Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

destino da humanidade e a responsabilidade do homem pela situação de nosso planeta, como mostra a passagem a seguir:
Como é que vamos poder simplesmente ir embora da Terra deixando tudo isso para trás, sem mover uma palha para ajudar essa gente toda? [...] Enquanto toda aquela miséria era apenas uma imagem distante no monitor do monastério do Tibete, essa idéia podia até fazer algum sentido. Mas agora era muito diferente: tudo tinha ficado real demais. Mira começava a achar meio egoísta aquela história de simplesmente fugir para um outro planeta, como se fosse a única saída. E, de uma hora para a outra, passava a ter uma séria dúvida: embarcar na nave Yan rumo a Épsilon Eridane H, ignorando a sorte de todos os outros habitantes da Terra, seria mesmo a melhor opção? Então, (e mesmo sem entender bem por quê), de repente se pegou pensando fixamente em reuniões secretas, em viagens no tempo e no mistério dos buracos de minhoca (Ibidem, p.72-73)
 
               E assim, enquanto todos os outros jovens apenas estudam os buracos de minhoca pela simples aquisição de conhecimento, Mira começa a deslumbrar uma aplicação prática para eles que pode colocar o projeto Arca de Noé em risco. Tais idéias se intensificam no decorrer da narrativa, especialmente depois que Mira conhece sua mãe, uma mulher que abandonou tudo para ser médica em uma cidadezinha no meio da savana amazônica. Até que, mesmo sabendo dos riscos, Mira propõe utilizar os buracos de minhoca para voltar no tempo e mudar o destino da Terra, convencendo os demais jovens da razão pela qual deveriam trair os planos de Sr. Cheng:
[...] não poderiam partir simplesmente assim, sem fazer nada para ajudar a quem ficava. A possibilidade de sobrevivência do planeta inteiro estava nas mãos deles, e se havia uma chance, por pequena que fosse, ela deveria ser tentada (Ibidem, p.137).
 
               O conflito central entre Mira e Sr. Cheng situa-se sob o pólo material-econômico, o que pode ser percebido a partir dos argumentos levantados por cada personagem quanto ao modo como a ciência e a tecnologia devem ser usadas para selar o destino da humanidade e da Terra: devemos abandonar a Terra e colonizar outro planeta (Sr. Cheng) ou devemos voltar no tempo e tentar salvar a Terra (Mira)?
            Para mapear os principais aspectos do conflito, foi elaborado um diagrama com base em Piassi (2007) (Figura 2). Na coluna central, é feita a descrição do ambiente, do elemento central, do fato central e da disputa que se dá em torno deste. Nas colunas laterais, são colocados os lados da disputa, dados pelos personagens, assim como os argumentos e procedimentos adotados por cada um deles.