Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

grandes divulgadores da cultura urbana e de suas canções(TINHORÃO, 1981).
            Apenas com a difusão da empresa fonográfica é que aumenta a preocupação com as técnicas e a maneira de gravar, o que nos direciona ao rádio, criador dessa demanda numa época em que a televisão ainda não existia. Devido à rápida popularidade do veículo no país, sua regulamentação legal se inicia em 1º de março de 1932, com o Decreto 20.047, que previa tratar-se de um “serviço de interesse nacional com finalidade educativa”. Para que se tenha uma idéia da intensa difusão do rádio, ainda no início dos anos 1930, na cidade de São Paulo, surgem as rádios Record, Tupi, América, Bandeirantes, Cultura, Difusora, São Paulo, Educadora e Cruzeiro do Sul. Tratava-se de um denso circuito para um país que permanecia essencialmente agrário e que, aos poucos, experimentava a chegada de conteúdos modernos ao território.
            Em 1939, a Rádio Educadora de Campinas, que tinha sua maior audiência com os programas que atendiam pedidos musicais (JORNAL DE HOJE, 18 de novembro de 1979), sofre alterações significativas. O momento sinaliza para uma cidade que ganha contornos industriais, com seis mil operários e aproximadamente uma centena de fábricas (CAIADO, 2002). A situação demonstra o adensamento das feições urbanas dos primeiros arrebaldes do “Centro Velho” de Campinas, composto pelos bairros do Guanabara, Vila Nova, Bonfim, Botafogo, Vila Industrial, Cambuí, Taquaral, Guarani e Ponte Preta.
            A nova mancha urbana, agora com um raio aproximado de oito quilômetros, enseja a ampliação da potência da Educadora que passa a transmitir utilizando 500 watts a partir de um estúdio localizado na Rua Francisco Glicério, equipado para as necessidades desse novo momento do circuito de radiodifusão, de acordo com texto da época, capaz de receber os:
 
azes do broadcasting carioca e paulista (...). Colocando-se à altura do desenvolvimento que vem tomando em nosso país a radio-difusão, o seu aparelho transmissor de 500 watts de potência em antena, está montado a três quilômetros e meio da cidade, no bairro da Vila Nova e dotado de todos os requisitos da técnica para obtenção de segurança, precisão e alta qualidade de som. (ALMANAQUE CAMPINAS, 1939).
 
            Na ocasião, esta Rádio recebe orquestras e artistas famosos de todo o Brasil e entra em rede com a Rádio Cruzeiro do Sul4, uma das primeiras do país (DIÁRIO DO POVO, 21


4  Antes da Rede Cruzeiro do Sul havia apenas a rede brasileira de emissoras criada pela Byington & CIA (atual Motorola) nos moldes estadunidenses, a Rede Verde e Amarela. Surgido no final da década de 1930, o empreendimento não vingou devido à baixa qualidade das linhas da companhia telefônica e a negação da concessão de canais de ondas curtas pela comissão técnica do rádio do governo federal (FERRARETO, 2001).