Revista Rua


Da parede ao corpo social: a carne que não satisfaz
From the Wall to the Social Body: the Meat Doesn't Satisfy

Gesualda dos Santos Rasia

Fotografia – Gesualda Rasia
 
Do cozido, passando pelo mexido, até os assados nobres, a carne, alimento bastante presente à mesa dos brasileiros (ao menos dos socialmente incluídos), apresenta-se sob diferentes formas de preparo. Dotada de simbologias peculiares e diversas, pode reportar desde a antropofagia cultural que nos constituiu brasileiros, até a ordem do religioso, em que serve como sacrifício expiador de culpas. No enunciado em questão, “Carne é crime!”[2], doravante referido como E1, faz-se presente a assertiva que condena, que faz emergir um universo de culpa em alguma instância do social. E que faz suscitar algumas questões: para quem, e em que contexto, a carne seria crime? A partir de que lugar afirma-se isso? Que fronteiras margeiam o ponto de exclamação, onde guerreiam sentidos-outros? Que outros enunciados se inscrevem, com ou sem polêmica nessa rede de dizeres? É para essas questões, dentre outras, que o presente estudo procura constituir respostas, iniciando a reflexão a partir de autores como De Certeau, devido à importância que este conferiu aos discursos (quase) invisíveis do cotidiano. A invisibilidade é condição dos discursos não legitimados, daqueles que irrompem pelos interstícios do urbano, e por isso interessam de modo especial à Análise do Discurso. (AD).


[2] A análise toma a referida enunciação, no suporte parede, em Curitiba (PR), como irrupção não necessariamente originária nesse espaço, mas como ponto de partida para tecer os liames próprios da trama discursiva.