Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade [1]
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

INTERAÇÃO OU PRÁTICA SOCIAL SIMBÓLICA? COMUNIDADE OU CLASSE SOCIAL?
            Nossa presente reflexão é apenas uma nota a respeito do uso de interação no discurso dos internautas e cientistas da informação, no exercício do discurso eletrônico[2], e do que daí decorre. Devo acrescentar que eu mesma nos anos 70/80 do século XX, levada pela “onda” da dialogia e das leituras de Bakhtin, usei a palavra para significar a relação entre posições-sujeito, sobretudo quando trabalhei com leitura e escola. A palavra era de uso corrente, mas o que eu significava já se remetia à noção de discurso e, portanto, a outro sentido. A partir do momento em que tive consciência disso deixei de usar a palavra interação. E guardei rigorosamente a distância teórica que vai da pragmática (interação) e a análise de discurso que pratico e que tem princípios tais como enunciarei em seguida.
            A perspectiva na qual me coloco, como tem sido, é a da análise de discurso, na qual se pensa a relação entre a ideologia e a linguagem. Toma-se assim a relação língua/sujeito/história, e introduz-se o objeto discurso como observatório para compreender como a materialidade específica da ideologia é o discurso e a materialidade específica do discurso é a língua. Este objeto, o discurso, por sua vez, inaugura um modo de observar-se a constituição do sujeito e do sentido no confronto do político com o simbólico, quando se pensa essa materialidade.
            Sujeito e sentido constituem-se ao mesmo tempo, é o que tenho afirmado em inúmeras ocasiões. Isso quer dizer que o sujeito ao significar, significa-se. Este é um


[1] Esse artigo foi escrito no interior do grupo de pesquisa E-urbano, coordenado por Cristiane P. Dias do Labeurb/Unicamp.
[2] Cunhei esta expressão, discurso eletrônico, para significar o discurso da automatização, em reunião com os pesquisadores, no Laboratório de estudos urbanos, para nomear um programa de atividades que estava estruturando no laboratório, em 2002. Em 2003 publicamos “Para uma enciclopédia da cidade”, resultado de trabalho da equipe. Na introdução deste livro utilizo igualmente a expressão discurso eletrônico. E o tenho tomado como objeto de análise desde então.