Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

do fenômeno urbano no Brasil no final do século XIX. No país, lembra J. R. Tinhorão (1981, p.14), “as máquinas falantes” apareceram no contexto da abolição e serviram para registrar alguns gêneros musicais ligados à cultura afro-brasileira, entre eles o lundu e os batuques.
            O fonógrafo de Edison foi exibido pelo empresário Frederico Figner por anos em diversas cidades, desde a sua chegada ao país em 1889, até que no ano de 1897, Figner instala sua loja no Rio de Janeiro. A cidade de Campinas em 1886, na época da chegada dos eventos da esquizofonia, tinha 41 mil habitantes: Lá por mil oitocentos e setenta e tantos, conta J. Mariano (1972, p.30) Campinas reportava como cidade privilegiada para a imprensa”. Juntamente com São Paulo e Salvador, era uma das três cidades do país a ter concessões de telefone e chegou a comparar-se à São Paulo, com uma população de 48 mil habitantes, contexto em que se pensou em torná-la capital estadual (GEIGER, 1963).
            Destaca-se o fato da esquizofonia ter chegado à cidade quando esta já apresentava efervescência em sua vida cultural. De acordo com M. L. Páteo (1997), foi durante a década de 1870 que os circuitos culturais em Campinas ganharam espessura fora dos locais restritos como os clubes de elite. A autora supracitada lembra que se tornava cada vez mais comum a presença de companhias líricas e circenses, e das bandas de música por toda a cidade que ganhava as suas primeiras feições urbanas:
 
As praças e largos, à medida que se urbanizavam, passavam a estimular uma nova forma de relação social, de comunicação e de convívio, tornando-se sensível, naquele momento preciso, as manifestações de sociabilidade e cultura. (PÁTEO, 1997, p.7)
 
            Nessa direção, salientamos que Campinas, um pouco antes da chegada oficial do rádio, foi um dos lugares onde as experiências iniciais com a radiodifusão ocorreram. Desenvolvida pelo Padre Roberto Landell de Moura a transmissão pioneira de uma missa de Jundiaí para Campinas em 1893 não foi bem aceita por parte da população:
 
 
 Utilizando uma válvula de três eletródios, o Padre Roberto Landell de Moura transmitiu e recebeu o som pelo espaço (...) o padre desistiu de seus projetos na cidade porque a população de Campinas destruiu sua oficina alegando ser seu trabalho 'coisa do demônio'(CORREIO POPULAR, 21 de setembro de 1996).