Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

1 – INTRODUÇÃO: O CIRCUITO SONORO E O MEIO ESQUIZOFÔNICO
 
Hoje com aproximadamente 1.200.00 habitantes, a cidade de Campinas se destaca como importante elo informacional, industrial e tecnológico da rede urbana paulista. O circuito de rádio de Campinas surge no final da década de 1920, e apenas em meados de 1950 se inicia a produção de fonogramas. No município e no seu entorno, ganha expressão a partir da década de 1970 o circuito de FM (freqüência modulada), período de crescimento do mercado fonográfico brasileiro que segue a urbanização acelerada do território nacional. Este contexto delineia a centralidade das emissoras concessionadas de rádio na divulgação maciça da produção fonográfica. Entendemos que se deste modo se expande “a influência no circuito sonoro”, tornada um importante componente do espaço geográfico contemporâneo[1].
O movimento do circuito sonoro implica no uso de ruas, praças, bares, objetos técnicos de informação - desde rádios até telefones celulares - estúdios de produção musical, emissoras de rádio, torres de transmissão, lojas de discos, entre outros. Sua dinâmica envolve o registro material da produção fonográfica, as mediações das experiências cotidianas ligadas à música e o campo de informação embutido, que perpassa a produção musical, os eventos musicais, as ações de trabalhadores culturais e todo o contato entre os agentes envolvidos na problemática.
No tratamento dado ao tema do circuito sonoro em Campinas, esmiuçamos a produção e a difusão em torno da música, feita num intrincado meio urbano, marcado pela desigualdade socioterritorial. Entendemos que a produção fonográfica e a radiodifusão na


[1] Trabalhamos sob a perspectiva de que a existência e o funcionamento de um circuito ganha significado quando abordadas as estratégias políticas no território usado, sinônimo de materialização e acontecer de objetos e ações no espaço geográfico. Para M. Santos (2004 [1996], p.232). “A utilização do território pelo povo cria o espaço e o território se chama espaço logo que encarado segundo a sucessão histórica de situações de ocupação efetiva por um povo – inclusive a situação atual – como resultado da ação de um povo, do trabalho de um povo. N. Smith (1988 [1984], p.123) nos lembra que a idéia de produção do espaço significa a formação integrada da consciência e da vida material a produção do espaço também implica na produção do significado, dos conceitos e da consciência do espaço que estão inseparavelmente ligados à sua produção física.” O território usado seria a construção unificada de duas demandas locais, todavia decorrentes de uma sociedade mais ampla que o lugar: a tecnosfera, a dimensão dos objetos, e a psicosfera, dimensão ligada ao mundo da ação e das idéias. De acordo com M. Santos (2004 [1996], p.256): a tecnosfera se adapta aos mandamentos da produção e do intercâmbio e, desse modo, freqüentemente traduz interesses distantes; desde, porém, que se instala, substituindo o meio natural ou o meio técnico que a precedeu” enquanto “A psicosfera, reino das idéias, crenças, paixões e lugar da produção de um sentido, também faz parte desse meio ambiente, desse entorno de vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário”.