O chapéu e o resto

“Não basta reconstruir peça por peça a imagem de um acontecimento passado para se obter uma lembrança”. (Halbwachs)
A imagem em epígrafe nos recorda uma anedota que os analistas de discurso conhecem bem. Quem a contou para nós foi Courtine (1999), a partir da obra do escritor Milan Kundera, no texto “O chapéu de Clémentis. Observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político”. Por ele, conhecemos o episódio em que um antigo líder do Partido Comunista da Checoslováquia, Klement Gottwald, discursava para uma multidão da sacada de um palácio em 1948. Em dado momento, quando a neve começou a cair, Clémentis, um de seus camaradas, notou que Gottwald estava com a cabeça descoberta e, em um gesto de gentileza, tirou seu chapéu de pele para dar ao líder comunista. O que restou dali foi uma foto emblemática reproduzida milhares de vezes pelo departamento de propaganda. Da sacada, Gottwald, agora com um chapéu, falava ao povo. O que não se esperava era que, quatro anos mais tarde, Clémentis fosse enforcado, acusado de traição. Apagado da história, Clémentis desapareceu das fotografias como resultado de uma estratégia do departamento de propaganda. Desde então, Gottwald aparece sozinho na sacada. De Clémentis, restou apenas o chapéu na cabeça do líder comunista.
Como ponto de entrada de nossa reflexão, a imagem e a história que a atravessa nos são oportunas para pensar o estatuto da memória, no que diz respeito às tensões e aos processos de anulação e de recalque nos materiais que analisaremos nesse trabalho: a comunicação oficial do Banco do Brasil, entidade relacionada ao pacto de cooperação em prol da igualdade étnico-racial do atual governo federal. Fundamentado no arcabouço teórico-metodológico da Análise de Discurso materialista (Pêcheux, 1999; Orlandi, 1998, 1999), o presente artigo tem como objetivo analisar o modo como se dão as disputas de sentido em torno da participação da instituição bancária na consolidação do regime escravista no Brasil, levando em conta processos de disjunção e descolamento no discurso, este encarado como espaço de memória (Courtine, [1981] 2006). Nesse sentido, defendemos a possibilidade de incluir determinadas performances como mecanismo equívoco de gestão da memória, considerando-as fundamentais nos conflitos voltados à sua regularização. Partimos do princípio de que o material em análise faz circular o que temos chamado de promessa discursiva (Anjos, 2024a; Anjos; Benayon, 2024), funcionamento relacionado a performances de compromisso situadas historicamente, “tomadas de posição equívocas e historicamente determinadas que envolvem os sujeitos em uma rede imaginária de convicções ligadas a relações de contrato e aliança” (Anjos; Benayon, 2024, p. 343).
Nesse contexto, Clémentis e seu chapéu são trazidos para recordar o jogo discursivo que envolve a possibilidade de recalque e de apagamento voluntário de elementos que, ainda assim, à revelia do sujeito, deixam marcas no intradiscurso. Um chapéu que insiste em significar, mesmo na ausência de seu dono, é a ilustração ideal para refletirmos sobre o mecanismo equívoco que vamos estudar nas próximas páginas: uma performance que envolve e embala o sujeito em seu excesso referencial, mexendo com filiações históricas voltadas aos processos de racialização estruturantes do social brasileiro (Modesto, 2021), a partir de um enlace que supõe apagar um passado atravessado por práticas escravistas, mas que hoje se performa como antirracista, deixando escapar o resto, o alhures imprevisto na língua.
Memória discursiva, tensõesesilenciamentos
Em um dos textos que compõe o livro “Papel da memória”, originalmente publicado nas Atas da Mesa Redonda “Linguagem e Sociedade”, realizada na Escola Normal Superior de Paris em abril de 1983, Jean Davallon considera que objetos culturais, como as imagens, seriam operadores de memória social trabalhando para entrecruzar memória coletiva e história. Fundamentado no espaço teórico da semiótica, Davallon (1999) começa sua exposição indicando haver uma certa redução tecnicista na visão segundo a qual os arquivos das mídias são vistos como forma de concentrar, com aparência de naturalidade, a memória social. O que o autor defende como hipótese, no entanto, é que tais objetos culturais “abrem a possibilidade de um controle da memória social; [e] que esse controle está de fato estreitamente ligado ao funcionamento formal e significante desses objetos” (Davallon, 1999, p. 27).
Na mesma obra, Pêcheux salienta a importância de considerar as reflexões como as de Davallon como uma contribuição para o debate em torno do papel da memória, ao fornecer as “condições (mecanismos, processos…) nas quais um acontecimento histórico (um elemento histórico descontínuo e exterior) é suscetível de vir a se inscrever na continuidade interna, no espaço potencial de coerência próprio a uma memória” (Pêcheux, 1999, p. 49-50). Nesse sentido, podemos sustentar que os objetos culturais2 mencionados por Davallon são operadores de memória também por fazer circular discursos em condições próprias, viabilizando a inscrição de “fatos do discurso” (Pêcheux, 1999, p. 51) no espaço da memória discursiva. Esse processo de inscrição do acontecimento no espaço da memória, porém, não ocorre de modo homogêneo, mas a partir de uma tensão contraditória.
É no cerne dessa discussão que situamos as condições de produção do discurso posto em análise. Em 20 de setembro de 2023, quatorze pesquisadores de instituições nacionais e internacionais submeteram uma representação à Procuradoria da República no Rio de Janeiro a fim de demonstrar a necessidade de apuração sobre a responsabilidade de instituições brasileiras envolvidas com a escravização no século XIX, com destaque para o Banco do Brasil, instituição fundada em 1808. Nesse mesmo mês, uma série de notícias a respeito da atuação do banco no tráfico de escravos dominou o debate público. Na ocasião, os principais jornais do país anunciavam uma ação inédita do Ministério Público Federal (MPF) voltada à abertura de um inquérito relacionado à investigação sobre tal envolvimento da instituição. Em uma das reportagens sobre o caso, Clemente Penna, historiador da Universidade Federal de Santa Catarina, um dos que assinam a representação pública, comenta: “A gente não pensa em sistema financeiro e escravidão, isso é uma discussão que é até relativamente recente [...] e é um processo de silenciamento que quase produz uma inércia”3.
A fala de Penna, então, aponta para uma ausência sintomática. Ausência que assume a forma de um silenciamento. A tensão, então, se estabelece quando a pesquisa científica, as notícias a respeito do caso e o debate público reinscrevem um “fato discursivo” que foi “absorvido na memória, como se não tivesse acontecido” (Pêcheux, 1999, p. 50), uma sutura na memória que deixa resquícios. Como operadores de memória, o conjunto de dizeres materializados nas condições de produção descritas indica um trajeto de memória e de silenciamentos, ou seja, o debate a respeito da relação da instituição financeira com a escravização, que até então parecia ter sido absorvido na memória, é reintegrado a partir de um movimento que atualiza uma série de outros silenciamentos históricos. O trecho a seguir, parte da carta dos pesquisadores, descreve bem tal empreendimento histórico de apagamentos:
A marca da escravidão africana que a todos compromete produziu um amplo silêncio sobre a centralidade de sua presença nas instituições brasileiras. Se, em meados do oitocentos, a produção do silêncio foi obra da elite intelectual brasileira, consubstanciada no próprio Estado-Nação, o calar-se era também obra coletiva, compartilhada por boa parte da sociedade. Silenciava-se porque o comércio de africanos era ilegal desde novembro de 1831. [...] Assim, como quem escolhe que versão acionar ao narrar seu passado, sociedades escravistas modernas escolheram construir narrativas deslocando a escravidão para outro tempo, como herança colonial tardia, símbolo do atraso que pouco tinha a ver com a modernidade que se constituía concomitantemente ao país que se formava. (Nascimento et al., 2023, p. 2)
Nesse trecho, o que os pesquisadores estão destacando é o papel do silêncio na consolidação de uma elite econômica brasileira. Conforme Bento (2022), a elite brasileira preserva privilégios que se constituíram a partir de um empreendimento racista consolidado por um movimento sistemático de negações. Se, por Orlandi (1999), sabemos que a memória é feita de silêncios e silenciamentos, as contribuições dos intelectuais negros nos dão a dimensão histórica de como o silêncio, na forma mais cruel de um fazer calar, é parte integrante do social brasileiro (Gonzales, 1984; Carneiro, 2023), uma forma de, tal qual os discursos que negam o racismo estrutural, tentar reescrever uma memória da colonização e da escravidão (França Cestari, Modesto, 2022). Como um processo histórico de interposição de limites, de acordos e pactos de silêncio, a consolidação do Estado brasileiro toca, necessariamente, na questão do enriquecimento de instituições ligadas à comercialização de negros escravos, como é o caso do centenário Banco do Brasil.
Tal debate reitera a relevância da noção de memória no construto teórico da AD, enfatizando que esta não deve ser concebida como um depositório, “uma esfera plena, cujas bordas seriam transcendentais históricos e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo” (Pêcheux, 1999, p. 56). Ao contrário, as disputas em torno da questão demonstram como tal noção “é necessariamente um espaço móvel de divisões, de disjunções, de deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização” (Pêcheux, 1999, p. 56). É, pois, nesse espaço de tensão operado na dissimulação dos efeitos de racialização (Modesto, 2021) que se dá tal disputa pela interpretação. Em outras palavras, há uma disputa pela validação da narrativa a respeito da participação no sistema escravista de instituições formadas no processo de forja do Estado brasileiro.
Trata-se, então, de disputas que incluem esquecimentos, silenciamentos e, como procuraremos demonstrar, performances encaradas como gestos de interpretação sustentados por enunciadores que assumem a forma de pessoa jurídica. Essas estratégias institucionais – que, para nós, funcionam como tentativas de gestão de memória – assumem no material a forma de performances de compromisso através de um pacto pela igualdade racial, construindo expectativas nos sujeitos. Discutiremos, na próxima seção, as formas de circulação, formulação e constituição desse mecanismo que temos nomeado como promessa discursiva.
O Pacto e seus integrantes
Voltemos, então, a 12 de dezembro de 2023. Em um esforço conjunto, o Ministério da Igualdade Racial (MIR), o Banco do Brasil (BB) e a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) firmaram um pacto de colaboração: o Pacto pela Igualdade Racial. O compromisso, materializado em um documento oficial, exibe um Plano de Ações nacional cuja premissa é a luta pela igualdade, através de “soluções estruturantes e formativas” (Brasil, 2023, p. 5). O Pacto é encerrado com uma “carta compromisso”, documento de referência a ser assinado por representantes empresariais. A articulação das três entidades que assinam o pacto nos chama a atenção, sobretudo, no que diz respeito à presença do Banco do Brasil, cuja atuação esteve, ao longo dos séculos, alinhada aos interesses das elites brasileiras e que, atualmente, ocupa papel de destaque na principal performance de compromisso antirracista do atual governo federal.
Em seu site oficial, na aba “Imprensa”, o Banco do Brasil exibe a matéria intitulada “BB anuncia ações para promover a igualdade étnico-racial e combater o racismo estrutural no país”. Nela, a instituição afirma ter a diversidade como um de seus pilares da seguinte maneira:
A diversidade é parte fundamental na estratégia corporativa do Banco do Brasil, que tem tratado as questões raciais com prioridade. Para Tarciana Medeiros, primeira mulher negra a presidir o Banco do Brasil, “direta ou indiretamente, toda a sociedade brasileira deveria pedir desculpas ao povo negro por algum tipo de participação naquele momento triste da história. Neste contexto, o Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país”, afirma. “O BB não se furta a aprofundar o conhecimento e encarar a real história das versões anteriores da empresa. Mas o simples fato de sermos uma instituição da atualidade nos move a realizar atividades voluntárias com o compromisso público e com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial e buscar por justiça social no âmbito de uma sociedade que guarda sequelas da escravidão, independentemente de existir ou não qualquer conexão, ainda que indireta, entre atividades de suas outras versões e escravizadores do século XIX”, destaca. De acordo com a presidenta do Banco, é necessário que exista um processo de reflexão permanente de toda a sociedade sobre o tema, para que não se reduza o debate sobre potenciais boas práticas que podem ser construídas de forma articulada com diálogo aberto para construção conjunta entre movimentos negros e demais instituições públicas e privadas. “As sequelas da escravatura convocam todos os atores sociais contemporâneos a agir para a promoção da igualdade étnico-racial, a contribuir por meio de ações concretas, como as que o Banco já desenvolve de modo pioneiro, voluntário e destacado. O Banco do Brasil fez, faz a fará muito pela diversidade e desenvolvimento social e econômico em nossa sociedade. Para nós, Raça é prioridade, sim!”, enfatiza Tarciana. (BB, 2023, [on-line], grifo nosso)
Dadas as condições em que é produzido, o material aponta para a afirmação do compromisso antirracista, uma promessa de combate à desigualdade étnico-racial. Em um apelo performativo, ou “efeito performativo” (Zoppi-Fontana, 2023; Anjos, 2019), o BB firma tal compromisso público na tentativa de recalcar sentidos voltados à participação ativa da instituição em um trabalho sistemático de nadificação do sujeito negro (Barros, 2019).
Isso ocorre quando, por uma enunciação autorreferencial, o banco se posiciona comprometendo-se, inclusive, com um pedido de desculpas. De um ponto de vista discursivo, buscamos atravessar a eficácia imaginária dessa performance, voltando a nossa atenção aos saberes relacionados ao ato de fala prometer e pedir desculpas, para, em seguida, investir na desarticulação das condições de felicidade desses performativos, e, assim, indicar como a promessa em análise se inscreve na ordem da história.
Formas de compromisso: perdão e promessa em evidência
Em nossas pesquisas a respeito do funcionamento discursivo de promessas realizadas em condições de produção do Brasil atual (Anjos; Benayon, 2024; Anjos, 2024a, 2024b, 2025), temos nos voltado ao legado dos estudos linguísticos pragmáticos como possibilidade de investigação sobre a promessa, este objeto de estudo que, na década de 1960, ocupou papel central em diferentes reflexões sobre os atos de fala (Hare, 1964; Harrison, 1962; Schneewind, 1966). O retorno à teoria dos atos de fala nos é pertinente para obter algumas pistas do funcionamento equívoco desse compromisso que, em nosso trabalho, não é considerado como objeto dado a priori do processo de análise. Para nós, a promessa é levada em conta a partir de um olhar discursivo que visibilize seu funcionamento político.
Faz-se necessário, então, recordarmos os estudos do filosófo da linguagem Austin (1962), para quem, em dado momento de sua elaboração teórica, o ato de fala poderia ser dividido em três atos acionados na fala de modo simultâneo: um ato produtor de sons e articulador sintático-semântico, ato locucionário; um ato em que está concentrada a força da ação, o ato ilocucionário; e, finalmente, um ato produtor do efeito sobre o interlocutor, perlocucionário (Austin, 1962).
No que diz respeito aos atos de fala ilocucionários, estes poderiam ser classificados em veriditivos, exercitivos, comportamentais, expositivos e comissivos. De acordo com o filósofo de Oxford, os atos de fala veriditivos seriam os atos de fala constituídos como exercícios de julgamento, por exemplo, condenar ou absolver. Quanto aos exercitivos, diz-se daqueles voltados ao exercício de poderes, direitos ou influências, como designar, votar, ordenar etc. Os comissivos, por sua vez, seriam constituídos de uma ação futura e os expositivos constituem uma afirmação, uma negação ou uma indicação.
Diferente das demais classificações, os atos de fala comportamentais (behavitivies) seriam “um tipo de performativo relacionado, de modo geral, a reações a comportamentos e ao comportamento em relação aos outros, sendo destinado a expressar atitudes e sentimentos”4 (Austin, 1962, p. 83), vinculado frequentemente a um arrependimento, exemplificado por um pedido de desculpas. Podemos, contudo, afirmar que, em última instância, pedir desculpas também é produzir um efeito de vínculo.
Desculpar-se pode ser lido como uma forma de comprometer-se com algo ou alguém, já que “os pedidos de desculpas são usualmente formulados por meio da admissão da culpa, pelo compromisso com o reparo pelo dano causado e ainda, pela promessa de não recorrência da ofensa cometida” (Oliveira, 2023, p. 6). Recuperando autores da Teoria da Polidez, Oliveira (2023) sintetiza a relação do pedido de desculpas e a necessidade moral de compromisso, de reconciliação:
os pedidos de desculpa representam um ato de fala em que o locutor expressa arrependimento, bem como objetiva a reconciliação com a parte injustiçada por ele, ou, ainda, com uma audiência mais abrangente. A tentativa de reconciliação moral presente em um pedido de desculpas motiva, portanto, o emprego de recursos linguísticos ligados à recuperação da face positiva do autor do pedido, já que pedir desculpas é um ato de fala associado à reconquista da aprovação social (Oliveira, 2023, p. 6).
Nesse ponto, é preciso esclarecer que, ao propormos um retorno às teorias comumente vistas como inconciliáveis com a AD5, não deixamos de produzir questões sobre o funcionamento equívoco da linguagem, a partir de articulações voltadas à desconstrução das evidências psicologizantes do sujeito, bem como das evidências de transparência da linguagem. Nesse intuito, temos demonstrado a importância de considerar elaborações teóricas heterodoxas do performativo, as mesmas que já provaram haver espaço na língua para o inconsciente (Felman, 1980; Rajagopalan, 1999, 2000, 2010). Como procurei evidenciar em minha pesquisa de doutorado, a compreensão da promessa mobilizada a partir de outro campo de estudos da linguagem tem como interesse compreender “as nuances de seu funcionamento, contemplando aspectos que envolviam sua constituição, formulação e circulação” (Anjos, 2021, p. 164), dando destaque para especificidades de seus efeitos, como o modo pelo qual a promessa “toma partido no dizer, […] agencia o dito, enlaçando o sujeito em um imaginário de convicções” (Ibid., p. 164).
Temos afirmado que a promessa, textualizada como compromisso inscrito historicamente, impõe um jogo de lembrar e esquecer, de excesso e falta, que funciona da seguinte maneira: ao ter seu compromisso afirmado, é nas amarras performativas que os sujeitos canalizam sua atenção. Assim, o foco passa a ser “cumprir ou não cumprir” o que foi prometido, concordar ou discordar do compromisso, cobrar a realização do que foi garantido. Topamos com um efeito “hipnótico” que faz esquecer as condições históricas que tornaram possível enunciar aquele comprometimento. Ao se autorreferenciar, a promessa evoca uma falta no presente, no caso em análise, a ausência de equidade sociorracial, que se projeta como um desejo do sujeito para o futuro. Excesso e falta imbricados no jogo da linguagem.
A seguir, as Sequências Discursivas indicam como a promessa se formula textualmente no material:
SD 1 - Mas o simples fato de sermos uma instituição da atualidade nos move a realizar atividades voluntárias com o compromisso público e com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial.
SD 2 - O Banco do Brasil fez, faz a fará muito pela diversidade e desenvolvimento social e econômico em nossa sociedade.
Considerando o funcionamento do interdiscurso como todo complexo com dominante das formações discursivas, que estabelece as condições de existência do dito, pensamos a promessa discursiva como uma performance de compromisso inscrita na história, dado que a possibilidade de formular publicamente uma admissão de culpa, antes impossível no contexto brasileiro, sobre a participação na construção de uma herança escravocrata, se torna não somente possível como também recomendada se se considerar os apelos do público consumidor e as condições de produção em que se instaura a referida polêmica a respeito do Banco do Brasil. Desse modo, vemos que as contingências históricas que forjam o social brasileiro viabilizaram o comprometimento público de combate ao racismo por parte de diversas instituições, tanto públicas quanto privadas.
Quando formula um pedido de desculpas, a instituição bancária tensiona a memória a partir de um jogo equívoco de afirmação e de negação sobre a sua participação no processo de escravização. Em outras palavras, o que antes havia sido absorvido na memória retorna em forma de um pedido de desculpas modalizado, atualizando já-ditos a respeito do empreendimento colonial, ao mesmo tempo em que o banco, contraditoriamente, admite e se esquiva das acusações investigadas pelo Ministério Público Federal, ao indicar a existência de variações predecessoras de si mesmo. Na fala da presidente da instituição, é recorrente o uso de expressões como versões/versões predecessoras/versões anteriores. É o que lemos na SD 3:
SD 3 - O Banco do Brasil de hoje pede perdão ao povo negro pelas suas versões predecessoras e trabalha intensamente para enfrentar o racismo estrutural no país.
No material em análise, o jogo performativo também aparece formulado nos diferentes tempos do verbo “fazer”. Passado, presente e futuro comparecem na textualidade do enunciado, produzindo um excesso referencial. A promessa, então, aponta para si mesmo, indicando uma continuidade no tempo de gestos de enfrentamento à iniquidade racial, forjando uma percepção própria do passado e avançando para o futuro.
Se, conforme Mazière (2011, p. 19), “o esquecimento seletivo do passado instala uma nova relação com o futuro”, a partir da promessa que se formula no material, a tentativa de gestão da memória se dá não só pela interpretação do passado, mas também pelo que a instituição projeta para o futuro. Enquanto há uma investida de apagamento das contradições históricas a partir de uma reedição do passado, há também uma construção de expectativas que não deixa de ser uma tentativa de controle da interpretação atravessada pelos silenciamentos históricos já pontuados. Aqui, performance e discurso andam juntos no momento em que o erro é lembrado para, em seguida, ser esquecido. O compromisso que se atualiza no pacto pela igualdade racial e nas demais ações estratégicas da empresa promove um excesso sobre si mesmo de modo a obliterar as contribuições do banco para a construção das clivagens sociorraciais à brasileira; um social que é parte integrante do que hoje a instituição bancária é e faz.
Ademais, nomear a si próprio como uma empresa fragmentada é uma forma de, retomando a metáfora de Clémentis, fazer o chapéu continuar na fotografia mesmo depois do apagamento de seu dono. É um modo de atenuar essa participação, promovendo, no batimento entre promessa e pedido de desculpas, formas de aparições fugidias na linearidade textual que misturam memória e esquecimento. A instituição financeira de hoje, herdeira da de ontem, desculpa-se por algo que fez — sem admitir ter feito, daí porque o pedido de desculpas é equívoco —, posto que, por essa articulação enunciativa, não seria a mesma empresa. Todavia, é esta versão atual do banco que logra os benefícios das iniquidades cometidas por sua suposta versão passada.
Como sabemos por Courtine (2016), a produção discursiva faz circular formulações anteriores, outras formulações que são repetidas, refutadas, denegadas. Se, ainda conforme Courtine (2016, p. 26), o domínio da memória consiste em uma “pluralidade contraditória” de sequências discursivas, a memória joga com o fazer silêncio e com a injunção ao dizer, com as disputas que, no material analisado, parecem não chegar a uma conclusão sobre como o capital formador do banco se relaciona à participação da instituição na comercialização de negros escravizados ou como a instituição também teria se valido de recursos relacionados às embarcações usadas para o tráfico de pessoas negras. Assim, o que antes era recalcado retorna transformado, tensionado a partir de uma enunciação autorreferenciada que, à primeira vista, pode parecer uma confissão, mas logo desliza para uma mea-culpa modalizada. Tal modalização também está no fato de que a responsabilidade em contribuir para a equidade racial é apontada como passível de ser redistribuída a outros “atores sociais”, conforme se observa na SD1 e SD 4:
SD 4 - As sequelas da escravatura convocam todos os atores sociais contemporâneos a agir para a promoção da igualdade étnico-racial, a contribuir por meio de ações concretas, como as que o Banco já desenvolve de modo pioneiro, voluntário e destacado.
Firma-se um compromisso público “com metas concretas para combater a desigualdade étnico-racial” como uma forma de mensurar a aliança, contribuindo para o efeito hipnótico mencionado, a fim de fazer caber a luta antirracista na lógica de mercado ao tratar por indicadores uma reparação que é estrutural e urgente. Essa aproximação à lógica neoliberal nos lembra de um ponto incontornável a respeito da noção de memória discursiva: o fato de ela dizer respeito à “existência histórica do enunciado no seio de práticas discursivas reguladas pelos aparelhos ideológicos” (Indursky, 2011, p. 86). A memória discursiva não abarca todos os sentidos, mas os “sentidos autorizados pela Forma-Sujeito no âmbito de uma formação discursiva. Mas não só: a memória discursiva também diz respeito aos sentidos que devem ser refutados” (Indursky, 2011, p. 86). Novamente, então, como uma tentativa de regularização do que é da ordem da contradição, conferindo certa ilusão de continuidade interna ao “espaço potencial de coerência próprio a uma memória” (Pêcheux, 1999, p. 50), o compromisso se firma assinalando uma temporalidade futura, marcando textualmente as possibilidades futuras da relação do banco com a sociedade brasileira. Isso se evidencia novamente na SD 2: “o Banco do Brasil fez, faz a fará muito pela diversidade e desenvolvimento social e econômico em nossa sociedade. Para nós, Raça é prioridade, sim!”.
Na tentativa de demonstrar seu posicionamento antirracista e de apontar para sentidos que se confrontam com o passado de suas “outras versões”, é dito que raça, e não o combate ao racismo, é prioridade. Como uma espécie de retorno do recalcado, o negado pela performance da promessa, que no material assumiu igualmente a forma de um pedido de desculpas, volta fazendo sentido pela afirmação do fato do discurso antes esquecido, e, como uma espécie de ato falho, raça e não equidade racial comparece colada aos interesses prioritários da empresa. Ora, como sabemos, no colonialismo europeu, a categoria raça foi mesmo central para impor a exploração de um povo sobre outro e naturalizar as hierarquias sociais que hoje marcam o cotidiano dos brasileiros.
Com efeito, raça e racialização sempre estiveram no epicentro dos processos de (re)produção do capital, ainda que hoje, conforme Modesto (2021), as desigualdades raciais possam parecer dissimuladas nas produções discursivas sustentadas em nossa formação social. Desde que foi inventada pelo colonizador, raça é prioridade para a manutenção do poder, na continuidade do pacto da branquitude (Bento, 2022); raça é prioridade na construção da objetificação do negro (Gonzales, 1984), que, enquanto um não-semelhante e, portanto, lido como ameaçador, torna-se alvo de segregação e extinção (Mbembe, [2013] 2018); raça é prioridade no apagamento sistemático da legitimidade das formas de conhecimento dos povos subalternizados pelo processo de colonização, ou seja, no epistemicídio, que diz respeito às múltiplas interdições sofridas pelo negro, exclusões que, além de negar sua intelectualidade, inscrevem o negro na esfera do não ser (Carneiro, 2023).
Considerações finais
O presente artigo analisou os processos de disputas de sentido em torno do papel do Banco do Brasil no financiamento do regime escravista no Brasil, levando em conta processos de silenciamentos, recalques e disjunções de sentidos em circulação nas atuais condições de produção. Para isso, observamos a equivocidade na construção de uma promessa de enfrentamento ao racismo, a partir da construção de um compromisso que também assume a forma de um pedido de desculpas; performances que funcionam na tentativa de gerenciar a memória discursiva. A participação da instituição centenária na máquina escravista ora comparece negada, pela afirmação de versões anteriores, ora deixa-se escapar na língua, como um ato falho, na evidência de uma mera imprecisão vocabular, quando afirma que raça seria elemento inegociável para o banco.
O artigo procurou demonstrar também como as condições de produção do discurso analisado colocam como operadores de memória as notícias a respeito do caso, o inquérito do MPF, a comunicação oficial da marca, contribuindo para reinscrever no espaço do repetível aquilo que aparentava ter sido esquecido. Tem-se aí um trajeto de memória constituído de disputas e silenciamentos. A escuta discursiva da promessa antirracista afiançada pela primeira instituição bancária do país joga com uma leitura do performativo atenta às nuances de seus efeitos, indicando uma divisão de sentidos que tensiona a memória a partir do que foi, é e será possível se materializar no discurso, sem que se perca de vista que há sempre possibilidades de aparição do irrealizado no interior do realizado.
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Data de Recebimento: 19/09/2025
Data de Aprovação: 04/11/2025
1 Dado o processo de midiatização das sociedades contemporâneas (Hjarvard, 2012; Braga, 2006), podemos atualizar tal discussão ao considerar que os objetos culturais incluem diferentes modos de produção discursiva relacionados ao digital. Segundo Hjarvard (2012, p. 54): “A sociedade contemporânea está permeada pela mídia de tal maneira que ela não pode mais ser considerada como algo separado das instituições culturais e sociais”.
2 ENTENDA a investigação inédita sobre o papel do Banco do Brasil na escravidão no século 19. G1, 2 out. 2023. Disponível em : https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2023/10/02/entenda-a-investigacao-inedita-sobre-o-papel-do-banco-do-brasil-na-escravidao-no-seculo-19.ghtml. Acesso em: 16 set. 2025.
3 Tradução livre de: “a kind of performative concerned roughly with reactions to behaviour and with behaviour towards others and designed to exhibit attitudes and feelings” (Austin, 1962, p. 83).
4 Nesse sentido, também faço menção a outros trabalhos que se propuseram a promover tal diálogo. Refiro-me, a título de exemplo, à tese de Patrícia Di Nizo, defendida em 2019, e à pesquisa desenvolvida por Aline Azevedo Bocchi (2016, 2019).
5 Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp- Bauru) e doutora pelo programa de pós-graduação em Linguística da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: liliane.anjos@unesp.br.