Revista Rua


Ficção científica e o discurso ambiental da ciência contemporânea: um exemplo com Operação Buraco de Minhoca
Science fiction and the environmental speech of contemporary science: an example with Operação Buraco de Minhoca

Daniela Ludviger Ingui

Este é o sistema solar do Rio Eridano – revelou o Sr. Cheng-Gong. – Pois Bem. Recentes descobertas dos astrônomos indicam que um dos planetas desse sistema estrelar, e que orbitam em torno da jovem estrela Épsilon Eridane, pode oferecer boas condições para a vida humana. Trata-se do Épsilon Eridane H, o planeta mais próximo da Terra em que a vida humana é possível (Ibidem, p.24).
 
Os outros planetas do sistema, que são gasosos e não podem abrigar vida (muito menos vida humana), vão continuar com seus nomes, ou melhor, letras. Épsilon Eridane B, C, D, F e G... (Ibidem, p.09).
 
            A existência de um planeta com condições similares a Terra é especulada a partir do discurso atual dos astrônomos, que estão em constante busca por exoplanetas rochosos, com tamanho similar ao terrestre e a uma distância de suas estrelas que permita a existência de água líquida e de temperaturas adequadas à vida como se conhece em nosso planeta. Contudo, o exoplaneta mais parecido com a Terra de que se tem conhecimento é o Gliese 581e, descoberto em abril de 2009, mas que se encontra fora da zona considerada habitável.
            Mesmo que não haja evidências de um planeta com essas condições ao redor da estrela Épsilon Eridane ou de qualquer outra estrela, as explicações presentes no enredo remetem ao funcionamento da astronomia, gerando efeitos de sentidos relacionados às expectativas que se tem da ciência por conhecimento e/ou soluções aos problemas humanos.
            O projeto Arca de Noé se encerraria com a viagem interplanetária a bordo da Nave Yan até o planeta Épsilon Eridane H, mas é justamente a tecnologia da nave que abre a possibilidade para outro desfecho à história: A Operação Buraco de Minhoca. Atingir a velocidade da luz significa poder voltar ao tempo através dos buracos de minhoca e mudar o destino da Terra, o que coloca a narrativa sob a perspectiva ucrônica de uma sociedade preocupada com o ambiente.
            Embora a nave Yan seja fundamental no enredo, pois é justamente sua capacidade de atingir a velocidade da luz que permite a realização tanto do projeto Arca de Noé como da Operação Buraco de Minhoca, ela carece de explicações científicas sobre seu funcionamento. Sobre o veículo espacial, o Sr. Cheng se resume a dizer que:
Investi todo o meu dinheiro nas pesquisas. Contratei os engenheiros e cientistas mais renomados e competentes. Dediquei os melhores anos da minha vida. A querida Zhu esteve sempre ao meu lado, me ajudando o tempo todo. E conseguimos! (Ibidem, p.25).