Revista Rua


A máquina corretiva, ou como restituir aos moradores de rua à estrutura: dois modelos de transformação
The corrective machine, or how to restore the homeless people to the structure: two models of transformation

Carlos José Suárez G.

reguladores do comércio ilegal e da prostituição, servindo como elo entre as atividades legais e ilegais dentro deste local, ou seja, como mediadores entre a estrutura e a anti-estrutura. Isto será acrescentado dentro do segundo modelo de correção.
A prática de violência, e especialmente da morte, tem elementos pedagógicos dentro desta communitas ou anti-estrutura. Brevemente, podemos ver um exemplo desta prática, que segue, além de uma intenção reguladora, uma forma de ensino particular, que, como menciona Turner, está relacionada com a monstruosidade, o exagero e o traumático. Turner aponta, dentro das sociedades primitivas, a confecção de monstros para ensinar ao neófito a distinguir claramente os diversos fatores da realidade (2005, p.150). Porém, o liminar é uma obrigação dentro das sociedades com solidariedade orgânica, e o liminóide é uma opção dentro das sociedades industriais: “one is play and choice, an entertainment, the other is a matter of deep seriousness, even dread” (1982, p.43). Quão sério e atemorizante pode ser este aprendizado de, por exemplo, faltar uma dívida ou falar demais, esquecendo a lei do silêncio? Hubert Ariza, na sua narração sobre os depoimentos da destruição da “Calle del Cartucho”, mostra as múltiplas formas que adquire esta morte:
 
Los muertos eran echados a las alcantarillas, incinerados, enterrados en los patios de las casonas abandonadas, tirados al contenedor de la basura de la calle 9ª, despedazados con motosierra por El Carnicero o dejados en los barrios vecinos para no boletear más la zona (Ariza, 2007).
 
Pode-se apreciar a sevícia e as diferentes alterações tanatológicas do cadáver: a morte é levada além do túmulo, o corpo é inscrito com crueldade para deixar marcas indeléveis nas pessoas da zona, para lecionar o que lhe espera a quem rompa a lei do silêncio, a quem fique em dívida. A isto se acrescenta deixar cartazes sobre os cadáveres despedaçados: “por sapo, por soplón y por faltón[1]” (ARIZA, 2007). Outros atos mais cruéis são descritos por testemunhas sobreviventes da “Calle del Cartucho”:
 
En la época del 5 a 0 [1993] había una pandilla, eran unos animales espantosos, eran hermanos…, estas Pirañas negociaban con dulce o sal [drogas], estos tipos vendían sal y no admitían crítica, ellos tenían su rutina especial en la forma de sacrificar a la gente. Todos tenían un chuzo hecho con radios de moto, les sacaban punta, tenían una puntería tremenda. Los clavaban en el corazón (Góngora e Suárez, 2008, p.131).


[1] “Por boquirroto, por alcagüete e por vacilão”.