Revista Rua


Cidade narrada, tempo vivido: estudos de etnografias da duração
City told, Time lived: Studies in Ethnography of the Duration

Ana Luiza Carvalho da Rocha, Cornelia Eckert

Imagens da cidade vivida povoam nossas memórias. Caminhamos pela cidade e percebemos em nós sentimentos diversos sobre pessoas de nossa rede de pertença (e outras que estranhamos), sobre ruas que nos são familiares (evitamos outras), sobre espaços freqüentados (ignoramos outros), sobre transeuntes que nos atiram a atenção (evitamos a proximidade com alguns), enfim, estes tantos arranjos sociais nos configuram um sentido de ser e estar na cidade. São nestas formas de perceber a cidade que tecemos nossas rotinas, traçamos nossos percursos, planejamos nossos afazeres, enfrentamos nossos temores e constrangimentos. A cada dia, cidadãos perfazem seus deslocamentos para o trabalho, para o lazer, para seus compromissos ou desocupações. A descrição da cidade que somos nós e que está em nós, é uma narrativa que se transforma no jogo da memória de seus habitantes tanto quanto do etnógrafo que reinterpreta as interpretações dos habitantes que pesquisa em suas trajetórias.
Nesse artigo, baseamo-nos nos dados do nosso projeto de pesquisa antropológica sobre a memória coletiva dos habitantes da cidade de Porto Alegre, iniciada em 1997 no âmbito de um núcleo de estudos que denominamos Banco de Imagens e Efeitos Visuais www.biev.ufrgs.br (PPGAS, IFCH e ILEA, UFRGS).
A pesquisa antropológica em contextos urbanos emerge e se consolida no século XX. O mote da pesquisa antropológica, sobretudo através do seu método etnográfico, consiste em observar e entrevistar estes citadinos em seus cotidianos. Compreendemos assim que, para conhecer a cidade como fenômeno social, nós pesquisamos a memória de indivíduos e grupos a partir das narrativas e das trajetórias destes habitantes nas mais diversas situações de convivência informal ou formal, pública e privada. Em termos de procedimentos metodológicos investimos nos estudos de narrativas das trajetórias e itinerários dos habitantes na cidade pela imersão do etnógrafo na “memória dos passos perdidos” (DE CERTEAU, 1992) dos moradores como topos significativo da re-recriação de tradições urbanas. As paisagens urbanas despontando como espaços fantásticos onde os moradores de um grande centro urbano, habitando suas lembranças passadas, fazem das imagens imateriais de seu acervo patrimonial um conhecimento em ato da cidade (DURAND, 1984).
No nosso campo de conhecimento, os habitantes na cidade são narradores em potencial de suas experiências vividas no contexto urbano. Mesmo em suas discursividades em que predominam lógicas ideologizadas pela mídia, dimensionamos na instância de um