Revista Rua


Um Olhar sobre o Câncer de Mama: a Atividade Física e seu Significado para Mulheres Participantes de Grupo de Apoio
A Look at Breast Cancer: A Physical Activity and Its Significance for Participants of Women Support Group

Fernanda de Souza Cardoso, Eliana Lúcia Ferreira

Para (S4) vemos exemplificado esses paradoxos: apesar da presença da doença, uma ressignificação da vida, era assim: “fechada”, e fiquei de outra forma: “conheci pessoas”. Parece ocorrer uma maior disponibilidade para a vida, uma “abertura” aos outros, o reconhecimento de novas experiências.
Vieira e Queiroz (2006: 66) em sua pesquisa com pacientes internadas na oncologia do CAISM-UNICAMP apresentam pelos relatos dessas mulheres que a fase de recebimento do diagnóstico promove uma experiência de desestruturação psíquica com reavaliações das relações e de atitudes anteriores ao mesmo. Muitas vezes a experiência de se estar com câncer é apenas partilhada com as pessoas mais próximas, em função do receio desse olhar da sociedade, do não entendimento, dos preconceitos e pessimismos.
 
A gente fica, né? Eu fiquei assim... um pouco deprimida, achando que..., né? Com vergonha, né? Que nem todo mundo sabia! A gente às vezes num fala. Eu fiquei muito tempo assim... sem querer sair de casa (S2).
 
Pra mim não mudou nada. Só assim... só assim, que tem dia né que cê num quer ficar naquele muntueiro de gente. Mas a gente vai, né? Às vezes a gente... cê senta numa mesa, conversa... Muito barulho, né? [...] Eu acho que é a fase, né? (S1).
 
Pelos ditos acima referenciados algumas mulheres viverão um momento de restrição, de afastar-se de algumas atividades sociais, de adaptar-se a novas situações. Percebemos deslizamento de sentido em (S1) quando a mesma chega a relatar que “mudou nada”, mas ao final fala de uma “fase” e por conseqüência desta fase, uma certa reclusão, um certo incômodo em lugares cheios ou barulhentos.
O corpo atingido pelo câncer e pela cirurgia, que não intervêm apenas no exterior, no visível, transforma desta maneira todo o universo social da mulher mastectomizada, se refletindo em novas maneiras de ver, ser visto e sentir seu corpo. A doença não se resume então a um estado orgânico diferenciado, não está isolada em órgãos ou tecidos, ela se entrelaça nas redes sociais, onde está inserida a pessoa doente. Como ser relacional, o doente não pode viver sua doença fora dos contextos sociais do qual é parte e está inserido; estes contextos vão se refletir na experiência da doença e vice-versa (AURELIANO, 2007: 124).