Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

O discurso ambiental presente em Operação Buraco de Minhoca destaca, então, um momento histórico em que se intensifica o questionamento do homem quanto à sua relação com a natureza, colocando em xeque o modelo de desenvolvimento econômico que não respeite as taxas de renovação dos recursos naturais. Os efeitos de sentidos gerados pelo enredo estão relacionados, portanto, a essa responsabilidade do homem pela situação do planeta Terra.
            Contudo, a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável depende de uma mudança de postura à qual a sociedade contemporânea ainda é resistente, o que abre espaço para as controvérsias acerca das previsões catastróficas do IPCC ou de quem deveria arcar com essas demandas, como mostram os trechos a seguir:
O país [China] crescia freneticamente, o governo estimulava as iniciativas que trouxessem resultados econômicos importantes [...] Os países ricos achavam que os pobres também tinham que fazer sacrifícios; os países pobres achavam que já tinham sido sacrificados o suficiente, e ambos preferiam considerar que as previsões catastróficas eram exageradas (Ibidem, p.18)
 
É incrível – reafirmou o cientista. – Mas tem gente que ache que o desenvolvimento econômico tem que estar acima de tudo. Como se fosse possível ignorar as consequências [...] E tem até quem prefira não acreditar nas previsões catastróficas, e que garanta que tudo não passa de uma fantasia ou exagero (Ibidem, p.164-165).
 
            Na tentativa de evitar a extinção da humanidade, o chinês Sr. Cheng-Gong e sua esposa Sra. Zhu criam o projeto Arca de Noé, que tem como objetivo a colonização de um planeta com condições similares à Terra, o planeta Épsilon Eridani H. Distante a dez anos luz da Terra, a viagem espacial só é possível à bordo da nave Yan, a única capaz de atingir a velocidade da luz.
            O planeta Épsilon Eridane H constitui-se como outro elemento contrafactual importante, pois é sob ele que se projeta o desfecho alotópico para a humanidade em Operação Buraco de Minhoca, na qual os fenômenos, leis e regras do futuro planeta a ser colonizado certamente serão diferentes daqueles verificados na Terra. Fantasiado a partir da estrela Épsilon Eridane[5], o planeta Épsilon Eridane H supostamente exibe condições que possibilitem a colonização pelo homem:


[5] Épsilon Eridane é a estrela mais próxima da Terra e por isso mesmo é muito comum aparecer nos enredos de ficção científica, como na série Star Trek (anos 1960).