Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

seguinte, o cara mora na favela, acostumado com aquela bagunça, chega na rua eles não... Eles pensam que são mais que a gente. E chega aqui eles vêm que não é nada disso. Eles chegam meio assim, a gente já conhece quem é quem. Aí chama o cara num canto, se você quiser ficar perto da gente tem de ser assim, assim, assado, não aprontar municipal [guarda municipal], não discutir com PM [falando com voz baixa essa parte]. Cê gosta de cheirar? Cê gosta de fumar? Gosta da sua pedrinha? Tu vai lá pro fundo, fica lá e pronto, hora que cê vem, vem de cabeça feita.
A: Cê dá umas dicas.
B: Agora se o cara quer... Eu não vou ficar ensinando ninguém a viver. Não é não senhora, eu vou ficar ensinando, e assim é a vida. A vida é isso aí, a rua é muito boa nossa senhora, tem gente que se arruma, tem gente que fica na rua porque gosta também, tem gente que fica na rua pra arrumar um dinheiro, vê ali na Cinelândia, tenta arrumar um dinheiro e vai embora pra casa. Questão do cara saber se virar.
A: Aqui no Rio, que eu estou estudando, tem muita tradição das pessoas gostarem da rua.
B: Vou falar pra senhora, com a experiência que eu tenho, não é brincadeira não. Se eu chegar numa feira dessa eu não passo apertado. Se eu chegar agora agora, e tiver afim de comer uma mortadela, eu vou ali na rua da Carioca, planto na porta, ‘aí Barba, cumpade, tá na hora, demorou!’. ‘Vai querer as pontas?’, ‘Separa as pontas pra me dar’. Por que? Eu ajudo, eu boto o lixo arrumadinho: 'ó, ali, moçada, não faz bagunça.'
A: Tu conhece todo mundo.
B: É aquele negócio né... Às vezes eu faço um sono aqui, tô duro, não dá pra tomar café, chego ali no Amarelinho, ‘aí moçada, já tomou café?’, ‘não’, ‘guenta aí que a gente vai arrumar um café pra você, um pão com manteiga, vai lá pra trás que os home tão aí na frente’. É assim, eles ajudam a gente. Porque só sabe que eu tenho pra mim, tudo é o comportamento. Não importa que o cara viva na favela, que ele viva na alta sociedade, que ele na alta sociedade, se ele não tiver uma direcional, não é não, não chega a lugar nenhum.