Revista Rua


A enunciação da cidade: práticas discursivas sobre a São Paulo do início do século XX
The city enunciation: discourse practices about São Paulo at the beginning of XX century

André Luiz Joanilho, Mariângela Peccioli Galli Joanilho

um discurso que procura legitimar o poder político e econômico exercido pelas elites oligárquicas do café em São Paulo, justificado pelo ‘natural’ espírito empreendedor do paulista” e “a cidade arcaica de Taunay não se apresenta como um modelo ideologicamente oposto à nova ordem, mas como o momento anterior à sua metamorfose em cidade industrial. O que merece ser destacado é uma visão apaziguada da sociedade, em evolução contínua, ser percalços sociais, logo, em contraposição a visões de ruptura, mesmo que afrouxadas pelas expectativa de mudanças (FERRAZ DE LIMA e/ou, 1993: 163-4).
 
 
Essas duas visões de passado comum, a despeito de suas diferenças enunciativas, colocam um contínuo na história, correlato de uma visão legitimadora do presente. Assim, os anseios de limpeza, higienização, industrialização, educação, são os efeitos das noções de progresso e modernização pelos quais a sociedade deve passar, no caso, a cidade de São Paulo, marcando a sua especificidade com relação ao resto do país.
Neste sentido, a capital paulista, se torna o campo privilegiado para a aplicação de práticas discursivas que visam o controle e a conformação dos indivíduos. Estas práticas, por sua vez, constituem-se de enunciados que têm origem em locais diversos e se correlacionam (biologia, educação, nacionalismo etc.).
Os institutos científicos passam a ser motivo de orgulho de articulistas, médicos, higienistas:
 
Uma das repartições publicas de S. Paulo que mais lustre e renome têm adquirido para o Estado é sem duvida a que tem a seu cargo os serviços de hygiene [...].
Todos os visitantes illustres que o Estado recebe, sem excepção, levam as melhores impressões da organisação dada aos nossos serviços de hygiene, das installações caprichosas de suas diversas secções e da natureza de todos os encargos a ellas attinentes [...]. É que elles tiveram noticias dos serviços inestimaveis prestados por esses estabelecimentos á população e aos creditos de S. Paulo, reconhecido e decantado por isso como a região mais progressista e adeantada do territorio brasileiro (GODINHO, O ESTADO DE SÃO PAULO, 01/10/1903).
 
 
O entusiasmo ufanista do Dr. Godinho está justamente nas instituições científicas da cidade, mas não é só ele. Um promotor, ao comentar a instrução da Brigada Policial, não deixa de notar que: