[É porque] as marcas sintáticas são essencialmente capazes
de deslocamentos, de transgressões, de reorganizações
que as línguas são capazes de política.
Gadet e Pêcheux2
Caminhos já trilhados
Ao analisar o discurso dos militares ditadores, as distorções discursivas chamaram minha atenção no funcionamento daquele discurso. (Indursky, 2013). Posteriormente, ao analisar o discurso sobre o MST na grande mídia, novamente deparei-me com um funcionamento que produz distorções discursivas em função das quais forjei a noção discurso de/sobre para descrever o funcionamento daquele discurso híbrido e indissociável (Indursky, 2019a).
Para analisar distorções discursivas, a observação do funcionamento da língua é fundamental, pois é ela que sustenta “a divisão discursiva por detrás da unidade da língua” (Pêcheux, [1975] 1988, p. 26). Essa língua dividida, como salienta Pêcheux, expõe “uma comunicação que é, ao mesmo tempo, uma não-comunicação”. E, mais adiante, acrescenta: “encontramos essa mesma divisão (igualdade/desigualdade, comunicação/não-comunicação) nas relações sociais, políticas e ideológicas. (op.cit., p.26-27). É essa língua desigual e dividida que sustenta a tessitura das distorções discursivas, próprias a uma formação social como a nossa.
Meu projeto de pesquisa seguinte continuou tomando como observatório a grande mídia, mas, dessa vez, ampliei o escopo de observação para examinar o papel das mídias na sociedade brasileira contemporânea, pois chamava minha atenção o modo como a discursivização do político na grande mídia e no telejornalismo joga com a língua para impor uma direção aos sentidos, enquanto outros sentidos são invisibilizados. Julgo possível, pois, acrescentar à reflexão de Pêcheux, exposta mais acima, mais um par: a grande mídia brasileira trabalha através da divisão de uma língua desigual que produz, a um só tempo, “igualdade/desigualdade, comunicação/não-comunicação”, bem como visibilidade/invisibilidade de determinados sentidos, de modo a imprimir-lhes uma direção, atendendo aos seus interesses e aos das classes dominantes, que se movem em função do grande capital e seus jogos de poder.
Esse era o funcionamento dominante das distorções discursivas analisadas à época: tempos em que um golpe parlamentar destituiu Dilma Rousseff (INDURSKY, 2019b) e uma farsa jurídica protagonizada pela Lava-Jato julgou e prendeu Lula de modo muito irregular, para dizer apenas o mínimo (Indursky, 2022). Assim procedendo, a grande mídia produziu um efeito de consenso resultante de dois diferentes processos: por um lado, o processo discursivo produzido pelo regime de repetibilidade (Indursky, 2011), do qual decorria o processo de monofonia (Orlandi, 1989, p.44). À força de repetir sempre os mesmos sentidos, o efeito de consenso produziu outro efeito, o efeito de realidade/verdade. Esses modos de dizer, impulsionados pelo jogo ideológico entre visibilidade/invisibilidade, produziram a saturação dos sentidos, apresentando-os como sentido único, enquanto outros foram recalcados no interdiscurso (Indursky, 2017).
Essas análises mostraram como as distorções discursivas são produzidas por uma língua dividida. No entanto, para que esse funcionamento da língua se instaurasse, fez-se necessário que a língua se associasse ao silenciamento. Dito de outro modo: essas distorções discursivas produzidas pela grande mídia resultaram do funcionamento discursivo de uma língua dividida entre “silêncio/linguagem”, como formula Orlandi (1992, p.55).
Nos dias que correm, Lula está novamente na Presidência do Brasil e tem sinalizado com a possibilidade de candidatar-se a um novo mandato. Em decorrência disso, outras formas de distorção discursiva passaram a circular na mídia, como pode-se observar, a seguir:
SD1 – O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 3,4% em 2024, de acordo com o IBGE. Apesar desse resultado positivo, o 4º semestre apresentou sinais de desaceleração, com alta de apenas 0,2%.3
SD2 - PIB engata 4º ano de bom crescimento. Por que então esse sentimento de fracasso na economia?4
Agora, porém, um funcionamento discursivo diverso está sendo mobilizado para produzir essas distorções. Novamente, é a língua dividida que entra em ação, agora sob a forma de um enunciado dividido (Courtine, [1981] 2009). No caso em tela, a distorção discursiva não se realiza pelo silêncio, pois é complicado invisibilizar os bons resultados econômicos anunciados pelo IBGE. Diante dessa situação extremamente favorável ao governo Lula, a mídia, para expor sua posição que é contrária a esse possível novo mandato, precisa minimizar e/ou desconstruir esses resultados. Para tanto, o enunciado vai dividir-se entre os resultados anunciados pelo IBGE e a opinião da mídia, sendo apresentados inicialmente os elementos positivos: “O PIB cresceu”, anuncia o G1; e o Estadão generosamente observa: “o PIB cresceu pelo quarto ano consecutivo”. Mas, aqui cabe uma pergunta: seria generosidade, mesmo? Se o crescimento vem ocorrendo há quatro anos, ele iniciou no governo anterior... Ou seja, esse crescimento não é mérito do governo Lula. Assim, essas boas notícias, que deveriam ser festejadas, são seguidas, na segunda parte do enunciado dividido pela má avaliação da mídia, introduzida por elementos desqualificadores que permitem identificar seu posicionamento ideológico. Eis os marcadores de G1: apesar desse resultado positivo; desaceleração; apenas. Já o Estadão, que havia sido “tão generoso” na primeira parte do enunciado dividido, desconstrói totalmente a boa notícia na segunda parte do enunciado, ao expressar sua posição-sujeito: Por que esse sentimento de fracasso na economia?
Esses enunciados se dividem entre duas posições-sujeito identificadas com Formações Discursivas antagônicas. É, pois, pelo viés de enunciados divididos que a tessitura da argumentação da grande mídia se produziu (Ducrot, 1980; Guimarães, 1987; Indursky, 2013). Através dessas distorções discursivas que os enunciados divididos possibilitam, “os efeitos da luta ideológica no interior do funcionamento da linguagem” (Courtine, 2006, p.74) manipulam a opinião pública dos leitores.
A partir do que precede, é possível afirmar que a grande mídia brasileira não tem obrigatoriamente compromisso com os fatos e, nesse sentido, aproxima-se bem mais do funcionamento da publicidade, como já havia sublinhado Pêcheux ([1979] 2011, p.73), pois, sempre que necessário, o discurso midiático os distorce através dos jogos sintáticos e semânticos que a língua dividida possibilita e através dos quais realiza sua tomada de posição, inscrevendo seu discurso no que Pêcheux designou de “guerra ideológica” (Pêcheux, op.cit., p. 73).
À guisa de encerramento dessas trilhas pelas tessituras das distorções discursivas, deixo duas observações:
1. em determinado momento dessa pesquisa, foi necessário fazer uma atualização de meu projeto. Meu arquivo passou a receber materialidades oriundas de mídias alternativas que circulam na internet. Essa atualização foi fundamental porque deu visibilidade ao que a grande mídia e o telejornalismo invisibilizavam sistematicamente (Indursky, 2017);
2. essa atualização, entretanto, não foi suficiente. Muito rapidamente foi preciso atualizar novamente meu arquivo. Isso ocorreu a partir do momento em que as fake news passaram a circular intensamente nas redes sociais, impulsionadas pelos algoritmos. Em função disso, meu arquivo passou a receber, como objeto de análise, as fake news para examinar seu funcionamento específico na discursivização do discurso político (Indursky, 2019; 2020; 2021; 2022).
Com essa última atualização de meu arquivo, minhas perguntas de pesquisa também se atualizaram: a noção de distorção discursiva dá conta do funcionamento discursivo das fake news? O que distingue as fake news de uma notícia jornalística? Fake news equivalem a boatos e rumores? Que funcionamento discursivo sustenta a construção das fake news? Com essas interrogações, avanço para a próxima seção.
Limpando o terreno
Antes de voltar-me especificamente às fake news, vou descartar algumas práticas discursivas que poderiam ser delas aproximadas, mas que, em função de seu funcionamento discursivo, não se superpõem.
Poderíamos associar as fake news à oposição lógica entre falso e verdadeiro? Tomar as falsas notícias à luz dessas categorias lógicas implicaria defender que a discursivização do político é realizada em uma língua transparente, dotada de espaços logicamente estabilizados (Pêcheux, [1983] 1990). À luz da análise do discurso, entretanto, essa hipótese não se sustenta, pois tais discursividades podem estar atravessadas “por uma série de equívocos” (Pêcheux, [1983] 1990, p.32). Como pontua Pêcheux:
Nesse espaço de necessidade equívoca, misturando coisas e pessoas, processos técnicos e decisões morais, modo de emprego e escolhas políticas, toda conversa (desde o simples pedido de informação até a discussão, o debate, o confronto) é suscetível de colocar em jogo uma bipolarização lógica das proposições enunciáveis – com, de vez em quando, o sentimento insidioso de uma simplificação unívoca, eventualmente mortal, para si-mesmo e/ou para os outros (Pêcheux, [1983] 1990, p.33) (Os destaques são meus).
Considerando que o discurso político tem implicações com o poder e é mediado por diferentes forças ideológicas, penso que o discurso das fake news estabelece uma forma muito peculiar de relação com o político. Portanto, não se trata de lógica. Bem ao contrário. O que está em tela, no âmbito dessa prática discursiva, é o processo semântico-discursivo que se produz na tessitura discursiva das fake news, cujo funcionamento discursivo específico está mergulhado na espessura e opacidade da linguagem, traços essenciais para que as fake news produzam efeito de verdade.
Vale lembrar igualmente uma outra prática discursiva muito popular e bem anterior às fake news, o boato. Orlandi trabalhou com o boato, tomando como objeto de análise escritos dos tempos coloniais. Neste trabalho, Orlandi destaca um traço constitutivo do boato: “O boato é um fato da vida social pública, traço do funcionamento coletivo da palavra. (Orlandi, 2001, p.132) E, mais adiante, acrescenta tratar-se de “um modo de dizer em que há sempre uma diferença a significar, um ruído”, pois “não se diz ´toda´ a verdade”. (op.cit., p. 134).
Guardadas as devidas diferenças, algumas características destacadas por Orlandi se fazem presentes na tessitura discursiva do boato contemporâneo. No entanto, esta prática discursiva em nossos dias funciona na oralidade, aproximando-se do funcionamento das fofocas: o boato contemporâneo reveste-se da indeterminação do sujeito-fonte do boato: “Dizem que fulano fez X”. Essa indeterminação caracteriza as condições de produção de sua circulação: o boato é transmitido boca-a-boca e a marca linguística do boato contemporâneo é a indeterminação do sujeito linguístico do enunciado e essa indeterminação projeta-se sobre o sujeito que transmite o boato, pois o boateiro sempre poderá alegar não ser a fonte desse diz-que-dizem. Dessa forma, o boato vai construindo oralmente um zum-zum-zum social pelo qual ninguém se responsabiliza. Em função de sua forma de funcionamento discursivo e do modo de sua circulação, ele produz ruído. Essa tessitura discursiva, entretanto, não corresponde plenamente à das fake news, embora apresente traços semelhantes, como veremos mais adiante.
Mais recentemente, com o advento da internet e das redes sociais nela sediadas, Juliana da Silveira formulou a noção de efeito-rumor. A autora entende que “esses espaços nos quais ´qualquer um´ poderia dizer ´qualquer coisa´” (...) como “um espaço privilegiado para que os sujeitos ordinários pudessem rir da política e da mídia, sobretudo das mentiras forjadas pelos discursos dominantes” (Silveira, 2019, p.39-41). Essa natureza do efeito-rumor também não corresponde ao funcionamento discursivo das fake news, embora elas produzam forte rumor social.
Mas então o que são, afinal, asfake news?
Nenhuma das modalidades acima elencadas se superpõem plenamente ao funcionamento discursivo das fake news, embora apresentem traços de similitude, como fui destacando à medida que as arrolava. Por outro lado, a mobilização de notícias falsas não é novidade no campo da política, como esclarecem Platão, Maquiavel e Swift (Courtine, 2006). Mas, em nossos dias, as fake news passaram a ter um peso muito grande no discurso político, em função das novas tecnologias de informação que potencializam sua multiplicação e aceleram sua circulação.
O termo fake news foi eleito a palavra do ano de 2017 pelo dicionário da editora britânica Collins que definiu fake news como informações falsas que são disseminadas em forma de notícias, muitas vezes de maneira sensacionalista. Ou seja, a designação fake news é recente, mas sua prática é antiga. Courtine (2006) salienta que Platão em A República já se referia à arte de ocultar a verdade ao povo e que Maquiavel pregava a arte de fazer o povo acreditar em falsidades salutares. No presente trabalho, vou usar apenas a designação fake news para evitar qualquer superposição com as práticas discursivas anteriores.
Na atualidade, essas falsificações se sofisticaram. Agora, simulam formalmente uma notícia, produzindo um discurso escrito sobre, e são tão bem urdidas que apresentam alto grau de verossimilhança, o que as torna um instrumento político muito utilizado e extremamente eficaz na atual conjuntura mundial. As fake news são, pois, a forma que as mentiras políticas assumiram em tempos de redes sociais. Foram essas características que determinaram sua inclusão em meu arquivo.
Há vários funcionamentos discursivos que sustentam as fake news, tais como negacionismo e narrativas paralelas, por exemplo, dos quais me ocupei em trabalho anterior (Indursky, 2021). No presente artigo, entretanto, vou ocupar-me apenas de um funcionamento específico que designei de torção discursiva, por entender que ele difere das distorções discursivas.
Meu interesse pelas fake news é o de analisar seu funcionamento discursivo para observar o que torna essa prática discursiva tão verossímil. Por essa razão, interessa-me tanto o processo discursivo de sua tessitura quanto o processo discursivo de sua leitura.
Um dos primeiros aspectos que identifiquei nesse funcionamento discursivo específico que trago aqui foi que, para produzir seu necessário efeito de realidade/verdade, esse tipo de fake news precisa ancorar-se em algo que de fato ocorreu. Desse fato é recortado um fragmento que, na tessitura de uma fake news, funcionará como um discurso transverso (Pêcheux, [1975] 1988, p.166), isto é, como um pré-construído proveniente de um discurso-outro, assertado em outro lugar, e que fornecerá a matéria prima para desencadear um efeito de memória. Esse discurso transverso, por sua vez, vem acoplado ao apagamento do restante do discurso-outro, alvo da falsificação. Ou seja: trata-se de um duplo funcionamento discursivo que se constitui pela justaposição de um discurso transverso a uma elipse discursiva do discurso-outro do qual o discurso transverso provém. É a partir dessa justaposição que esse tipo específico de fake news é produzido.
Nesse ponto da reflexão, voltei-me para uma noção que Maria Cristina Leandro Ferreira formulou para refletir sobre as relações entre AD, psicanálise, corpo e arte. Trata-se da noção de torção. A autora a forjou a partir da observação da fita de Moebius. Como ela esclarece, trata-se de uma “superfície bidimensional que contém um único lado, resultante da junção das duas extremidades da fita e da junção de uma das extremidades em 180 graus” (Ferreira, 2013, p.130). Essa forma de junção produz uma torção. Observando essa torção, a autora aponta alguns de seus efeitos:
É a torção que vai indistinguir os limites, desfazer o efeito de finitude das fronteiras. É a torção da linguagem que produz o equívoco. (...) Essa condição de poder passar do possível ao impossível, do visível ao invisível (...) esse modo de indistinção dos limites que desfaz a dicotomia direito-avesso. E essa indistinção resulta precisamente do efeito provocado pela torção. (Ferreira, 2013, p.130).
Com base nessa noção de torção e seus efeitos, formulei a noção de torção discursiva. Uma torção discursiva consiste em um funcionamento discursivo realizado sob o efeito de uma determinada identificação ideológica e produzida na espessura semântica da linguagem, projetando um efeito de realidade/verdade sobre um discurso falsificador, de modo que seu efeito de sentido representa o avesso do discurso que lhe deu origem. Mais precisamente, uma torção discursiva, ao torcer o sentido de um discurso, carrega em si, embora dissimulados, os vestígios memoriais do discurso-outro que foi falsificado, pois, como esclarece Courtine, “(...) o recalque (...) deixa, como uma estreita lacuna, a marca de seu desaparecimento” (Courtine, [1981] 1999, p.15).
Esse funcionamento não é indiferente à ideologia. Pêcheux, ao refletir sobre a articulação entre enunciados, pontua que esse processo “realiza (...) o acobertamento ideológico da descontinuidade, simulando-a ideologicamente” (Pêcheux, [1975] 1988, p. 124). Nesse caso, Pêcheux reflete sobre a descontinuidade entre ciências/ideologias. Trago essa reflexão sobre descontinuidade para pensar a tessitura de uma torção discursiva, pois esse processo discursivo também produz descontinuidade entre um discurso e sua falsificação que é acobertada ideologicamente. Vale dizer: uma torção discursiva se constitui na espessura semântica da linguagem e se materializa pelo viés tanto de elipses quanto de incisas discursivas. Haroche observa que elipses e incisas são “formas possíveis de ruptura da linearidade do discurso”. A “elipse, concebida como uma falta necessária e a incisa como um acréscimo contingente” (Haroche, [1984] 1992, p.116-7). Assim, o tipo de torção discursiva de que me ocupo no presente artigo resulta da junção de fragmentos descontínuos de discursos, intrincando falsificações do real e fragmentos do discurso a ser falsificado (discurso transverso).
Como apontei mais acima, esse recorte metonímico (Pêcheux, [1975] 1988, p. 166) do discurso a ser falsificado mobiliza a memória discursiva dos leitores, fator essencial para desencadear o efeito de sentido de realidade/verdade. Mas não se trata de uma memória plena. Aliás, se plena fosse, uma fake news não produziria efeito de verdade. Como Pêcheux já havia sublinhado, a memória que se atravessa em um discurso, “não poderia ser concebida como uma esfera plena, cujas bordas seriam transcendentais históricos e cujo conteúdo seria um sentido homogêneo, acumulado ao modo de um reservatório” (Pêcheux, [1983] 1999, p.56). Bem ao contrário. Para que o discurso transverso produza um efeito de memória, faz-se necessário entender que se trata de uma memória esburacada, difusa e fluida através da qual ressoem vagamente sentidos que circularam anteriormente, em outro lugar. Essa propriedade metonímica do discurso transverso é fundamental para projetar vagueza sobre os sentidos de uma fake news, mostrando-se essencial para produzir “a condição do legível em relação ao próprio legível” (Pêcheux, [1983] 1999, p.52) de uma fake news. Dito de outra forma: para que a leitura de uma fake news produzida por torção discursiva projete um efeito de verdade, ela precisa ser produzida à luz de uma memória que, por ser fluida e esburacada, é atravessada pelo esquecimento e pelo desconhecimento. Essa circunstância é constitutiva das condições de produção da prática de leitura desse funcionamento discursivo específico.
Analisando
Vou fazer, a seguir, a análise da tessitura de uma fake news produzida por uma torção discursiva. Para tanto, produzi uma “montagem” discursiva, composta de quatro sequências discursivas extraídas de diferentes matérias e mídias, produzidas a partir de diferentes fatos ocorridos, os quais foram correlacionados na tessitura de torções discursivas. Como afirma Pêcheux, “descrições regulares de montagens discursivas [possibilitam] detectar os momentos de interpretações enquanto atos que surgem como tomadas de posição, reconhecidas como tais, isto é, como efeitos de identificação assumidos e não negados” (Pêcheux, [1983] 1990, p.57). (O destaque é meu). Vejamos a montagem:
SD1 - A primeira dama brasileira, Janja Lula da Silva, teria protagonizado um momento de desconforto diplomático durante um encontro oficial entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder chinês Xi Jinping.
Segundo relatos de integrantes da comitiva brasileira presentes na reunião, o constrangimento ocorreu quando Janja pediu a palavra para criticar a rede social chinesa TikTok.5
SD2 – Pela primeira vez Xi Jinping não participará da cúpula do Brics,6
SD3 - É muito difícil desvincular o que aconteceu naquela viagem com a ausência do presidente chinês na Cúpula do Brics”, disse Sadi, ao comentar as consequências do episódio.7
SD4 - A jornalista Míriam Leitão, da GloboNews, desmentiu a colega Andreia Sadi. (...) “O Xi Jinping disse para Lula que ele já veio [ao Brasil] há pouco tempo e tem outros compromissos. Isso não reduz o envolvimento da China com essa reunião e essa presidência do presidente Lula”, afirmou Míriam nesta quinta-feira (3), no “Conexão GloboNews”.8
Essa montagem discursiva permite visualizar várias questões que discuti mais acima. Mas não apenas isso. A fake news em tela foi produzida por uma jornalista e divulgada pelo canal de notícias Globo News. Não se trata de um erro jornalístico, pois erros jornalísticos não se revestem de malícia. Como veremos, trata-se de uma fake news produzida sob o impulso imaginário de uma determinada identificação ideológica de uma jornalista. Vale dizer: a grande mídia que, desde o surgimento das fake news, colocou-se como única fonte idônea porque investiga os fatos antes de publicá-los, em contraponto com as mídias e redes sociais. Foi essa posição da mídia que determinou a seleção dessa fake news como objeto de análise.
Como já apontado mais acima, toda fake news inicia com um fato, pois, como esclarece Pêcheux, “um objeto do pensamento pressupõe a existência de um objeto real” (Pêcheux, [1975]1988, p. 98. O destaque é meu.). Na fake news em tela, há, na verdade, dois fatos. Vejamos:
Primeiro fato: Janja criticou a rede TIK TOK durante a visita à China.
Segundo fato: O presidente da China, Xi Jinping, não virá ao Brasil para a Cúpula do Brics.
Esses dois fatos, ao serem relacionados, deram origem a uma fake news. Vejamos a tessitura dessa fake news:
1ª torção discursiva: crítica ao TikTok ↔ desconforto diplomático
A crítica ao TikTok foi o fato real recortado que passou a funcionar como um discurso transverso que forneceu a matéria prima para produzir uma torção discursiva, da qual resultou desconforto diplomático, que circulou como se fato real fosse.
Tomo essa torção discursiva - desconforto diplomático - para observar a tessitura da próxima torção:
2ª torção discursiva: desconforto diplomático ↔ ausência de Xi Jinping Brics/RJ
Através dessa dupla torção, a fake news foi formulada, produzindo um efeito de verdade em função da memória fluida, difusa e esburacada, atravessada por esquecimento e/ou desconhecimento dos fatos que realmente ocorreram durante a referida visita à na China, bem como das razões que determinaram a ausência do líder chinês na cúpula dos Brics. Mais precisamente, as torções discursivas, associadas aos recortes metonímicos específicos (crítica ao Tik Tok e ausência de Xi Jinping) produziram o efeito de memória necessário para projetar o efeito de verdade sobre a fake news.
Nesse ponto vale lembrar que
É a ideologia que fornece as evidências que fazem com que uma palavra ou um enunciado ‘queiram dizer o que realmente dizem’ e que mascaram, assim, sob a ‘transparência da linguagem’, aquilo que chamamos o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados. (Pêcheux, [1975] 1988, p.160).
Percebe-se que a jornalista Andreia Sadi, sob o efeito das “evidências” que a ideologia lhe forneceu, projetou um imaginário efeito de verdade sobre suas interpretações dos fatos apresentados em SD1 e SD2, daí resultando a fake news, trazida em SD3, que circulou no canal Globo News: “É muito difícil desvincular o que aconteceu naquela viagem com a ausência do presidente chinês na Cúpula do Brics”.
Essa fake news dá a ver o ponto em que ocorre a tomada ideológica de posição da jornalista: é difícil desvincular o que aconteceu naquela viagem... Trata-se do trabalho do sentido sobre os sentidos, produzindo a descontinuidade entre os fatos articulados e a torção discursiva que os sustenta. Parafraseando, temos: ...é evidente que XI Jinping não compareceu à reunião do Brics porque ofendeu-se com as críticas de Janja ao Tik Tok... Essa descontinuidade possibilitou a formulação da fake news, cuja falsificação é acobertada pelo trabalho da ideologia.
Observando fake news produzidas por torções discursivas, penso poder aproximá-las do que Pêcheux chamou de “contrapropaganda” (Pêcheux, [1979] 2011, p.73) produzida para defender os interesses das classes economicamente dominantes, desconhecendo os limites éticos entre a divulgação de fatos e de sua torção discursiva. Como sublinha Pêcheux, estamos diante de uma
ideologia da manipulação, inscrita na aparência-falsa da política imaginária. Mais exatamente, poder-se-ia dizer que o registro da ficção [...] parece hoje deixar, na política, cada vez mais lugar ao parecer (isto é, a um simulacro do real) (op.cit., p.92). (Destaques são meus).
É preciso, nesse ponto, fazer um questionamento: como a crítica ao Tik Tok, ocorrida na China, veio a público e foi parar na mídia brasileira? Esse episódio ocorreu em um jantar oferecido à delegação brasileira, composta por Janja, Lula, ministros, governadores, parlamentares e empresários . A resposta veio de Lula : alguém da comitiva presidencial brasileira vazou à imprensa o que sucedeu naquele encontro.
Mas o que é exatamente um vazamento? Salvo melhor juízo, trata-se de um boato contemporâneo, com marcas claras de uma fofoca (Mais uma que a Janja apronta...Parece que ela provocou um climão ao criticar o Tik Tok na reunião com o Xi Jinping...). Boato-fofoca transmitido oralmente, com claras marcas de indeterminação da fonte produtora do boato, mas, para que funcione politicamente e produza intenso rumor social nas mídias e tensão no meio político, os envolvidos – Janja e Xi Jinping - nesse boato precisam ser claramente explicitados. E, como adverte Orlandi, o boato é “um modo de dizer em que há sempre uma diferença a significar, um ruído”, pois “não se diz ´toda´ a verdade”. (Orlandi, 2001, p. 134). Esse boato foi a base para a produção da fake news apresentada em SD4.
Miriam Leitão, também jornalista com atuação na Globo News, desfez as torções discursivas com que sua colega Andreia Sadi teceu essa fake news, informando porque o líder chinês não compareceu à reunião dos Brics, no Rio de Janeiro, como está explicitado em SD4. Esse desmentido deu a ver como uma torção discursiva une o direito e o avesso tramados na tessitura de uma fake news.
O funcionamento ideológico das torções discursivas
As fake news, sob o efeito da ideologia, ao mesmo tempo em que produzem uma falsificação, projetam sobre ela um imaginário efeito de verossimilhança. Esse é seu ponto fulcral. Esse efeito produz um rumor social muito intenso, decorrente do impacto que causam. O alvo das fake news pode ser muito variado, usualmente incidindo sobre política, políticos, figuras públicas, ciência, religião, verdades estabelecidas, etc. E quando essas falsificações incidem sobre figuras políticas e públicas, como é o caso da fake news aqui em análise, sua repercussão é intensa nas redes sociais. Fake news podem assumir a força de uma prática política geradora de relações sociais próprias a uma política imaginária (Pêcheux, [1979] 2011, p. 91), pois, como Pêcheux advertiu, “toda ‘medida’ no sentido político adquire seu lugar na prática política” (Pêcheux(Herbert), [1966] 2011, p.35). Isso permite antever como fake news produzidas por torções discursivas podem ser utilizadas em uma campanha presidencial, por exemplo, produzindo intenso rumor social. Uma fake news não é, portanto, produzida e posta em circulação por acaso, nem, tampouco, de forma ingênua.
Nesse ponto cabe uma pergunta: Que sujeito é esse que formula fake news? Ainda pode-se pensá-lo como um sujeito interpelado pela ideologia e afetado pelo inconsciente, tal como proposto por Pêcheux ([1975] 1988)?
Zizek, ao refletir sobre ideologia, faz um contraponto entre as concepções de Marx e de Peter Sloterdijk. Enquanto, para Marx, a ideologia afeta os sujeitos, fazendo-os agir de modo que “disso eles não sabem, mas o fazem”, Sloterdijk subverte essa concepção com sua tese da razão cínica: “eles sabem muito bem o que estão fazendo, mas mesmo assim o fazem” (Zizek, 1990, p. 59. O destaque é meu).
Baldini e Di Nizo, buscaram relacionar esse funcionamento cínico com a reflexão de Pêcheux sobre o funcionamento do sujeito interpelado (Pêcheux, [1975] 1988):
além dos bons e dos maus sujeitos, e ainda daqueles que se desidentificam, teríamos a forma cínica de pertencimento de um sujeito à FD: um certo modo de relação com o saber, em que o sujeito não se filia diretamente, nem se desfilia, mas permanece no horizonte de uma tomada de posição desengajada, ou de uma subjetivação assumida na forma de uma paródia (Baldini & Di Nizo, 2015, p.146). (O destaque é meu)
Entendo que o sujeito produtor de fake news age sob o efeito da razão cínica. Nesse caso, cabe a pergunta: estaria esse sujeito “finalmente liberado” de suas amarras ideológicas? Não acredito que esse funcionamento cínico do sujeito produza agitação nas filiações sócio-históricas de identificação, pois não se trata de um movimento que conduz o bom sujeito a contra-identificar-se, deslizando para a posição de mau sujeito. Tampouco implica uma desidentificação com sua interpelação em sujeito. Tais falsificações são produzidas sob o efeito do que Pêcheux designou de esquecimento número dois , espaço de relativa autonomia do sujeito (Pêcheux, [1969] 1990), que lhe possibilita enunciar em uma zona entre pré-consciente/consciente. É nessa zona que se dá o funcionamento cínico do sujeito com a ideologia; é nela que o sujeito do discurso tece cinicamente suas fake news para desacreditar algo e/ou alguém, pois esse modo cínico de dizer vincula a "constituição do sentido à constituição do sujeito, em um vínculo que não é marginal" (Pêcheux, 1996, p. 144). Em suma: Trata-se do modo desse sujeito cínico relacionar-se com a ideologia.
Orlandi (1990), em Terra à vista, refletindo sobre a relação entre ideologia, sujeito e discurso, esclarece que o funcionamento da ideologia é o de dar direção aos sentidos de um discurso. Com base nessa reflexão de Orlandi, considero que o sujeito, em seu relacionamento cínico com a ideologia, ao produzir uma fake news, inverte a direção dos sentidos do que está sendo falsificado. E este é exatamente o modo como as torções discursivas funcionam, ao serem produzidas por um sujeito que enuncia sob o efeito de sua identificação cínica com a ideologia.
Em outro texto, Baldini observou que o “cinismo (...) [é uma] forma de estruturação social e subjetiva na contemporaneidade” que consiste em “uma relação, de certo modo harmônica, entre dizeres em que ninguém acredita e a onipotência do capital” (Baldini, 2012, p.112. Os destaques são meus.).
Em função dessa última observação de Baldlni, julgo necessário fazer uma distinção entre os produtores de fake news e os que as fazem circular nas redes sociais. Os produtores de fake news não acreditam nas falsificações que formulam, mas mesmo assim as produzem cinicamente, visando poder e/ou lucro. Já entre os reprodutores dessas falsificações, há dois diferentes grupos. Por um lado, há os que sabem tratar-se de uma falsificação, mas as reproduzem cinicamente e, por outro lado, há aqueles que não só nelas acreditam, como através delas se subjetivam. Ou seja, nem todo sujeito que põe em circulação fake news sabe que se trata de falsificações. Esse segundo grupo, na verdade, não só não estabelece uma relação cínica com a ideologia, como ele é vítima do cinismo de seus produtores, ao ser capturado por aquelas mensagens e acaba por funcionar como “boi de piranha”, beneficiando os interesses dos produtores de fake news.. É esse segundo grupo de reprodutores que garante o sucesso da circulação das fake news nas redes sociais, constituindo o que tem sido designado de milícias digitais (INDURSKY, 2021).
Antes de concluir esta seção, cabe uma distinção entre distorções discursivas e torções discursivas. Enquanto distorções discursivas remetem aos movimentos do sujeito pelas diferentes redes discursivas, indicativas de diferentes posicionamentos ideológicos, as torções discursivas remetem às formas cínicas de subjetivação que exploram o jogo entre visibilidade linguística e invisibilidade semântica no entremeio do qual o engodo é inserido na materialidade discursiva das fake news.
Suspendendo a reflexão
Nesse ponto cabe, mais uma vez, uma comparação entre fake news, boato e matéria jornalística. As fake news caracterizam-se por não apresentar marcas linguísticas específicas, distinguindo-se, assim, do boato contemporâneo, que é denunciado por suas marcas de indeterminação. Acrescente-se a isso o fato de que, hoje, vivemos conectados à internet e é nela que as fake news circulam. Por conseguinte, o boca-a-boca, próprio ao boato, foi substituído pelo compartilhamento nas redes sociais. No entanto, se o boato é da ordem da oralidade, as fake news são escritas e, nesse sentido, se aproximam do boato colonial, analisado por Orlandi. Por outro lado, há que distinguir matéria jornalística de fake news. Embora ambas se apresentem formatadas como uma notícia, produzindo um discurso escrito sobre, a responsabilidade pela matéria jornalística é do jornalista e do jornal que a veicula, podendo eles ser cobrados se o que foi publicado não corresponde aos fatos, enquanto a fonte das fake news nem sempre é conhecida, pois nem toda fake news é produzida por jornalista e divulgada na mídia, como caso aqui analisado. Ou seja: enquanto a matéria jornalística inscreve-se no discurso da escrita, uma fake news é produzida no que Gallo designou de discurso da escritoralidade (Gallo, 2011). Faço, então, uma nova aproximação entre boato colonial e as fake news contemporâneas: ambos são “um fato da vida social pública, traço do funcionamento coletivo da palavra. (Orlandi, 2001, p.132. O destaque é meu).
As fake news são a prática política que marca nossa contemporaneidade. Essa prática política substituiu as promessas políticas que os candidatos costumavam fazer e que, na maior parte das vezes, após eleitos, não cumpriam. Ou seja, os candidatos, através da mentira política, cinicamente enganavam seus eleitores. Na atualidade, um número expressivo de candidatos trocou as falsas promessas políticas por fake news que, através das redes sociais, se multiplicam velozmente pelo regime de repetibilidade vertiginosa que caracteriza as redes sociais na internet. Mas não apenas candidatos se servem dessa prática política. Pêcheux ([1979] 2011, p.91) já advertia que “o Estado moderno passou a ser mestre na arte de agir à distância sobre as massas”. E, em uma formação social neoliberal como a atual, o Estado encontrou, no modo de circulação das fake news em redes sociais, a prática política adequada para manipular as massas à distância.
A grande questão que se coloca, hoje, em relação às práticas políticas que envolvem fake news, é de saber identificar esses funcionamentos discursivos de falsificação do real para não ser vítima de seus efeitos manipulatórios. Mas estamos próximos a nos deparar com outra prática discursiva, ainda mais perigosa e corrosiva, dotada de potencial político devastador. Trata-se da tecnologia deep fake, produzida com inteligência artificial. Essa tecnologia tem a propriedade de produzir uma torção discursiva da imagem física e ideológica de um alvo determinado. Uma deep fake pode recuperar um vídeo em que um determinado sujeito público fez uma declaração e substituí-la por uma comunicação fraudulenta, feita com a clonagem da voz desse sujeito, sincronizando perfeitamente ou quase, os movimentos labiais à mensagem fraudulenta. Essa nova forma de falsificação já está em curso em nosso meio político. Se uma fake news pode ser devastadora, imagine-se o estrago que uma deep fake pode causar em uma campanha política... Ou seja: eles sabem muito bem o que fazem, e o fazem assim mesmo...
Com base em uma citação de Pêcheux ([1975] 1988, p.98) que trouxe mais acima - “um objeto do pensamento pressupõe a existência de um objeto real” – entendo que uma fake news consiste na negação desse objeto real. Considero, pois, que todos os funcionamentos discursivos que sustentam a tessitura discursiva de fake news – deriva de sentido, narrativa paralela, negacionismo, distorção discursiva, torção discursiva... - todos esses funcionamentos discursivos consistem em formas diversas de negação do real, sustentadas pela identificação cínica com a ideologia, produzindo, como efeito de sentido, o que Pêcheux designou de simulacro do real. (Pêcheux, [1979] 2011, p.7).
A prática do fake, sob suas diferentes formas, é o modo que a “gestão discursiva do Estado capitalista moderno” assumiu (Gadet, Pêcheux, [1981] 2004, p.115). Nessa citação, os autores referiam-se aos estados totalitários e, em especial, ao Estado nazista. Em nossos dias, são as diferentes modalidades de falsificação/simulacro do real que fazem a gestão discursiva do Estado capitalista neoliberal e neofascista. E os autores acrescentam: “Por outro lado, o delírio desprovido de sentido, que, segundo a fórmula cínica de Goebbels, tem tanto mais chances de “funcionar” quanto maior for”, representa a “era dos comunicados e, ao mesmo tempo, a da comunicação das ordens e a dos delírios comunicados”(id.ibid), como os que Trump adotou em seu segundo mandato presidencial, cuja tessitura é produzida por torções discursivas.
Parece-me serem esses os novos desafios que se colocam aos analistas de discurso: trabalhar/interpretar/desconstruir esses “delírios comunicados” da contemporaneidade.
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1 Epígrafe extraída do livro A língua inatingível, de Françoise Gadet e Michel Pêcheux, capítulo A língua de Marte, p.24.
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3 Estadãohttps://www.estadao.com.br/economia/pib-alta-sentimento-fracasso-economia-analise/#:~:text=A%20economia%20brasileira%20cresceu%203%2C4%25%20no%20ano%20passado.&text=Foram%20altas%20seguidas%20de%204,importantes%2C%20mas . Acesso em 04/07/2025
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8 Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em Ciências da Linguagem pela Universidade Estadual de Campinas. Professora Titular, aposentada, atua, como Professora convidada, junto ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: reanelisboa@gmail.com.