamente 20%). Na mesma situação, em primeira opção, nas ZV 3 e ZV 4 em torno de 10% dos respondentes recorrem a instituições formais (bancos e associações).
Para ajudar na reforma/construção da casa (mão-de-obra) há o mesmo padrão de distribuição entre as zonas de vulnerabilidade (inversamente proporcional), valorizando a família em primeira opção. Nas ZV 1, ZV 2 e ZV 3 há importante participação de familiares moradores e uma significativa proporção, em torno de 20%, de procura a outras fontes para todas as zonas de vulnerabilidade, podendo caracterizar outras formas de crédito não bancário e de crédito (talvez comercial), ou ainda, o que é bastante tradicional no Brasil entre as populações mais carentes, a construção por mutirões, por vezes, vinculada a associações de moradores ou igrejas.