Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

discursos textualizam-se em diferentes materialidades significantes como textos verbais, imagens, sons, vídeos; ambiente urbano = condições de produção urbanas.  
            É justamente sobre estes deslizes – em que temos de um lado, o discurso do analista de sistema, mas também o discurso do senso-comum referido ao digital, e, de outro, o do analista de discurso - e os deslocamentos teóricos e analíticos que vamos falar neste trabalho.
 
MEMÓRIA DISCURSIVA
            Temos trabalhado com o fato de que há na produção de sentidos três momentos, inseparáveis, que são: constituição, formulação e circulação e sentidos.
            Embora inseparáveis, podemos dizer que quando pensamos a prática do discurso eletrônico, tomamos como ângulo de entrada a circulação dos sentidos, pensando os outros dois momentos através deste.
            O modo de circulação dos sentidos no discurso eletrônico nos faz pensar que, pela sua especificidade, produz conseqüências sobre a função-autor e o efeito-leitor que ele produz. E estas conseqüências estão diretamente ligadas à natureza da memória a que estes sentidos se filiam. E, certamente, à materialidade significante de seus meios[3].


[3] Gostaria de lembrar rapidamente que em meu livro Interpretação (1996) distingo o dispositivo ideológico do dispositivo teórico e do dispositivo analítico da interpretação. Na construção do dispositivo analítico da interpretação, mostro como é importante: a questão do analista, a natureza significante do material que ele analisa, seus objetivos, e a área disciplinar de que ele parte para sua análise. Portanto, o dispositivo analítico terá sua forma afetada pela natureza do material significante: não se analisa da mesma maneira um texto verbal e uma estátua, ou uma pintura, etc. Isto é a abertura do simbólico e esta abertura deve ser levada em conta pelo analista, respeitando as diferentes materialidades significantes com que trabalha. Assim também com o discurso eletrônico, ou mais geralmente, o digital, em sua materialidade específica.