Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

URBIS ET ORBIS - A ILUSÃO URBANA
 
A constituição do espaço urbano da cidade de São Paulo obedeceu a uma única lógica: não ter lógica. O crescimento da cidade se deveu à febre especulativa e o planejamento foi feito com base na lei do acaso. Mas esse processo não foi exclusivo de São Paulo. Em todas as cidades que tiveram o seu crescimento devido à industrialização, o processo de urbanização teve as mesmas características: crescimento desordenado e excludente, ou seja, a disseminação aleatória da malha urbana e, conseqüentemente, a segregação de grande parte da população.
A rápida industrialização de São Paulo, no entanto, caracterizou-se pela destruição dos antigos laços sociais e, com efeito:
 
mais uma vez defrontamos, não com a iniqüidade da cidade moderna, mas com a falta de um esquema de referências intrínseco, de uma ‘perspectiva urbana’ singular e integrada a que se referissem para censura ou para aprovação os padrões de comportamento, morais ou imorais. Em numerosos planos da vida da cidade vimos os efeitos anticomunais dessa libertação da tradição (MORSE, 1970: 268).
 
 
Isso não significa que antes era melhor e o capitalismo veio destruir o passado e o que havia de bom. No entanto, a destruição dos laços de sociabilidade constituídos historicamente não foi seguida da construção de outros. Tal fato é decisivamente marcado pela imigração em massa, e o
repentino afluxo de imigrantes rurais para as cidades latino-americanas gera sociedades urbanas híbridas ou heterogêneas, fato este que levou os cientistas sociais a questionarem a validade das