Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

com seis mil câmeras de vigilância) será a primeira cidade nos EUA, a ser observada por um sistema de vigilância, ligado diretamente ao Departamento de Polícia. Só ao sul da ilha de Manhattan serão mais de cemcâmeras de alta definição que vão integrar o sistema, para vigiar, especialmente, pedestres que transitarem nas ruas próximas à Wall Street, área crítica da economia americana. Ainda segundo divulgação, o projeto chamado de Lower Manhattan Initiative prevê também a instalação de mais três mil câmeras de vigilância pública e privada, na área sul de Canal Street até o ano de 2010, garantindo, desta maneira, corredor seguro. Isso lembraBenjamin comentando as passagens de Paris: elas constituem “um passeio seguro, porém restrito do qual os comerciantes também (e no caso, principalmente), tiram vantagens”. Já naquela época, o filósofo classificava estas “passagens” como “outras cidades” existentes dentro da cidade de Paris:“Em ambos os lados dessas galerias, que recebem luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que tal passagem é uma cidade”. (BENJAMIN, Op.Cit.)
Desde logo, chama-se a atenção para o fato de que, ao se apossar do conceito de passagens em Benjamin e o deslocar das galerias parisienses para o alinhamento das câmeras de vigilância afixadas no alto das construções nos espaços públicos da cidade atual, não se vê impedimento em reafirmar que tanto em Paris daquela época quanto na cidade de Nova York de hoje, as “passagens tecnológicas” foram e são geográfica e estrategicamente “construídas” em locais de grande concentração financeira.
No caso da cidade americana, estão os grupos que articulam grande volume de capital e no caso de Paris, alinham-se as lojas mais elegantes. Podemos dizer que no Brasil a maior concentração destas passagens também se localiza em áreas de grande movimentação financeira às quais integram, na sua maioria, grandes redes internacionais de hotéis e lojas comerciais de luxo. Regiões protegidas por galerias de vidro. Essas novas passagens trazem consigo uma face do horror.
 
REFLEXOS E TRANSPARÊNCIAS: A INTERFACE DO HORROR
 
As ações transgressoras capturadas por essas câmeras que formam as “passagens envidraçadas” dos centros urbanos chegam às telas da televisão, em especial, aos programas jornalísticos. Para falar sobre elas, tome-se uma fábula indiana (Di TELLA, 2005, p.81).