Revista Rua


A máquina corretiva, ou como restituir aos moradores de rua à estrutura: dois modelos de transformação
The corrective machine, or how to restore the homeless people to the structure: two models of transformation

Carlos José Suárez G.

A sociedade não é apenas um objeto que suscita, com intensidade desigual,
sentimentos e atividades dos indivíduos.
É também um poder que os regula.
Emile Durkheim, 1897, O suicídio, “O suicídio anômico”.
 
 
A cultura é melhor vista não como complexos de padrões de comportamento,
com tem sido o caso ate agora,
mas como um conjunto de mecanismos de controle.
Clifford Geertz, 1966, A interpretação das culturas,
“O impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem”
 
 
O Mal e o vício na cidade
As representações sociais têm um poder transformador sobre a vida dos seres humanos. Às vezes, somos banais a respeito do uso que fazemos destas representações, e muitas vezes não as reconhecemos como justificativa das ações reguladoras da sociedade. Aliás, a sociedade tem formas perversas de se regular, de lidar com a diferença. Este processo de regulação é chamado frequentemente de cruel, contudo, esta exclusão deve ser lida como um caminho de mão dupla: tanto a sociedade pode jogar fora aqueles que não se adaptam aos seus princípios, ou bem pode ser a escolha racional de indivíduos em particular, que desejam se afastar da sociedade. A rua, neste sentido, é na atualidade um desses lugares onde são jogados fora (ou para onde pulam) os “desajustados”. São eles, especialmente os moradores de rua, o foco do seguinte ensaio. Veremos como chegam à rua, como se desenvolve a vida dentro dela e como a estrutura social tenta tirá-los deste ambiente. Mas, sobretudo, arriscarei uma leitura diferente destes seres “indesejáveis”, desde sua simbologia mais profunda, que permita entender o desejo das maiorias de acabar com eles.
Para conhecer as representações sociais dos moradores de rua na capital colombiana, apresentarei alguns extratos de entrevistas feitas a funcionários públicos e de ONGs (Organizações não-governamentais) que trabalham diretamente com estas populações[1] também serão usadas narrações do jornal El Tiempo, que, na atualidade, monopoliza a imprensa e mobiliza grande parte da opinião pública do país mediante sua rede de revistas e suas influências na mídia em geral. Este é o ponto de partida para dar contorno a estas concepções “formais” dos moradores da rua. A análise das


[1] Os extratos das entrevistas apresentados neste trabalho foram traduzidos por mim do original em espanhol, tentando, no possível, não perder o sentido e o uso da gíria. Seguirão em nota de rodapé as versões originais em espanhol.