Luz, câmera e rebeldia: O punk, a música e o estilo como expressão insurgente em Cruella


resumo resumo

Juliana Avila Pereira



Introdução

O Punk Rock foi um movimento contestatório, majoritariamente jovem, de caráter político, artístico e cultural/contracultural. Surgiu como um fenômeno marginal e sintomático da crise econômica inglesa, funcionando como forma de exteriorização da raiva proletária por meio de criação artística e musical. Suas principais características envolvem composições rápidas e ruidosas, com letras de cunho anarquista, revolucionário e crítico à sociedade "moralizada". O movimento se posicionava contra o rock progressivo, buscando romper com sua complexidade técnica e estética.

Estética2 punk, neste artigo, refere-se ao conjunto de códigos visuais, sonoros e comportamentais que caracterizaram o movimento punk desde sua origem na década de 1970. No campo visual, inclui roupas rasgadas, jaquetas de couro com tachinhas, cabelos coloridos ou moicanos, uso de correntes, alfinetes, maquiagem pesada e referências explícitas a símbolos de contracultura. No campo sonoro, manifesta-se em músicas de ritmo rápido, agressivo e cru, com guitarras distorcidas e vocais diretos, frequentemente carregados de críticas sociais e políticas. No campo comportamental, traduz-se em atitudes de confronto, ironia e recusa às normas estabelecidas, defendendo o faça-você-mesmo (DIY) como ética de criação artística. Assim, a estética punk não é apenas uma escolha de estilo, mas um modo de expressar rebeldia, insatisfação e ruptura com convenções culturais dominantes.

Embora tenha emergido nos Estados Unidos como oposição ao pacifismo do movimento hippie3, foi na Inglaterra que o punk encontrou seu terreno mais fértil. Inicialmente restrito a cenas locais, espalhou-se rapidamente pelas ruas de Londres, atraindo jovens desiludidos com o sistema. A rápida adesão explica o número expressivo de bandas inglesas desse estilo.

O boom da revolução punk rock londrina foi recentemente representado nas telas de cinema como plano de fundo do filme Cruella (2021). Utilizando vários elementos do punk, este filme conta a origem de uma das mais emblemáticas vilãs dos estúdios cinematográficos The Disney Pictures, conferindo uma nova perspectiva à personagem. Contextualizado nas décadas de 1970 e 1980, período marcado pela efervescência criativa e pela manifestação da fúria proletária por meio da música e da moda, o filme está repleto de referências visuais e sonoras ao punk e pós-punk, compondo uma atmosfera caótica e intensa, reforçada por uma trilha sonora coesa com o recorte temporal.

Não é possível abordar o punk inglês sem considerar seu corpo político transgressor, pois “viver consiste em reduzir continuamente o mundo ao seu corpo, a partir do simbólico que ele encarna” (Le Breton, 2011, p. 7). Nesse sentido, o punk não se limitou a um estilo musical e visual, mas configurou-se como fenômeno social de impacto global. Ele foi um dos expoentes da década de 1970, engajando inúmeros contingentes jovens neste novo movimento que se fazia cada vez mais presente em distintos países.

Na Inglaterra, principal expoente do movimento punk no mundo, este movimento contracultural surgiu enquanto um efeito sintomático da crise socioeconômica e políticas liberais que acometiam principalmente as classes subalternas do país. Os protagonistas deste movimento foram os jovens, principalmente os filhos da classe trabalhadora que sofriam as consequências das escolhas políticas-econômicas e estavam cada vez mais insatisfeitos com aquele cenário. Desse modo, uma realidade em que a escassez de emprego era recorrente e o acesso à educação formal era destinado às classes privilegiadas da sociedade convergiu em um sentimento de revolta em grande parte da juventude do país britânico (Friedlander, 2002), culminando em uma explosão de rebeldia, agressividade e violência em forma de música e arte.

Flertando com o anarquismo e o niilismo, o punk afirmou-se como contracultura urbana que desejava romper com o passado e com as convenções dominantes. Para César Augusto Melão (2010):

 

O discurso punk é uma resposta à organização social. No seu discurso, o punk exterioriza a desordem. Esta encontra-se em relação polêmica com a ordem constituída pelas convenções sociais perpetuadas ao longo de gerações. Trata-se de uma visão de mundo. de uma determinada classe, que é universalizada como sendo uma verdade. A sociedade então se organiza com base nessa visão. O movimento punk mostra-se contra essa organização, respondendo às vezes até violentamente a esse estimulo da sociedade (Melão, 2010, p.92).

 

Um movimento predominantemente jovem que intentou romper com o mainstream e tudo o que tinha sido construído no mundo da música até então – salvo algumas exceções que deram as bases para este movimento. A estética visual também foi elemento central dessa rebelião. Os punks dialogavam com as massas subalternas por meio de uma linguagem direta e uma sonoridade simples, em oposição ao tecnicismo do rock progressivo. Assim, eles se firmaram como a crítica da crítica

Para David Le Breton (2011, p. 8): “Cada sociedade, no interior de sua visão de mundo, delineia um saber singular sobre o corpo: seus elementos constitutivos, suas performances, suas correspondências etc. Ela lhe confere sentido e valor. Deste modo, pode-se afirmar que um dos modos pelo qual o punk atacou a sociedade foi através de uma ressignificação do corpo como veículo de contestação, rompendo com padrões corporais dominantes. Conforme o historiador e compositor Tom Manoff: “Um dos mais importantes e antigos elementos da música em todo mundo é a mensagem direta através do corpo” (Manoff apud Friedlander, 2002, p. 392). Assim, o corpo assume função revolucionária no punk rock.

Para esta análise, adotamos como fundamento teórico-metodológico as perspectivas de Claudia Gorbman (1988) e Michel Chion (2019). De Gorbman (1988), tomamos a noção de música como "narradora implícita", que guia a interpretação do espectador. De Chion (2019), utilizamos o conceito de escuta empática4, pelo qual a trilha sonora se alinha e amplifica o estado emocional e psicológico dos personagens. Nosso método consiste em uma análise qualitativa de cenas-chave, examinando como as canções selecionadas – em sua materialidade sonora5 (ritmo, timbre, volume) e conteúdo lírico – atuam ativamente na narrativa, seja para antecipar viradas dramáticas, constituir a subjetividade da protagonista ou criar camadas de significado e contradição. O foco reside, portanto, na relação entre música e visualidade como códigos semióticos interdependentes na construção da persona insurgente de Cruella.

O que podemos observar nos jovens que compuseram o movimento punk rock é uma intenção de exteriorizar para a sociedade de forma artística – tanto visual quanto musical – sua insatisfação perante um contexto opressivo no qual não enxergavam um futuro. Deste modo, através de suas roupas de impacto visual que desafiam convenções para a sociedade padronizada, tal sentimento era expresso de forma direta e impactante. Este artigo analisa como o filme Cruella mobiliza os elementos do punk rock para construir a narrativa e a estética de sua protagonista. Investigamos como as escolhas musicais – que incluem clássicos do gênero e da época – e o visual provocador da personagem evocam a rebeldia e a atitude características do movimento. A partir dessas análises, discutimos como o longa reinterpreta o punk rock no contexto contemporâneo e contribui para sua representação cultural no audiovisual.

 

Ruído rebelde: a trilha sonora deCruellacomo meio de expressão

A trilha sonora em Cruella não atua como simples pano de fundo, mas sim como dispositivo narrativo central, participando ativamente da construção de sentido fílmico. Como uma narradora implícita (Gorbman, 1988), a música não traduz, mas constrói o tom emocional da cena, forjando a subjetividade e acentuando os conflitos internos da protagonista. Cada faixa escolhida traduz não apenas o tom emocional da cena em que está inserida, mas também reforça a subjetividade e os conflitos internos da protagonista. Trata-se, portanto, de uma trilha sonora funcional, cuja seleção não é aleatória, mas cuidadosamente articulada à jornada de transformação da personagem.

Do ponto de vista teórico-metodológico, partimos da perspectiva de que a música no cinema possui uma função narrativa ativa. Segundo Claudia Gorbman em Unheard Melodies: Narrative Film Music (1988), a trilha sonora pode agir como narradora implícita, guiando a interpretação do espectador por meio de princípios como a continuidade, a ênfase emocional e a construção de identidade. Já Michel Chion em Audio-Vision: Sound on Screen (2019) propõe o conceito de "escuta empática", em que a música se alinha ao estado emocional dos personagens, funcionando como extensão sensível daquilo que não é verbalizado.

Nesse contexto, a música em Cruella intensifica as marcas de rebeldia, ironia e ousadia que caracterizam a protagonista, utilizando-se de faixas clássicas do punk e do rock alternativo britânico como catalisadores expressivos. Ao enfatizar sensações, sublinhar conflitos e antecipar rupturas, a trilha sonora contribui ativamente para a narrativa, evocando o espírito insurgente do movimento punk não só pela letra das canções, mas também pela sua materialidade sonora: volume, ritmo, textura e timbre.

Para criar uma atmosfera caótica, tumultuosa e de máxima intensidade no filme Cruella, de 2021 – condizente com a jornada da protagonista – foi reconstruída uma Londres inundada de referências ao estilo punk, com um cenário tão conturbado e agressivo que foi capturado pelas lentes e utilizado como suporte para a ascensão da persona Cruella. Segundo Ali James, gerente de locação do filme, esta foi uma produção grande, pois “temos muitas locações para um filme. Tivemos 45 locações diferentes e filmamos nelas por quase 40 dias6”. Na mesma linha, Alice Felton, cenógrafa, destaca que para o filme foram 96 sets oficiais decorados, sendo um número inédito maior que a normalidade. Emma Stone, nossa Cruella e também diretora-executiva, afirmou em entrevista que esta grandiosidade da produção chamou sua atenção, pois, nas palavras da atriz: “A escala deste filme é maior do que eu estou acostumada. E é incrível olhar ao redor e ver enormes sets, e as locações fantásticas7” (Stone In Cruella's World, 2021)8.

A escolha de gravar em Londres rendeu inúmeras possibilidades para esta produção, desde castelos, casas no estilo georgiano, belos edifícios e ruelas periféricas. A cidade se mostrou muito versátil e totalmente diferente, “por exemplo, da loja vintage em Notting Hill (estrada Portobello), que é mais ousada, e por isso essa cena é lá, aqui ela encontra sua raiz punk que depois exploramos9” (James in Cruella's World, 2021). Este é um bairro situado a oeste de Londres, que tem como tradição a Portobello Road Market – uma feira de sábado famosa pelo comércio de roupas de segunda mão e antiguidades –, local onde Cruella se encontra com a moda das ruas e ressalta sua veia punk. Fiona Crombie, diretora de arte, falou em entrevista que embora tivesse pouco tempo para decorar Portobello Road, apenas um dia e meio, o resultado foi uma transfiguração de um cenário contemporâneo para uma rua da década de 1970, para isso “Mudamos toldos e sinalização, transformamos cafés em lojas de ferragens. Todas as coisas mudaram10” (Crombie in Cruella's World, 2021).

Outro ponto que denuncia a correlação com o movimento punk é o álbum de trilha sonora do filme. Este é composto por 33 faixas e mistura diferentes gêneros populares das décadas de 1960 a 1980 na Inglaterra em sua composição. Com o propósito de representar a essência, espírito e cultura da época, houve a seleção de algumas das músicas mais populares da década, como, por exemplo: Time of the Season do The Zombies, These Boots Are Made for Walkin' de Nancy Sinatra, Stone Cold Crazy interpretada pela banda Queen, entre outras. As músicas desempenham um papel crucial neste filme, pois muitas delas constituem a personalidade insana e rebelde de Cruella De Vil. Canções icônicas como One Way or Another da banda new wave Blondie e Should I Stay or Should I Go do The Clash evidenciam para o público a determinação e o espírito ousado da personagem principal. Além disso, a música original de Florence + The Machine, Call Me Cruella, enfatiza a conexão emocional da música com o protagonista do filme. Portanto, as músicas desempenham um papel basilar no filme de 2021. Elas auxiliam na criação de uma atmosfera estonteante e emocional, bem como auxiliam a desenvolver ainda mais a história e a caracterização dos personagens.

Para este artigo, nós escolhemos algumas que consideramos mais emblemáticas por estarem presentes em sequências basilares para serem analisadas mais profundamente no texto. As músicas escolhidas são: These Boots Are Made for Walkin (Nancy Sinatra, 1966), Feeling Good (Nina Simone, 1965), One Way Or Another (Blondie, 1978), I Wanna Be Your Dog (John McCrea, 2021) e Call Me Cruella (Florence + The Machine, 2021).

Uma das primeiras músicas reproduzidas no filme em um momento de suma importância é These Boots Are Made For Walking (1966) da cantora estadunidense Nancy Sinatra. A letra fala de uma mulher que está cansada do relacionamento com seu namorado devido às mentiras e joguinhos dele, assim, se liberta e segue em frente, assumindo o controle de sua vida. Esta música é um clássico dos anos 1960 e expressa o desejo de independência e rebeldia das mulheres da época.

O título da música alega que botas são feitas para caminhar, contudo, em um sentido figurado, elas também representam a independência, força e confiança. Deste modo, esta canção fala de determinação, emancipação e está alinhada às demandas de igualdade de gênero do movimento feminista da época, a música “É o hino do poder feminino. É a música que diz: ‘Não apenas triunfarei sobre você, mas também ficarei bem ao fazê-lo’. É uma música sobre moda e não dá a mínima” (Uitti, 2022).

Em Cruella (2021), a música é reproduzida na sequência em que Estella trabalha na Liberty Of London há algum tempo e é constantemente humilhada por seu chefe. Após um diálogo dos dois em que ele é bastante rude e esnoba o talento da protagonista, enfatizando que seu emprego é apenas como uma mera faxineira para limpar seu lixo, Estella é tomada por uma intensa indignação, sentimento que estava reprimido em seu peito desde que começou a trabalhar lá, então ela rouba uma garrafa de destilado e a bebe completamente, embriagando-se dentro da loja na mesma noite. Caminhando lentamente pela loja com a garrafa na mão e cantarolando These Boots Are Made for Walking (1966), a protagonista vira-se para a esquerda, espia pela porta de acesso à vitrine da Liberty e caminha até o local. Discordando totalmente da estética, Estella decide refazer toda a vitrine ao seu estilo, transformando este espaço em uma obra de arte punk, usando tinta spray e redecorando as roupas em um padrão não tradicional, bem como destacando as frases “Should be fun!” (deve ser divertido!) e "Why it's a modern piece" (Por que é uma peça moderna). A vitrine da Liberty é um símbolo da moda tradicional e conservadora, que Estella quer desafiar com seu estilo ousado e inovador. Deste modo, a música simboliza e acompanha um processo de libertação que Estella está vivenciando:

 

These boots are made for walkin'

And that's just what they'll do

One of these days, these boots are gonna walk all over you

Are you ready, boots?

Start walking11 (Nancy Sinatra, 1966).

 

Neste contexto, a música orquestra a cena e catalisa a transformação da personagem, fornecendo o ritmo e a atitude para que Estella decida se libertar dos abusos de seu chefe. A escuta empática (Chion, 2019) aqui se manifesta, pois a música não descreve, mas encarna a fúria contida e a determinação que irrompem na protagonista. O consumo de álcool está associado, muitas vezes, a uma perda de uma postura mais rígida, isto é, uma quebra de suas próprias barreiras internas. Deste modo, Estella usa a bebida enquanto uma ponte que a retira de sua fuga de realidade, libertando a persona que tenta constantemente domar. These Boots Are Made For Walking evidencia a rebeldia, determinação e atitude da identidade Cruella, assim, expressa tanto o empoderamento, quanto a independência desta personalidade. Assim, quando cantado o verso: “Are you ready, boots? Start walkin’” (Você está pronta, botas? Comecem a andar!) ressoa com a libertação e transformação de Estella em Cruella. Ademais, a música também faz uma referência divertida a Estella, que usa botas pretas como uniforme de trabalho. Portanto, longe de apenas descrever Estella, a música opera como o gatilho que liberta e performatiza a persona Cruella, sinalizando para a audiência o surgimento de uma nova força narrativa.

Outro momento de fundamental importância na trajetória de Cruella é sua contratação como estilista na Casa Baronesa, o epicentro da moda londrina comandado pelo maior nome da indústria. Estella foi quem foi contratada por Baronesa para trabalhar na marca e, na primeira vez que a jovem esteve no ateliê, ficou deslumbrada. Sua reação é acompanhada pela música Feeling Good (1965) interpretada por Nina Simone. Esta canção expressa o sentimento de felicidade, renovação e um novo começo esperançoso, segundo David Chael, “’Feeling Good’ foi escrita para expressar um tipo particular de euforia: aquela que vem com a libertação da opressão” (Chael, 2020).

A letra de Feeling Good é particularmente repleta de otimismo, esperança e uma sensação de renovação. É a descrição da liberdade de ter um novo começo com uma perspectiva positiva sobre o futuro. A repetição da frase "feeling good" enfatiza a emoção de se sentir bem consigo mesmo e com a vida. Muitos dos versos utilizam metáforas naturais, como o peixe no mar e o rio correndo livre, para discorrer figurativamente sobre uma sensação de liberdade e harmonia com o ambiente. Essa associação da natureza com a sensação de renovação contribui para a mensagem otimista da música:

 

Fish in the sea, you know how I feel

River running free, you know how I feel

Blossom on the tree, you know how I feel

It's a new dawn

It's a new day

It's a new life

For me

And I'm feeling good12 (Nina Simone, 1965).

 

Neste prisma, usar Feeling Good como trilha sonora para o momento em que Estella entra no ateliê da Casa Baronesa é uma simbologia. A música serve como exteriorização de seus sentimentos mais genuínos de felicidade por começar a trilhar um caminho que culminará, ela acredita, em seu sonho. Ao adentrar o mundo da alta costura, Estella está iniciando uma jornada de autodescoberta e, também, autoafirmação no mundo e tudo que sente é um intenso sentimento de esperança e empoderamento, o que combina com a música escolhida.

A letra de Feeling Good fala sobre um novo amanhecer em uma vida nova, um novo capítulo que se inicia. Isso é tanto um sentimento e crença de Estella naquele momento, quanto um prelúdio para a transformação iminente da personagem principal que ocorre justamente por este evento. A música, portanto, não apenas constrói o estado de espírito da personagem neste momento específico, mas também anuncia que uma grande mudança está para acontecer, antecipando a virada sombria da narrativa.

Uma parte fundamental do filme de 2021 é a vingança da protagonista contra Baronesa, assim como parte desta trama, Cruella planeja e executa diferentes invasões aos eventos de moda da Baronesa com intuito de ofuscá-la e a humilhar em seu próprio mundo. Para combinar com estas ações, a música que acompanha toda sequência é One Way Or Another (1978), da banda New Wave Blondie. Esta música é um clássico do rock dos anos 1970 e fala sobre uma intensa perseguição, contando a narrativa de uma mulher obcecada por um homem que ela deseja perseguir e conquistar por todos os meios necessários. Conforme a letra:

 

One way or another, I'm gonna find ya

I'm gonna getcha, getcha, getcha, getcha

One way or another, I'm gonna win ya

I'm gonna getcha, getcha, getcha, getcha13 (Blondie, 1978).

 

Deste modo, a música pode ser compreendida como um reflexo da personalidade de Estella/Cruella. A narrativa da canção, com sua obsessão e determinação, dá voz e intensifica o íntimo ousado, vingativo e ambicioso da personagem, assim, evidenciando que ela é alguém que está disposta a ir a extremos para alcançar seus objetivos no mundo da moda e de sua vingança. Tal qual a mulher descrita na letra da música, Cruella está mais do que disposta a fazer o que for necessário para ganhar de sua rival, não se importando com as consequências de suas ações, pois ela crê fielmente que sua vingança é um ato de justiça necessária. Essa música personifica o próprio conflito central. Seu ritmo acelerado e pulsante impulsiona visualmente a sequência de perseguição, criando um contraste sonoro agressivo com a solenidade do desfile da Baronesa. Essa justaposição sonora, segundo Chion (2019), gera uma relação de conflito entre a imagem e o som, acentuando a invasão promovida por Cruella e a ruptura que ela causa naquele mundo ordenado.

Neste prisma, a música atua como anúncio das atitudes vingativas de Cruella, pois ambas expressam a determinação e obsessão da personagem, custe o que custar. Os versos da música que afirmam “Eu vou te pegar/ De um jeito ou de outro, eu vou ganhar de você” (tradução nossa) performativizam a atitude da protagonista em relação à Baronesa, sua antagonista e mentora. Ela é determinada, não se intimida com possíveis retaliações e ameaças da rival, sempre alternando entre Estella e Cruella para sabotar o evento da mesma. Ademais, a letra também se alinha com os temas macros do live-action de competição, desafio e a busca pelo reconhecimento dentro da indústria da moda.

A música também tem um ritmo animado e eletrizante, contrastando com o clima sério e sofisticado do desfile da Baronesa. Esse contraste ecoa uma atmosfera que eleva a intensidade de toda sequência, pois enquanto o evento promovido por Baronesa mostra-se algo sóbrio, contínuo e contido, com ela sendo o destaque, Cruella emerge e a ofusca em um ritmo acelerado, tal qual a música de 1978. Esse ritmo acelerado e pulsante combina com o estilo e a própria personalidade da protagonista, que é ousada, rebelde e criativa.

One Way Or Another é uma música que emergiu no cenário britânico como parte da contracultura, sendo uma expressão artística contestatória, assim como Cruella no live-action. A protagonista, quando assume sua personalidade bicolor, evoca uma subversão às normas e convenções sociais, bem como estilísticas, contrastando com os modelos e criando sua própria marca/identidade registrada. Portanto, esta música ilustra a motivação e as emoções de Cruella no filme, destacando os aspectos da personalidade da protagonista que é uma personagem determinada, obcecada e vingativa, mas também criativa, ousada e rebelde.

O ápice de afrontamento de Cruella é quando esta sabota o mais importante evento de moda da Baronesa, o desfile de sua coleção de primavera. Nesse momento, além de ofuscar sua antagonista, ela também revela a sua identidade, deixando nítido que a doce Estella é, na verdade, Cruella. Para efetivamente deixar sua marca no mundo da moda, Cruella lança sua coleção de primavera em praça pública no grande estilo punk, com roupas que fogem ao padrão estético hegemônico de Baronesa e também um show ao vivo de Artie com a música I Wanna Be Your Dog14 da banda The Stooges (1969) – interpretada no filme por John McCrea, o próprio ator. Essa música é um clássico do punk rock, que expressa o desejo de liberdade e rebeldia dos jovens da época.

Neste horizonte, a música encena e exacerba a personalidade transgressora e ousada da protagonista. A letra da música expressa, ironicamente, um desejo obsessivo e masoquista de se submeter a outrem e assim ser tratado tal qual “um cachorro”. Esta canção tem um ritmo acelerado, uma guitarra distorcida e uma voz enraivecida, o que é característico das bandas punks, o que transpassa uma sensação de urgência, de violência e, também, desespero. Neste sentido, o título da música em si sugere uma submissão, mas a intensidade dela sugere uma submissão revolucionária, desafiando convenções e expectativas.

 

So messed up, I want you here

In my room, I want you here

Now we're gonna be face-to-face

And I'll lay right down in my favorite place

And now I wanna be your dog

Now I wanna be your dog

Now I wanna be your dog

Well, come on15 (John McCrea, 2021).

 

A ideia de ser "o cachorro" pode ser compreendida como uma metáfora para a subversão das normas e a rejeição da conformidade. Deste modo, a música é um indicativo da personalidade de Cruella enquanto uma rebelde frente às normas sociais, morais e da indústria da moda. Assim, é evidenciado em forma de musicalidade (combinada às atitudes da mesma) que seus atos são premeditados para se libertar dos grilhões da sociedade e da lei, como forma de soltar sua persona impulsiva, provocativa, selvagem e destrutiva.

Essa música destaca-se na narrativa, pois revela a ambiguidade da personalidade Estella/Cruella. Ao mesmo tempo que Estella era a jovem aspirante ao mundo da moda, mentorada e submissa à Baronesa, tal qual um cachorrinho, ela é Cruella, a pessoa que desafia, provoca e está tentando superá-la (e destruí-la), isto é, a dona do cachorro. A música, portanto, tensiona a complexidade e a ambiguidade da personagem. A materialidade sonora crua e agressiva coloca em cheque a suposta submissão sugerida pela letra, criando uma contradição que é o cerne da persona de Cruella: a subversão através da aparente rendição. Essa camada de meaning é construída pela trilha.

A música também faz uma referência irônica ao fato de Cruella ser conhecida por sua obsessão por cães, especialmente os dálmatas. I Wanna Be Your Dog denuncia o instinto obsessivo de Cruella por concluir sua vingança contra Baronesa. Neste prisma, paradoxalmente à música, Cruella quer submeter, humilhar e dominar sua rival, invertendo a lógica canina. A música é uma sátira, uma provocação e um ato de ofensa, mostrando que para Cruella não existem limites nesta disputa.

Dito isso, a letra da canção, conjuntamente com as ações de Cruella durante o desfile, transpassa uma abordagem de conquista através da rebelião. Cruella, portanto, está desafiando as expectativas e convenções sociais, não apenas na moda, mas também na maneira como ela se apresenta ao mundo.

Por fim, inspirados pela música Cruella Cruel de 1961, a canção original Call Me Cruella foi composta por Nicholas Britell em parceria com a cantora inglesa Florence Welch, sendo gravada pela própria e sua banda (Florence + The Machine). Esta é a música tema do longa e é reproduzida no final, durante a exposição dos créditos do filme. A letra da música expressa o caráter rebelde, criativo e caótico de Cruella de Vil, uma vilã que aceita seu lado mais insano sem se importar com o que os outros pensam dela.

Call Me Cruella é uma encapsulação da personalidade da personagem Cruella de Vil em forma musical e pode oferecer insights sobre a profundidade emocional e psicológica da mesma, bem como sua jornada ao longo do filme.

 

Cruella de Vil, Cruella de Vil

She's born to be bad, so run for the hills

Cruella de Vil, Cruella de Vil

The fear on your face, it gives me a thrill

[...]

Original, criminal, dressed to kill

Just call me Cruella de Vil

Call me crazy, call me insane

But you're stuck in the past

And I'm ahead of the game16 (Florence + The Machine, 2021).

 

A letra da música expressa uma autoconsciência e aceitação da natureza vil da personagem. Cruella se autodefine como uma mulher malvada, sugerindo uma disposição de abraçar sua natureza sem remorsos. Neste sentido, a repetição de seu nome na letra destaca a sua disposição para ser reconhecida por quem ela é, uma pessoa única no mundo, ela executa a função de um epílogo musical que fecha o arco temático. Ela não apenas se aceita, mas também demanda ser chamada pelo nome que incorpora sua persona mais ousada. Deste modo:

 

 

A life lived in penance,

it just seems a waste

And the devil has much better taste

And I tried to be sweet, I tried to be kind

But I feel much better now that I'm out of my mind

Now there's always a line at the gates of Hell

But I go right to the front

'cause I dress this well

Rip it up, leave it all in tatters

Beauty is the only thing that matters

The fabric of your little world is torn

Embrace the darkness and be reborn (Florence + The Machine, 2021).

 

Neste sentido, a canção coroa e consuma o processo subjetivo da protagonista. Ela funge como epílogo musical que sintetiza sua jornada de autoaceitação, validando sua escolha pela identidade Cruella. Assim, a música tema sela a identidade narrativa da personagem para o espectador (Gorbman, 1988). Isso é consistente com a representação da personagem no filme, em que ela liberta sua persona rebelde e, gradativamente, assume este manto sem se esconder ou se justificar, abraçando sua individualidade – por mais ambígua que seja. Ademais, ao afirmar que “Beauty is the only thing that matters, The fabric of your little world is torn” denuncia sua atração pela extravagância, pelo perigo, e talvez até pela autodestruição. Assim, Cruella é delineada como sendo atraída por ambientes e situações que podem ser considerados de alto risco e é esse perigo que a motiva.

A menção de que Cruella abraça seu lado mais insano sem se preocupar com o julgamento dos outros destaca sua autoaceitação e a recusa em ser modelada pelas convenções sociais. Isso é conivente com a narrativa do live-action, em que a protagonista aceita esta natureza única, mesmo que isso a coloque em desacordo com a sociedade. Deste modo, portanto, a letra enuncia o caráter rebelde, criativo e caótico de Cruella de Vil, esta personagem que é ousada e disruptiva na indústria da moda, desafiando normas e expectativas.

A escolha de reproduzir ao fim do longa, durante a exposição dos créditos, reforça e ratifica tematicamente o arco de transformação da personagem ao longo do filme. A música, neste contexto, surge similarmente a um epílogo em forma sonora, destacando as emoções e jornada da personagem. Neste prisma, a música serve como uma expressão sonora de sua autoconfiança e atitude desafiadora, pois Cruella não apenas aceita sua vilania, mas a abraça como uma força, independência e empoderamento.

A trilha sonora, guiada pelos princípios teóricos aqui discutidos, desempenha um papel ativo e constitutivo em Cruella. Ela supera o papel de mero acompanhamento para se tornar um eixo narrativo central, articulando a transformação da personagem e estruturando o ritmo da história. Cada faixa escolhida enfatiza os diferentes momentos e realça as nuances dos personagens. Ela está presente em cada momento do longa, desde emocionantes sequências de ação até momentos mais introspectivos. A trilha sonora é um eficiente mecanismo na narrativa que auxilia na construção da atmosfera, influi na experiência, bem como plasma emoções no público espectador. Além disso, a seleção musical eclética, abrangendo diferentes gêneros e décadas, demonstra a diversidade temática do filme e contribui para a riqueza visual e auditiva da produção. Mais do que potencializar a narrativa, a música se confunde com a expressão artística da própria protagonista, sendo sua principal ferramenta de rebeldia e autoafirmação. Através da trilha, a jornada de Cruella é não apenas contada, mas visceralmente experienciada pelo público.

 

Estilo e subversão: a estética punk emCruella

Se a trilha sonora, como analisado, atua como o motor auditivo da rebeldia de Cruella, conduzindo a narrativa e forjando sua subjetividade, é na superfície visual do filme que essa insurgência encontra sua expressão corporal e tátil. A moda, portanto, não é um palco meramente passivo, mas o campo de batalha material onde a guerra dialética entre Estella e Cruella – e entre a tradição e a subversão – é travada. O universo punk rock, que fornece a trilha sonora para a transformação da personagem, também empresta os códigos visuais que ela irá corromper e reapropriar para construir sua persona. Deste modo, a análise da estética visual complementa e amplifica a função narrativa já desempenhada pela música, formando um todo semiótico coerente.

O “visual punk” foi um dos signos mais emblemáticos deste movimento, tendo em vista que a individualidade e o afrontamento à sociedade padronizada eram sua intenção. Deste modo, com cabelos coloridos, arrepiados, moicanos, jaquetas de couro, piercings, roupas rasgadas, correntes, insígnias, coleiras de cachorro, entre outros elementos que compunham a sua diversidade visual, eles pretendiam causar um choque visual. Estas roupas eram minuciosamente escolhidas com a intenção de provocar sentimento de revolta ao serem enxergadas, pois atentavam contra a sociedade denominada de “moral e bons costumes”, lhe imputando um ar rebelde e afrontoso. Assim, “a intenção do movimento punk era romper com o cotidiano da ordem estabelecida numa tentativa de expor a natureza opressiva da sociedade” (Friedlander, 2002, p. 363).

Enquanto trabalha para Baronesa em sua marca, Estella está confinada a um estilo de criação mais tradicional, sofisticado e elegante. Porém, este não é seu verdadeiro estilo de criação artística. Em um ambiente underground inspirado na década de 1970, Estella percorre a rua Portobello Road e se depara com a intrigante vitrine da loja 2ª Rodada, destacando um manequim vestindo um elegante vestido vermelho – design inspirado na obra Tree Dress, de Charles James, segundo a figurinista do filme (Seth, 2021). Ao entrar na loja, Estella enfoca um homem alto com cabelos platinados que logo se apresenta como “Artie ou Art, de obra de arte” (Gillespie, 2021, min34s54). Arite é um vendedor de roupas vintage e um artista distinto. Seu estilo visual é extravagante, marcado por elementos rebeldes derivados do glam rock e punk, ambos estilos se encaixam perfeitamente no cenário do filme (cf. figura 1). Ele é cativante, utiliza roupas coloridas, ousadas, que misturam diferentes padrões e texturas de uma maneira singular. Além das roupas, Artie também utiliza maquiagem e acessórios chamativos e não convencionais em seu estilo. Esse visual é uma representação imagética de sua personalidade criativa, rebelde e destemida, que condiz com o mundo da moda e o estilo punk na história.

 

Figura 1 -Artie

Fonte: Disneyplus.com. Acessado 23 de julho de 2025.

 

Artie não é apenas um aliado visual para Cruella, ele é sua contraparte sonora e estética. Assim como a trilha sonora articula a rebeldia interna da protagonista, o estilo de Artie oferece um espelho e uma validação externa para suas expressões de identidade. A amizade deles é cementada por uma sintonia criativa que é tanto visual quanto musical. A construção estética deste personagem inspira-se em nomes como David Bowie, Barbara Hulanicki e os Blitz Kids, sendo uma representação do glam rock, contracultura e o visual andrógeno no rock. John McCrea, ator que dá vida a esta figura, afirma sobre que ele “é muito glam visualmente. Para ele, é um estilo de vida. Tem a mesma filosofia que a Cruella, ser rebelde no visual e na apresentação ao mundo ou ter de se enquadrar no status quo” (McCrea, 2021). Carregando traços instigantes, autênticos e glamurosos como David Bowie, Artie se encaixa no filme e é mais uma das múltiplas referências e representações do punk revisitadas na atualidade pelo filme de 2021. Com cabelos loiros bagunçados, uma maquiagem ousada, unhas pintadas e trajes extravagantes e cheios de cores vibrantes, ele encapsula o espírito do glam rock. Sua aura carismática harmoniza-se de maneira notável com o cantor em que o personagem é inspirado. O ator que interpreta Artie, John McCrea, compartilhou em uma entrevista que a influência de Bowie foi profundamente enraizada, não apenas para dar vida ao personagem, mas também para moldar sua jornada pessoal. Carregando traços instigantes, autênticos e glamurosos como David Bowie, Artie se encaixa no filme como um aliado de Cruella.

Neste sentido, Estella fica encantada com o estilo de Artie, que mistura peças de diferentes épocas e culturas, e com a sua personalidade carismática e irreverente. Eles identificam-se mútua e facilmente criam uma conexão de amizade. A amizade dos dois é calcada no amor compartilhado pelo mundo da moda, já que ambos conhecem muito bem este universo, bem como suas personas rebeldes e anseios de desafiar as convenções sociais, cristalizam esta relação que é expressa logo no primeiro diálogo:

 

Estella: Uau! Que look incrível!

Artie: Eu escuto isso o dia todo, então acho que é verdade.

Estella: E qual é a reação nas ruas?

Artie: Alguns abusos e insultos, é claro. Mas gosto de dizer que o “normal” é o insulto cruel e infame. E isso, nunca escutei.

Estella: Eu concordo demais. [...] Você e eu seremos bons amigos, Artie. (Gillespie, 2021, min35s31).

 

O personagem de Artie é construído como um homem original, divertido e ousado, que não tem medo de ser quem é publicamente. Ele pertence ao seu próprio mundo e expressa sua arte e personalidade independentemente de regras e convenções. Ele representa uma inspiração e influência na vida de Estella como Cruella. A visita à loja de Artie representa um ponto de ruptura para Estella entre esta identidade mais neutra e sua persona ousada e irreverente (Cruella). Isso porque o seu personagem representa uma inspiração e influência na vida de Estella como Cruella, já que ela vê em Artie tudo aquilo que não é convencional e, ao mesmo tempo, criativo, tal qual ela mesma, sendo esta amizade mais um apoio para a solidificação da sua personalidade bicolor.

“A carreira artística permitiu a muitas mulheres alguma independência financeira, desde o início dos tempos” (p. 248), afirmou Nádia Senna em seu estudo sobre as heroínas das HQ’s em 1999. Foi através da linguagem artística (pintura, literatura, música, teatro, dança e moda) que inúmeras mulheres conseguiram alguma forma de emancipação, tendo em vista a impossibilidade do trabalho formal para as mulheres brancas até o século XX. Segundo a autora, o mundo da moda e das artes é frequentemente representado nas mídias, não apenas pelo glamour em torno destas profissões, mas também pela independência que proporcionam: múltiplas viagens para shows, exposições e sessões de fotos que possibilitam uma maior liberdade. Neste sentido, o mundo da moda tornou-se um meio de as mulheres ascenderem economicamente, como Coco Chanel. Baronesa se estabeleceu com uma grife própria. Por sua vez, como Vivienne Westwood, Cruella questiona as bases da moda clássica. Duas mulheres que conquistaram independência financeira e renome através da moda, assim, “o trabalho é fonte de prazer, de poder e de prestígio social, a realização profissional produz benefícios em outros setores da vida” (Senna, 1999, p. 253). Ainda segundo Nádia Senna,

 

O período conhecido como Belle Époque (aproximadamente, de 1890 até o princípio da 1ª GG) marcou a história pela ostentação e frivolidade da alta sociedade europeia. A vida girava em torno das festas, bailes, chás, temporadas no campo ou em balneários; isto, é claro, demandava a confecção de um imenso guarda-roupa, com todas as vestes apropriadas para cada ocasião. [...] Todo o glamour da época refletia-se principalmente na moda feminina. Mesmo os trajes mais simples próprios para práticas esportivas, como o ciclismo, golfe, montaria, e para dirigir automóveis, não abriam mão dos enfeites em renda, fitas de cetim, e de uma série de acessórios específicos, como chapéus, lenços, sombrinhas, luvas, sapatos ou botas (Senna, 1999, p.258).

 

Em entrevista ao documentário Outfit Cruella (2021), Emma Thompson comenta sobre sua personagem: “A Baronesa é alguém que nunca usaria roupa de ginástica. A aparência é tudo. Não há mais nada. É a máscara impiedosa da alta-costura17” (Beavan in Cruella Outfit, 2021). Baronesa Von Hellman é a representação da moda da virada do século XX. Seu visual representa um estilo de vida da elite, em que a extravagância e a riqueza de detalhes – seda, cetim, tule, rendas e bordados – evidenciam seu extrato econômico, pois se vestir de tal forma demanda dinheiro e tempo. É uma forma de exteriorizar seu nível social (cf. figura 1).

 

Figura 2 – Baronesa Von Hellman

Fonte: Disneyplus.com. Acessado 23 de julho de 2025.

 

Por sua vez, Cruella é a moda punk. A estilista Vivienne Westwood foi de suma importância para a concepção do que hoje chamamos de visual punk. Ela e seu então marido, o empresário Malcolm McLaren (empresário da banda Sex Pistols, um dos maiores nomes do punk), fundaram no início dos anos 1970 a loja de roupas Let It Rock, que vendia artigos referentes à moda rock n’ roll da década de 1950. Posteriormente, a loja alterou seu nome para Too Fast To Live, Too Young To Die, passando a vender as primeiras criações de Westwood, roupas ousadas e com estampas de caráter pornográfico. Porém, por alguns problemas internos, a loja precisou trocar novamente de nome, passando então a ser conhecida como butique de roupas SEX, uma loja cujo intuito era expor roupas e fazer moda inspirada nas mais variadas influências das ruas, das tribos suburbanas e periferias inglesas. Autenticidade, ousadia e criatividade são adjetivos que definem as criações de Vivienne. Sem dúvidas, os figurinos traçados por ela foram fundamentais para a propagação e personalidade do que hoje conhecemos do movimento punk.

A personagem Cruella assume múltiplas citações à estilista Vivienne Westwood, como já dito pela figurinista do filme, Jenny Beavan, em Cruella Outfit. O estilo de roupa punk, ou também chamado de chic trash18, invadiu as passarelas de moda através de Westwood, sendo considerada um grande nome no mundo da moda. Na mesma linha, é através de Cruella que este estilo vai invadir a cena da alta costura londrina e colocar a nossa protagonista em alta posição neste disputado mundo de tecidos e tesouras (cf. figura 3). Assim como Vivienne Westwood revolucionou a moda na vida real, Cruella segue seu caminho no filme e o revoluciona com igualdade.

 

Figura 3 –CruellaDe Vil

Fonte: Disneyplus.com. Acessado 23 de julho de 2025.

 

A figurista ganhadora do Óscar, Jenny Beavan, explica como compreendeu Cruella e assim modelou um grande guarda-roupa que combinou com a personalidade indomável da personagem. Para ela, Cruella é muito visual, seu cabelo bicolor, a maquiagem chamativa e roupas extravagantes combinam com seu estilo ambicioso, assim, ela é uma personagem dinâmica e icônica. Beavan conta que, para conceber o visual da protagonista, primeiro precisou ler o roteiro para entender de onde a personagem vem, sua origem, pois, segundo ela, não são apenas roupas, é o modo como estas são usadas e assim contam uma história. Deste modo, nas palavras da estilista, Cruella:

 

Era uma base maravilhosa para se construir uma personagem, ela encontra estes pedaços e os uni ecleticamente. Ela faz todo tipo de coisas como grafittis por dentro do blazer, que ela depois usa ao contrário, decora-o de forma inapropriada e inicia a cena punk19 (Beavan in Cruella Outfit, 2021).

 

A protagonista respira os ares caóticos londrinos e exterioriza seu veio punk desde jovem. Contudo, após os trágicos eventos em sua vida, ela precisou esconder este seu lado por uma suposta culpa associada a esta personalidade que carregou calada. A transição entre Estella e Cruella é primordialmente uma mudança de figurino, uma performance de identidade. A "máscara" de Estella (roupas sóbrias, cabelo liso) não é menos performática que a de Cruella (cabelo bicolor, couro e spikes). O filme sugere que ambas são construções, uma para aplacar a sociedade, a outra para chocá-la e dominá-la. A moda, assim, desestabiliza a noção de um "eu" autêntico, propondo que a identidade é uma série de atos estratégicos. A complexidade da personagem reside justamente na tensão entre essas duas performances, nenhuma das quais pode ser tomada como sua verdade essencial, mas sim como ferramentas de sobrevivência e poder em contextos diferentes.

Mesmo como Estella, seu talento nato para a moda é evidente e ela o utiliza para sobreviver no cotidiano das ruas de Londres com seus dois amigos. Craig Gillespie, diretor do filme, afirmou em entrevista que “No início, a Estella é obcecada pela moda e pelo ambiente que gerou a criatividade e o movimento punk. Muito do que ela faz é usar combinações de coisas e ser inventiva. Ela treinou-se fora do sistema” (Gillespie, 2021). Jenny Beavan afirmou que conseguiu, de certa forma, enxergar a si e sua carreira na personagem, como uma jovem aspirante à moda sem medo de ousar, em suas palavras: “Temos a sensação de que ela teria ido a lojas vintage e a Brick Lane20 quando era um mercado de roupa usada. Todos os locais a que eu ia21” (Beavan in Cruella Outfit, 2021).

No outro espectro, Baronesa Von Hellman mergulha no oceano da moda sofisticada das décadas de 1950 e 1960, o clássico e a referência à alta costura são traços preponderantes em sua postura. Tal visual possui evidentes inspirações nos looks da Dior, Vogue e Balanciaga, remetendo à sofisticação e intransigência da personagem e sua posição de monarca da alta-costura inglesa. Segundo Jenny Beavan:

 

A Baronesa, acho que não tive dúvidas. Muito escultural, influência de Dior, com um toque antiquado do pós anos 60. Sempre visualizei tafetás grossos. Quase mantêm a forma, cetins duquesa antigos, belas sedas grossas. Quanto às cores, tive a sensação de que seriam castanho e dourado. A maioria de nós mantém-se fiel a uma cor22 (Beavan in Cruella Outfit, 2021).

 

Deste modo, esse filme contou com um enorme número de figurinos produzidos por Jenny Beavan e sua equipe. Ao todo, foram criados 277 modelos para toda a produção. Desde o número, quase um terço foi usado somente pelas duas protagonistas, assim, ao olharmos a este detalhe, estamos falando de quantidades consideravelmente altas em Hollywood. Sobre isso, Jenny Beavan (2021) discorre: “Creio que a quantidade de visuais que fizemos para a Emma Stone é superior a tudo o que já tinha feito. Acho que ela tinha 47 visuais e contámo-los no final. E a Baronesa da Emma Thompson tinha 31 ou 3223”.

A moda em Cruella é menos uma expressão de autenticidade e mais uma arma de guerra dialética. Cruella não cria sua estética a partir do zero, ela se apropria e corrompe os materiais e símbolos da própria Baronesa (a alta-costura) para derrotá-la em seu próprio campo. Seu visual punk não é puramente rebelde, é também uma estratégia calculada e, ironicamente, uma forma de genialidade comercial. Esta contradição – entre a ética DIY punk e a lógica da competição capitalista – complica a rebeldia da personagem. A moda, portanto, não representa apenas sua identidade, mas revela a ambiguidade de sua insurgência: ela luta contra o sistema usando as próprias ferramentas e lógicas desse sistema, questionando se é possível ser truly24 rebelde dentro de uma estrutura de poder.

Portanto, a temática central do filme Cruella é um combate entre dois opostos pelo topo no mundo da moda. Assim, os muitos figurinos são orquestrados, de ambos os lados, como armas de combate nesta guerra territorial. A protagonista utiliza a moda punk com a mesma precisão estratégica com que emprega a trilha sonora – ambas são armas escolhidas a dedo para sua investida contra o establishment da Baronesa. Se a música provoca e antecipa suas ações, a moda as materializa de forma chocante e inescapável. Com desobediência, autenticidade, inovação e muita rebeldia, Cruella se posiciona como a vanguarda da moda, inspirada por nomes como Vivienne Westwood, grande influência da moda punk da década de 1970 e responsável por levar o visual contracultural ao mundo da moda, John Galliano e Alexander McQueen, a anti-heroína revoluciona no mundo da moda por uma criatividade esfuziante. O preto e branco, a maquiagem forte, o vermelho, o couro e espinhos, as peles de animais, estilos da contracultura e das ruas. Os materiais considerados como detritos para a moda clássica são utilizados nos figurinos montados por Cruella, como forma de exteriorizar sua raiva através da moda performática.

 

Conclusão

À luz do exposto, o presente estudo buscou demonstrar como o movimento punk rock transformou a sociedade inglesa da década de 1970, deixando marcas históricas que ecoam até o presente. Um movimento jovem e periférico, sintomático de uma forte crise econômica, que levou uma juventude desiludida a exteriorizar sua raiva através de uma criação artística que pretendia romper com o rock progressivo e a mercantilização da cultura.

A estética punk rock em Cruella é representada com destaque tanto na trilha sonora quanto nos figurinos, criando uma atmosfera que ecoa a natureza rebelde e destrutiva do movimento. No entanto, conforme fundamentado pela perspectiva teórica de Claudia Gorbman (1988) e Michel Chion (2019), a trilha sonora no filme transcende a função de simples ambientação ou reflexo. Ela atua ativamente como um motor narrativo, um elemento constitutivo da semiótica audiovisual. Através dos conceitos de "narradora implícita" (Gorbman, 1988) e "escuta empática" (Chion, 2019), a música é instrumentalizada para construir a subjetividade da protagonista, antecipar transformações dramáticas e acentuar conflitos. Cada faixa selecionada – desde o empoderamento irônico de "These Boots Are Made for Walkin'" até a declaração de princípios de "Call Me Cruella" – não ilustra, mas propulsiona a narrativa, moldando ativamente a percepção do espectador sobre a jornada de Estella para se tornar Cruella.

Paralelamente, o figurino reforça visualmente essa insurgência punk, materializando no corpo da personagem a rebeldia que a trilha sonora performatiza em nível auditivo. Este casamento entre música e moda não só define a identidade visual do filme, mas também homenageia e reinterpreta o espírito rebelde do punk rock, posicionando Cruella como uma representação contemporânea deste movimento cultural.

Portanto, é notório como a música, longe de ser um mero pano de fundo, atuou como um elemento basilar de expressão e transformação social no punk inglês. O filme Cruella apresenta a história de origem de uma de suas vilãs mais emblemáticas, contextualizando-a neste universo caótico. Ao fazê-lo, a produção não apenas representa um momento histórico londrino de cinco décadas atrás, mas demonstra, através de uma narrativa audiovisual consciente, como os códigos punk – sonoros e visuais – continuam a ser potentes ferramentas para narrar histórias de rebeldia, transformação e autoconstrução, reverberando com força no imaginário contemporâneo. A trilha, assim, confirma-se como a verdadeira arquiteta do ambiente sonoro e emocional que permite que essa transformação seja não apenas vista, mas visceralmente sentida.

 

Referências:

CAIAFA, Janice. Movimento Punk na cidade: a invasão dos bandos sub. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

CHAEL, David. Feeling Good — Nina Simone’s anthem of liberation. Financial Times. 3 de fevereiro de 2020. Disponível em: <https://ig.ft.com/life-of-a-song/feeling-good.html>. Acessado em 14 de dezembro de 2023.

CHION, Michel. Audio-Vision: Sound on Screen. Tradução Claudia Gorbman. – 2 ed. New York: Columbia University Press, 2019.

CRUELLA. Direção Craig Gillespie. Produção Andrew Gunn, Kristin Burr, Marc Platt. Estados Unidos: Walt Disney Studios. 2021. 136 min.

CRUELLA’S WORLD. [Mini-documentário]. [S.I.]: Disney, 2021. Extra do filme Cruella disponível em Disney+. Acessado em dezembro de 2023.

FRIEDLANDER, Paul. Rock and roll: uma história social. Tradução de A. Costa. – Rio de Janeiro: Record, 2002.

GORBMAN, Claudia. Unheard Melodies: Narrative Film Music. 1 ed. Indiana: Indiana University Press, 1988.

LE BRETON, David. Antropologia do corpo e modernidade. Tradução de Fábio dos Santos Creder Lopes. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

MELÃO, César Augusto. O discurso da rebeldia: uma análise de um texto punk. Estudos Semióticos. V. 6. No 1. P. 86-93, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es>. Acessado em 2 de maio de 2022.

OUTFIT CRUELLA [Mini-documentário]. [S.I.]: Disney, 2021. Extra do filme Cruella disponível em Disney+. Acessado em dezembro de 2023.

SENNA, Nádia da Cruz. Deusas de Papel - A trajetória feminina na HQ do ocidente. 1999. 328 f. Dissertação (Mestrado em Multimeios) – Instituto de Artes, Departamento de Multimeios, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1999.

SETH, Radhika. A costume designer do filme Cruella fala sobre como transformou Emma Stone numa vilã terrível. Vogue. 3 de maio de 2021. Disponível em: < https://www.vogue.pt/jenny-beavan-revela-os-looks-mais-iconicos-do-filme-cruella>. Acessado em 20 de julho de 2025.

UITTI, Jacob. Behind the History and Meaning of “These Boots Are Made for Walkin’” by Nancy Sinatra. American Song Writer. 12 de agosto de 2022. Disponível em: <https://americansongwriter.com/behind-the-history-and-meaning-of-these-boots-are-made-for-walkin-by-nancy-sinatra/>. Acessado em 14 de dezembro de 2023.

 

 

Data de Recebimento: 30/09/2024

Data de Aprovação: 24/08/2025

 

 

 



2  Neste artigo, o termo “estética punk” opera em um sentido ampliado, para além da noção de “beleza” ou “estilo”. Refere-se ao sistema de signos sensíveis (visuais, sonoros, comportamentais) que constituem a linguagem do movimento punk, carregados de valor simbólico e político de contestação. Abrange, portanto, a música ruidosa, a moda agressiva, a atitude DIY (faça-você-mesmo) e a performatividade da rebeldia.

3  O punk assumiu uma postura de rebeldia tanto no seu estilo musical quanto visual, para transparecer sua divergência com o referido movimento.

4  O conceito de escuta empática (em francês, écoute empathique), formulado por Michel Chion, descreve a função da música de cinema que se alinha e amplifica as emoções e estados psicológicos de um personagem, funcionando como uma extensão de sua interioridade, muitas vezes tornando audível o que não é dito.

5  Refere-se às qualidades físicas e sensoriais do som para além de seu conteúdo melódico ou harmônico. Inclui elementos como distorção, volume (amplitude), ritmo, textura e timbre. No contexto punk e na análise do filme, é frequentemente a materialidade agressiva e ruidosa do som, e não apenas a letra, que carrega o significado de rebeldia e confronto.

6  No original: The sheer number of locations, for such a large studio film. We’ve had 45 different locations and I think we shot in a location for nearly 40 days.

7  The scale of this movi eis bigger than a lot of the films that I’m used to. And it’s really incredible to look Around at these like enormous sets, and the locations are just fantastic.

8  Todas as traduções de falas das entrevistas dos documentários Cruella's World e Outfit Cruella são traduções livres feitas pela autora para este artigo, com o objetivo de preservar o sentido original da fala, disponíveis na aba “Extras” da plataforma de streaming Disney+.

9  No original: “For example, to Where whe did our vintage storage which was in Notting Hill (Portobello Road), which is a little bit edgier, whicj is why we put that scene there, because she’s finding her punk roots that whe then later explore.

10  No original: We were changing awnings and signage and turning cafés into hardware stores. Every single Thing got changed.

11  Tradução: Essas botas são feitas para andar/ e isso é o que elas farão/ Um dia desses essas botas andarão por cima de você/ Estão prontas, botas?/ Comecem a andar!.

12  Tradução: Peixe no mar, você sabe como eu me sinto/ Rio correndo livre, você sabe como eu me sinto/ Flores na árvore, você sabe como eu me sinto/ É um novo amanhecer/ É um novo dia/ É uma nova vida para mim/ E estou me sentindo bem.

13  Tradução: De um jeito ou de outro, eu vou te achar/ Vou te pegar, te pegar, te pegar, te pegar/ De um jeito ou de outro, vou ganhar você/ Vou te pegar, te pegar, te pegar, te pegar.

14  A apropriação e inversão de símbolos de humilhação é uma estratégia clássica de movimentos contraculturais. No punk, elementos como alfinetes de segurança, correntes de cachorro e tecidos rasgados – originalmente signos de pobreza, prisão ou marginalidade – são ostentados como insígnias de orgulho e resistência, uma dinâmica que a personagem Cruella encapsula perfeitamente.

15  Tradução: Tão chapada, eu quero você aqui/ No meu quarto, eu quero você aqui/ Agora vamos ficar cara a cara/ E eu vou deitar no meu lugar favorito/ E agora eu quero ser seu cachorro/ Agora eu quero ser seu cachorro/ Agora eu quero ser seu cachorro/ Bem, vamos lá!.

16  Tradução: Cruella de Vil, Cruella de Vil/ Ela nasceu para ser má/ Então, corra para as colinas/ O medo em seu rosto/ Me dá uma emoção/ Original, criminosa, vestida para matar/ Apenas me chame de Cruella de Vil/ Me chame de louca, me chame de insana/ Mas você está preso no passado/ E estou à frente do jogo.

17  No original: “The Baroness is someone who wouldn’t be seen dead in a pair of sweatpants. The outward show is everything. There is nothing else. You know, it’s this ruthless mask of high fashion”.

18  A expressão chic trash (em inglês, literalmente “elegante lixo”) não possui uma tradução direta consagrada em português. Refere-se a uma estética que se apropria de elementos considerados bregas, vulgares ou de mau gosto e os ressignifica em uma chave irônica e fashion, tornando-os desejáveis e transgressive. É um termo chave para entender a estratégia de Vivienne Westwood e, por extensão, da personagem Cruella.

19  No original: “It was a lovely basis, then, to build a character on that she finds these bits and puts them toghether eclectically. She does all shorts os things like graffiti all over the inside her blazer, which she then wears the wrong way out, and decorates it inappropriately, and starts the Whole punk thing.

20  Uma popular rua no East End de Londres, situada no bairro de Tower Hamlets.

21  No original: “You get the sens that she would also have gone to vintage stores and Brick Lane When it was a rag market, you known all of the places I used to go”.

22  No original: “The Baroness, I think I saw very clearly. Thank you all for coming. Very sculptural, Dior influenced, slightly old fashion after these post-‘60s times. I always saw it in these thick taffetas. You know, they almost hold their shape, real old duchess satins, thick beautiful silks. And I just had a sense about the colors that it was going to be brown and gold. Most of us choose a color and stick to it”.

23  No original: “I think the amount of visuals we've done for Emma Stone is superior to anything I've ever done. I think she had 47 visuals and we counted them at the end and Emma Thompson's Baroness was 31 or 32”.

24  Rebeldia autêntica: Uma rebeldia que é genuína, pura, não performática ou comercial.

25  Doutoranda e Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História, PPGH/UFPEL. Graduada em História Licenciatura pela Universidade Federal de Rio Grande, FURG. Membro do Polo Interdisciplinar de Estudos do Medievo e da Antiguidade, POIEMA/UFPel. Coordenadora e educadora de História no Pré-Universitário Popular Quinta Superação, vinculado ao Programa de Auxílio ao Ingresso nos Ensinos Técnicos e Superior, PAIETS/FURG. Email: jul.av49@gmail.com.






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