Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

Há, na atualidade, entre o poder e os corpos, um elemento de interação: a imagem. Lembrando Foucault, o corpo, inicialmente supliciado (sociedades de soberania), posteriormente moldado (sociedades disciplinares), hoje, está enfraquecido e o poder passa a ser exercido não apenas sobre a materialidade dos corpos, mas sobre as suas imagens que são produzidas pelas câmeras instaladas nos espaços públicos das cidades e, simultaneamente propagadas nas telas de vidro dos computadores instalados nos centros de captação. Assim, o poder atua não mais tanto sobre o corpo encarnado do indivíduo, mas sim, e especialmente, sobre o espectro deste corpo.
Diante disso, é preciso compreender como se constitui, na atualidade, a relação deste corpo moderno, construído através de um olhar tecnológico, com o poder.
 
Num contexto de digitalização universal, em que uma nova metáfora bioinformática tomou de assalto o nosso corpo, o velho corpo humano (...), já prece obsoleto. Diante da matriz tecnocientífica, onde o ideário virtual vê na materialidade do corpo uma viscosidade incômoda (...), ansiamos pela perda do suporte carnal, aspiramos por uma imaterialidade fluída e desencarnada. (PELBART, 2003, p.46)
 
Esta afirmativa de Pelbart revela a perda gradual de um velho corpo humano e o aparecimento de outro corpo, configurado na sua imaterialidade desencarnada que se constitui através da sua semelhança na imagem.
Veja-se como esse processo ocorre hoje e como ele aparece na TV. Primeiramente se explicite uma nova visão do espaço urbano onde estão sendo construídas galerias vigiadas pelas câmeras. Tais câmeras vigiam o fluxo dos corpos; sua função primeira não é identificar, mas gerir fluxos.
 
ESPAÇO URBANO: GALERIAS DE VIDRO
Com a inserção, cada vez mais comum, das imagens dos vídeos de vigilância nos programas jornalísticos, o telejornalismo brasileiro passa a ganhar uma nova configuração e, consequentemente, o olhar do espectador é submetido a ela; diante dele, um acontecimento em pleno andamento, ocorrendo no seu próprio tempo de duração. Esta experiência visual quase cotidiana exercita também o espectador a um tipo de olhar que se aproxima do olhar dos agentes de vigilância, aqueles que ocupam as centrais de captação das imagens vigiando as ações que se desenrolam nos espaços públicos. Isto porque, como já se disse anteriormente, são imagens que se caracterizam inicialmente para uso comprobatório das transgressões praticadas nestes espaços e não como imagens meramente informativas.