Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

B: Raposão, ele ganhou muito dinheiro com o BNH, todas aquelas portas, foi ele que botou[19]. Conheci o Farias Lima. O seu falecido Ademar de Barros. O Tancredo eu vi ele assim de longe. Por força do trabalho conheci Emilio Garrastazu Médici. Conheci Costa e Silva. Conheci também Humberto Souza e Mello, lá no segundo exército.
A: Você ficou até quando, Barba, no Exército?
B: Fiquei oito anos.
A: É um tempo.
B: Um tempinho. Caminhada boa.
A: Aqui no Rio ou em...
B: Lá em São Paulo, era nato de lá. Me apresentei lá. Tive que ir pra lá. Mas talvez eu não tivesse aprendido tudo que eu aprendi. Fui pra lá. Fui com um dinheirinho bom no bolso, dinheirinho bom, porque eu não gastava, ia no São Carlos, ali perto, nas firmas que eu ia trabalhar tinha almoço e janta, e eu também nunca fui muito da gandaia. Eu ia lá no samba, tomava uma caipirinha, um negocinho, namorava um pouco, pronto. Aí caramba, ia lá pra São Cristovão, tinha lá umas barracas, a gente ajudava lá pra arrumar uns dinheirinho ainda por fora.
A: Você sempre gostou de circular?
B: Ah, o Rio pra quem gosta de, ah, nossa Senhora!...
A: Dos bairros você conhece...
B: É que a senhora não alcançou. Esse 474 aqui era de fichinha, pode perguntar pra quem é antigo, a senhora alcançou?
A: Ah, acho que eu lembro disso.
B: Cada bairro era uma ficha, aí eu ia trabalhar na rua da Lapa 120, era o escritório central da firma, aí como a fábrica, eu ia lá na fábrica, eu conversava com a Feroz. Feroz era a secretária. Botaram apelido, coitadinha, depois eu descobri que ela se chamava Teresinha, era Feroz pra cá, Feroz pra lá.
[Risos]
B: 'Pra onde Feroz?'. 'Vai para o cento e vinte'. Pegamos o 474 pra descer ali no..., minto, pegamos o 471..., 472, não, quando tava mais cedo, não tem a Francisco Sá? Quando eu tava com muita pressa eu pegava o 472 e descia ali no Passeio, do lado de cá. É aquele que vai pro Leme. Aí, a senhora via aqueles cara tocando bandolin de madrugada, tinha o angu do Gomes, quantas e quantas vezes eu não ia comer o angu do Gomes, eu andava dali.
B: São Cristovão[20], [...], a pessoa botava a cadeira assim, do jeito que nós tamos aqui.
A: E já tinha a feira?
B: Tinha a feira de São Cristovão, o problema da feira ali era a violência. Antigamente era mais violento. Um dos fatores que jogou a feira lá pra dentro foi isso, tinha muito roubo, muita violência, era um


[19]  Paulo Maluf, político e empresário paulista, dono da fábrica de laminados Eucatex.
[20]  Antigo bairro imperial, situado na zona norte da cidade, próximo ao centro.