Revista Rua


Radiodifusão, produção fonográfica e espaço urbano: formação e adensamento do fenômeno esquizofônico em Campinas-SP (... 1990)
Radio, music production and urban space: formation and growing of the squizophonic phenomenal in Campinas-SP (... 1990)

Cristiano Nunes Alves

a música do interior paulista, lembra W. Caldas (1995, p.22), implicou num lento processo de adaptação desses sons ao gosto médio. Assim, nas rádios, já na década de 1940, os gêneros dos caipiras do interior como a catira, o cururu e a cana-verde passam a ser veiculados com alterações estéticas em seus componentes formais como harmonia, andamento melódico e a própria tessitura musical.”
            Nesse processo, nos anos 1950, o estilo caipira-comercial se firma primeiro entre os mais pobres e depois sobre as classes médias mais um produto e uma opção musical que se integra a cultura lúdica do paulistano(Ibidem, p.22).
            Para L. A Ferrareto (2001, p.21) foi na Rádio Clube do Brasil, no Rio de Janeiro, que “o rádio começa, de forma embrionária, a compartilhar interesses com a produção de discos e de espetáculos nutrindo o gosto médio. O interesse em diferentes esferas ligadas ao “entretenimento” citadino deixa claro o intuito do circuito em ampliar a sua influência sobre a rede urbana.
            Orientado por este padrão, surge o primeiro programa de músicas montado no país, o “Curiosidades Musicais” da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sob o comando do “Almirante”, o locutor Henrique F. Domingues, que seguia um formato estadunidense. Na época, abrigando uma população de 100 mil habitantes, Campinas é então a quarta cidade da rede urbana paulista, inserida num lugar estratégico para o projeto de industrialização:
 
Campinas fica numa região de concentração de cidades, em torno da grande metrópole paulista, concentração provocada e talvez mesmo exigida pelo processo industrial. Assim, Campinas é hoje um dos mais ativos centros industriais do Brasil(GEIGER, 1963, p.254).
 
            Não por acaso, entre as décadas de 1940 e 1950 instala-se a primeira emissora de TV da cidade: a PRF 3 Tupi-Difusora, e surgem as outras duas emissoras de rádio, a Rádio Brasil e a Rádio Cultura que, junto com a Rádio Educadora (então com sede na Rua Barreto Leme), comporiam o circuito campineiro até a chegada da FM no final da década de 1960.5 Propriedade da família Pedroso e concebida a partir de um serviço de alto falantes na travessa das ruas Barão de Jaguara e César Bierrenbach, em 1948, é fundada a Rádio Brasil, única de ondas curtas na cidade. A emissora inicia os trabalhos na Rua Francisco Glicério, deslocando-se logo em seguida para a Galeria Trabulsi, no centro. Nesse segundo local


5  Destacam-se ainda experiências de emissoras que pouco duraram na cidade. É o caso da Rádio Janela que em 1947 funcionou em frente ao Largo do Rosário (CORREIO POPULAR, 21 de setembro de 1996)