Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

A: E você tinha quantos anos?
B: Eu tava com dezessete para dezoito. Eu só fui em São Paulo me alistar para P.E [pelotão do exército], dei a felicidade de participar da P.E. Passei o fim de ano com minha mãe e vim embora. Porque tinha o Copacabana Palace: Festival brasileiro da canção! Ah, quatro mil e duzentos metros quadrados só pra mim, eu nem dormia lá em São Paulo, minha mãe dizia 'Você não dorme?!' - 'Não!'. O dinheiro era assim, eu tirava um daqui, eu tirava, até que eu peguei um ajudante na fábrica ali, um rapazinho caidinho também, ex-presidiário. Ninguém dava chance ao cara, até que ele trabalhava na fábrica 'olha, eu quero o Francisquinho pra trabalhar comigo'. 'Ah, mas por que?'. 'Deixa eu pegar ele aqui'. 'Olha, ele tem o costume de roubar'. 'Não, ué, se acontecer eu boto ele pra fora'.
A: Cê ia ficar de olho nele...
B: Ficar de olho nele. Pagava o salário dele, um salário mínimo e pagava uma comissão pra ele, um real por metro, mas cê tem que trabalhar direito comigo, pra não ter problema. Não é que o cara aprendeu, e se regenerou, e tudo? Graças a Deus.
A: Você gostava dele...
B: Eu gostava dele. Eu tinha um tio que era negócio de presídio lá em São Paulo, ele sempre falava pra mim: 'Sabe o que falta pro presidiário? É chance. Eles não dão.' Chegou mostrando aquela carteirinha, ih.
A: É brabeira.
B: É brabeira. Agora presta atenção, eu dei sorte, tem gente que não dá. Tem que ter uma chance, porque pô, até pro cara ser artista tem que ter uma chance. Não vê o Zeca aí[10], cantou tanto tempo coitado, ralou tanto, agora abriram a porta pra ele. Eu sei que a vida é isso aí. E na pista também. O problema da pista é esse.


[10]    “Zeca” é Zeca Pagodinho, compositor e cantor muito conhecido no Rio de Janeiro.