Revista Rua


Segregação e invenção na cidade: uma entrevista com Barba nos jardins do Museu de Arte Moderna - MAM/ RJ
Segregation and inventiveness in the the city: an interview with Barba at the gardens of The Museum of Modern Art - MAM/ Rio de Janeiro

Adriana Fernandes

B: Sabe como é que é. A senhora não é boba. A vida na rua, o problema da rua é esse. Mas fora disso é bom. Por exemplo, antigamente dava pra cozinhar na rua, hoje já não dá mais.
A: Não, por que?
B: Não dá porque é o seguinte. Antigamente a gente não tinha esse tipo de apoio que tá tendo agora. A sociedade abriu uma janela. E tem pessoas que reclamam.
 
 
A: Cê acha que tem mais ajuda?
B: Mais ajuda. Com certeza. Pra você ter uma idéia. Como não quer nada passa na Presidente Vargas de manhã pra você ver o tanto de quentinha que se joga fora. Passa como não quer nada, como se a senhora fosse pagar um negócio ali. Mas tem que ser cedo. Tipo cinco e meia, seis horas, a senhora vai ver lá.
A: Antes da hora do trabalho.
B: Quentinha, a pessoa come só a mistura e joga fora, e picha ainda. Aí eu falo pros caras, 'pô cara, eu não sou muito dessa quentinha porque eu tenho uma canja no Amarelinho', e eu conheço o falecido. E o filho dele gosta muito de mim, eu sempre dou uma força, não deixo bagunçar, eu pego minha quentinha ali. É difícil eu pegar, mas quando o negócio tá feio a gente tem que pegar qualquer coisa. E como é que meu coração vai pichar alguém que tá fazendo bem para mim? Não é? Não tem como! A pessoa faz o bem e você vai pichar a pessoa! 'É que tá sem sal'. 'Ô, cria vergonha na cara, chega ali no Amarelinho pede o sal que ela não vai negar'. Os caras são tão bons que dão comida pro pessoal de rua.
B: O problema deles é o psicológico. Diz o psiquiatra, quando a pessoa tem problema que não pode resolver, esses problemas caem em cima de outras pessoas. É isso aí o que acontece. Ele não tem com quem desabafar, aí qualquer probleminha que ele vê pronto, é a vítima. Então não pode ser assim. Se a gente sai atirando em todo mundo aí, não vive com ninguém.
A: Mas antigamente você cozinhava na rua?
B: Cozinhava. Aquelas ali [aponta as pilastras do MAM] têm história pra contar. Quando aquele garoto chegou novinho [o garoto vascaíno que um pouco antes cumprimentou Barba].