Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

O rádio e o fonógrafo, duas inovações técnicas surgidas quase ao mesmo tempo, são demarques do meio esquizofônico, na medida em que potencializaram indefinidamente a difusão sonora. Falamos de dois elementos que, como veremos, cada vez mais, se encontram no processo de “catequese musical”, isto é, no enfraquecimento da cultura popular na cidade contemporânea por meio da imposição de um repertório padrão.
            Os traços da esquizofonia se inserem num conjunto maior de transformações de sistemas técnicos que, além do telégrafo, do fonógrafo e da radiofonia, compreende também o cinema. São dados ativos que, em seu conjunto, propõe G. Friedmann (1968), constituem e impulsionam uma revolução no tempo livre dos homens, dispensando a presença humana para a ação e a transmissão de informações.
De modo semelhante A. Pred (1979) lembra que, antes do telégrafo, a circulação de informação era inseparável do deslocamento humano. Mesmo a informação impressa tinha que ser materialmente transportada, o que consumia muito tempo e dependia dos meios de transporte disponíveis. Como resultado, os eventos geográficos estavam circunscritos sempre a uma pequena área.
             
2 – INVENTÁRIO DO CIRCUITO SONORO EM CAMPINAS: UMA PROPOSTA DE PERIODIZAÇÃO
2.1 – Esquizofonia no Brasil: o rádio e a produção fonográfica no país arquipélago (...1940)
 
Com a esquizofonia, recai sobre a distância[2] cada vez mais um conteúdo político, na medida em que a variável passa de obstáculo físico a “uma variável administrada racionalmente pelas instituições sociais(ORTIZ, 2001, p.36). Marcada desde o seu início por relativo monopólio[3], a primeira manifestação do fenômeno esquizofônico que aporta no Brasil é a produção fonográfica, com a chegada do fonógrafo e o esboço de circuitos em torno das primeiras gravações sonoras, durante uma inicial e um pouco tímida aceleração


[2] D. Harvey (1992, p.202) explica que a distância impõe custos de transação a todo o sistema de produção e reprodução, particularmente àqueles baseados em alguma divisão social elaborada do trabalho, do comércio e da diferenciação social de funções reprodutivas.”
[3]  E. Vicente (1996) esclarece que no início do século XX havia cinco companhias controlando o mercado fonográfico mundial: Edison (EUA) e Pathé (França) utilizando os cilindros; Victor Records (EUA) e Gramophone (RUN-Alemanha) utilizando os discos e a Columbia (EUA-RUN) utilizando ambos. O primeiro estúdio comercial de gravação data de 1897 e, em 1916, quando expira a primeira patente reguladora da produção fonográfica, ocorre a associação das gravadoras estadunidenses Victor Talking e Columbia Graphophone, que assumem comando do mercado mundial.