Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

projetado, sob a ótica das ciências naturais, a partir das alterações ambientais que estão ocorrendo atualmente em nosso planeta. O aquecimento global é apontado como a principal causa da destruição da Terra no século XXII, como relatam os personagens Thuban e Chara:
Já faz quase dois séculos, dois mil e cinqüenta cientistas, reunidos no então chamado Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, concluíram que isso [aquecimento global] se devia em grande parte à ação do homem [...] Mas nada, ou muito pouco, foi feito desde essa época para resolver o problema. Muita gente nem acreditou nas previsões. Assim, as emissões de gases do efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono, não foram reduzidas o suficiente para frear o processo (BERGALLO, 2008, p.21).
 
            ATerra no séc. XXII é, portanto, o elemento contrafactual central de grande cientificidade e repercussão narrativa (veja Tabela), pois é de sua condição decadente que surge a necessidade de se tomar alguma atitude para evitar a extinção da humanidade. As catástrofes ambientais relatadas no enredo são extrapoladas a partir do discurso do IPCC, que defende a tese de que o aquecimento global é resultante da emissão de gases do efeito estufa por atividades humanas.
            Dentre as consequências do aquecimento global, as mais citadas são aquelas relacionadas com o derretimento das geleiras:
A falta de água potável torna tudo mais dramático – prosseguiu Chara. – E o desaparecimento aqui do Himalaia, e também dos Andes e dos Alpes, contribuiu para essa situação. Não há água para alimentar os rios, e os poucos que restam estão poluídos por esgoto e lixo (Ibidem, p.22).
 
[...] o Rio de Janeiro tinha sido uma das cidades mais prejudicadas pela gradativa elevação do nível do mar, e áreas inteiras, antes habitadas, agora eram inundadas e difíceis de atravessar (Ibidem, p.56).