Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

Nato de Santos, veio para o Rio de Janeiro trabalhar na construção do hospital do Fundão[5],pegou obra boa,preso no Fundão, serviu no Exército, morador do Vidigal, na década de noventa, chega ao Museu de Arte Moderna/ MAM e ao Aterro do Flamengo. Há alguns anos não bebe mais, pontuando, no entanto, que ninguém é perfeito também. Ao final da entrevista, me pergunta se eu sou socióloga, conta ter conhecido Florestan Fernandes:homem muito inteligente, conheci quando eu era criança, no quintal da casa dele, em Santos, dava aulas pra moçada, a mulher fazia um lanche pra gente, aprendi muito coisa com ele.


Durante aproximadamente duas horas aconteceu o encontro, gravei boa parte da conversa e, outra parte, sem o aparelho. Escurecia nos jardins do MAM e nos despedimos. Barba recomendava que, para encontrá-lo, bastava ir em direção ao “Spirit”. “Como assim?”. “Ah, é o iate do Eike [Batista], é só me procurar por ali”.
            Na entrevista, aqui editada, vale destacar os deslocamentos realizados por Barba conforme as políticas em funcionamento na cidade, modos de coerção atualizados em sua trajetória e na trajetória dos parceiros das ruas, modos de operar a contrapelo[6], linhas de fuga em relação ao neoliberalismo intensivo (desmonte do trabalho,


[5] Hospital (Universitário) Clementino Fraga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), começou a ser construído nos anos 50 e inaugurado somente em 1978.
[6] “A pergunta que esses personagens estão nos sugerindo é: como escapar da morte matada ou da infelicidade do pobre coitado? É esse o deslocamento que o primado da 'vida nua' parece operar. Mas a vida nua não é o vazio, pois é justamente aí que o jogo da vida está sendo jogado e as tramas do mundo estão sendo tecidas” (TELLES, 2007, p.217). E ainda, na definição de Michel Foucault de resistência, associando a trajetória de Barba: “(...) onde há poder, há resistência (...), esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder. (...). (...) não existe, com respeito ao poder, um lugar de grande Recusa (...). Mas sim, resistências, no plural, que são casos únicos: possíveis, necessárias, improváveis, espontâneas, selvagens (...). (...) os focos de resistência disseminam-se com mais ou menos densidade no tempo e no espaço, às vezes provocando o levante de grupos ou indivíduos de maneira definitiva, inflamando certos pontos do corpo, certos momentos da vida, certos tipos de comportamento” (FOUCAULT, 1985, p.91-92).