Revista Rua


A contrapelo: incursão teórica na tecnologia - discurso eletrônico, escola, cidade
Against the grain: theoric incursion in the technology - eletronic discourse, school, city

Eni Puccinelli Orlandi

desta forma de memória é o “quanto mais, melhor”. O que é discutível do ponto de vista do que chamamos memória discursiva, a constituída pelo esquecimento. Por ela, sabemos que o possível está justamente no esquecimento. Dessa perspectiva, é pouco favorável ter-se uma memória saturada.
            As diferentes formas de memória acarretam diferenças no circuito constituição/formulação/circulação e também afetam a função-autor e o efeito-leitor. Isto porque qualquer forma de memória tem uma relação necessária com a interpretação (e, conseqüentemente, com a ideologia.).
 
INTERAÇÃO?
            Pelo que dissemos acima, a noção de interação fica sujeita a críticas. Se pensarmos que a linguagem não é transparente, que os sujeitos não são a origem de si e que os sentidos são produzidos em processos em que funciona a determinação histórica, podemos re-significar a noção, tão usual no discurso eletrônico, de interação, pela idéia de produção/prática de gestos por sujeitos que ocupam certas posições na relação com este processo de significação. Queremos lembrar que, como diz Pêcheux (1969), gestos são atos no nível simbólico. Quando eu junto gestos a interpretação, desloco o que diz Pêcheux para abarcar mais do que para ele eram os gestos (assobiar, jogar uma bomba numa assembléia, etc.). No modo como tomo a questão do gesto e o ligo a interpretação, estou dizendo que, na prática simbólica, produzimos gestos de interpretação, sendo estes, modos de interferir no mundo, através da prática simbólica que é a interpretação. Repito: a interpretação é uma prática (simbólica) em meio a outras práticas (sociais).