Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

em que a ciência faz dos termos apresentados, como sob a repercussão narrativa, ou seja, do nível de relação entre os elementos e o enredo (PIASSI, 2007). A riqueza dos elementos também é delimitada pela análise de sua consistência lógico-causal, que é dada pelas explicações apresentadas para o artefato.
            A dinâmica na qual estão inseridos os elementos contrafactuais é estruturada em função das expectativas que temos em relação à ciência, o que Piassi (Ibidem) denomina de pólos temáticos. A postura de entusiasmo, otimismo e confiança em relação à ciência e tecnologia representa o pólo dos anseios, enquanto o pessimismo e a desconfiança formam o pólo dos receios. A ciência também pode ser encarada como a busca pelo conhecimento puro, que é dado pelo pólo existencial-filosófico, ou como a solução dos problemas humanos, que é dado pelo pólo material-econômico (Figura 1).
Figura 1: Os quatro pólos temáticos de Piassi (2007) sob o qual se estruturam os elementos contrafactuais da ficção científica.
           
O DISCURSO DE OPERAÇÃO BURACO DE MINHOCA
            Avaliando a temática central de Operação Buraco de Minhoca, percebe-se que a narrativa é essencialmente metatópica[5], uma vez que o colapso da civilização é


[5] A ficção científica pode ser observada sob quatro possibilidades: alotopia, utopia, ucronia e metatopia (ECO, 1989). Na alotopia, o enredo é construído a partir de um ambiente próprio em que não há interesse quanto às suas relações com o mundo real. Este seria o caso de Avatar (2009), em que podemos observar leis e fenômenos próprios do planeta Pandora que não são verificados na Terra, como a forma de conexão entre o povo nativo Na’vi e a natureza. Na utopia, o enredo projeta uma sociedade ideal que pode ser concebida dentro de nosso próprio mundo, mediante algumas modificações. Trata-se apenas de um lugar não-definido, como a ilha do hospital psiquiátrico Aschecliffe em Shutter Island (2009). Já a ucronia é o que sustenta a ficção científica soft ao criar cenários alternativos, como em The Man in the High Castle (1962), que coloca a Alemanha, Itália e o Japão como vencedores da Segunda Guerra Mundial ao invés dos países aliados. Contudo, o sentido mais característico da ficção científica seria aquele encontrado na metatopia, que mostra uma situação futura imaginada a partir das tendências verificadas no mundo real, como em The Day After Tomorrow (2004), que retrata também os efeitos catastróficos do aquecimento global na Terra.