Revista Rua


Uma enunciação sem comunicação: As tatuagens escriturais
An utterance without communication: the scriptural tattoos

Marie-Anne Paveau

mais um... que me olha [braço esquerdo]; tens tu uma moeda para gastar no mercado, sim ou não? [antebraço esquerdo] (DELARUE, GIRAUD, 1950: 46)]
- Regard Saint Christophe puis va-t-en rassuré (Schiffmacher 2005: 340) [Veja Saint Christophe (São Cristóvão) depois vá te acalmar (SCHIFFMACHER, 2005: 340)]
 
Esses enunciados são interessantes na medida em que eles parecem confirmar a hipótese não comunicacional: a tatuagem não introduz a conversação, mas mobiliza o olhar, como uma semiótica não verbal.
Segunda categoria bem notável, aquela dos imperativos, contendo uma sub-categoria que podemos chamar de “memento[17]” (dois últimos exemplos):
 
- Souffre mais tai-toi (Delaure, Giraud 1950, Planche 66) [Sofra mas cale-se (DELAURE, GIRAUD, 1950; PLANCHE, 66)]
- Ouvre [œil dessiné] le bon (Delaure, Giraud 1950, Planche, 67) [Abra-o [olho desenhado] bem (DELAURE, GIRAUD, 1950; PLANCHE, 67)]
- Souffre en silence (ventre, Pierrat, Guillon 2004: 38) [Sofra em silêncio (barriga, PIERRAT, GUILLON, 2004: 38)]
- Nosce te ipsum (haut du torse, Lautman 1994, p. 53) [Conhece-te a ti mesmo    (alto do peito, LAUTMAN, 1994: 53)]
- Stay Calm (Saltz 2006: 167) [Fique calmo (SALTZ, 2006: 167)]
- Stay true (www.matton.fr) [Seja verdadeiro (www.matton.fr)]
- Souviens-toi (milieu du torse avec des chaines. Guillon 2004: 55) [Lembra-te    (no meio do peito com correntes GUILLON, 2004: 55)]


[17] N.T.:  Agenda na qual se anota tudo aquilo que não pode ser esquecido.