Revista Rua


Cidades de vidro: das galerias de vidro parisienses às galerias das câmeras de vigilância
Glass cities: from the parisian glass galleries to the surveillance cameras galleries

Eliana Monteiro

fotografia, na época, agia como mediadora entre uma imagem privada e pública, e pode, portanto,

ser usada como garantia de identidade e como meio de determinar culpa ou inocência. Em sistemas de poder e autoridade, as possibilidades de circulação da fotografia também puderam desempenhar um papel regulador, mantendo um senso do singular e do reconhecível (...) a fotografia fornece um meio para se apropriar da fisicidade de um fugitivo (...). (Ibidem, p.38)
 
Nesses termos, fala, ainda, Gunning, a fotografia passa ser a ferramenta ideal para o processo de investigação policial por dois aspectos: primeiro pela sua condição de índice, que vai derivar do fato de que a fotografia resulta da exposição a uma entidade preexistente, isto é, ela mostra diretamente a marca da entidade e pode, portanto, fornecer evidência sobre o objeto que retrata; em segundo lugar por seu aspecto icônico, pelo qual produz uma semelhança direta com seu objeto o que permite um reconhecimento imediato além, de sua natureza separável, o que vai lhe permitir referir-se a um objeto ausente estando separada dele em espaço e tempo. Deste modo, conclui o autor, “a fotografia torna-se parte de um novo discurso do poder e controle”.(Ibidem)
Já as câmeras de vigilância registram a ação criminosa no espaço e no tempo, para somente em seguida buscar a identificação do criminoso. Nesse caso, o exercício do poder se investe de uma outra prática de controle: primeiro a cena, depois o seu autor.Deste modo, pode-se dizer que as câmeras, ao serem afixadas no alto dos edifícios, postes e muros dos espaços públicos, sobre as cabeças dos indivíduos, buscam a total visibilidade das ações criminosas, ao contrário das lentes das máquinas fotográficas que se posicionam na altura dos olhos dos criminosos buscando a sua identificação.
Neste caso fica evidente que as marcas do crime na sociedade atual se expressam inicialmente, através do seu espetáculo (as ações do crime sequencialmente exibidas nas telas da televisão), e não mais na imagem/reflexo do criminoso. Sendo assim, o espetáculo torna-se, na sociedade moderna, como nos diz Debord, a sua principal produção: “Ao analisar (grifo no original) o espetáculo, fala-se de certa forma a própria linguagem do espetáculo, ou seja, passa-se para o terreno metodológico dessa sociedade que se expressa pelo espetáculo (...) é o momento histórico que nos contém.” (DEBORD, 1997, p.16,17)