Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

INTRODUÇÃO
Em meados do século XIX, com o advento da Revolução Industrial, a racionalidade científica e o aprimoramento tecnológico nos sistemas de produção influenciaram decisivamente a forma com que o homem passou a se relacionar com o mundo natural. O papel crescente da ciência e tecnologia na sociedade moderna repercutiu nas relações sociais, políticas, econômicas e culturais, predispondo a sociedade à cultura científica de tal modo que impulsionou o surgimento da ficção científica como gênero literário (CARDOSO, 2006; OLIVEIRA, 2004).
De difícil delimitação conceitual, a ficção científica tem como marco consensual a obra Frankenstein (1817), de Mary Shelley, mas somente começou a se estabelecer como gênero com as obras de Júlio Verne – Viagem ao Centro da Terra (1864) e 20.000 Léguas Submarinas (1870) – e de Herbert George Well – A Máquina do Tempo (1895), O Homem Invisível (1897) e A Guerra dos Mundos (1898). (PIASSI, 2007) 
A popularização da ficção científica veio mais tarde, entre 1940 e 1960, com a publicação de obras voltadas para o público adolescente, como os contos de Hugo Gernsback, Joseph Campbell, Isaac Asimov e Arthur Clarke (Ibidem, 2007). A partir daí, a ficção científica se difundiu para as demais formas de expressão além da narrativa literária, como o cinema, a televisão, as histórias em quadrinhos, os jogos de computador e outras mídias (CARDOSO, op.cit. ; OLIVEIRA, op.cit.).
               O diálogo entre ciência e arte que propõe a ficção científica desmistifica o dualismo entre cultura científica e humanística[1] (SNOW, 1959), mostrando que é possível retratar assuntos científicos de forma artística para despertar o interesse da população sobre ciência. Tal debate não deve ser encarado apenas sob a esfera conceitual-fenomenológica, que trata da divulgação de conceitos, leis e fenômenos


[1] A divisão entre as duas culturas é um fenômeno recente, do início do século XIX, que Snow explica como resultante de uma separação social entre os “intelectuais literários” e os “cientistas”. Em seu discurso, As duas culturas e a revolução científica, o autor declara que: “Estive muitas vezes presente em encontros de pessoas que, pelas normas da cultura tradicional, são vistas como muito cultas e que têm especial prazer em expressar a sua incredulidade face à ignorância literária dos cientistas. Já tenho sido provocado e pergunto então se são capazes de descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta é fria e também negativa. No entanto, estou a formular uma pergunta que é como que o equivalente científico de: Já leu alguma obra de Shakespeare?”. Portanto, para Snow, se os cientistas não são considerados intelectuais por desconhecerem a arte e a literatura, os literários também o deveriam, pois desconhecem a ciência. Apenas a integração entre as duas culturas, movimento que vem sendo chamado de A Terceira Cultura, traria o verdadeiro avanço do conhecimento.