Tudo começa em 1995...
Os 30 anos de publicação da Revista Rua, completados neste ano, coincidem com meus 30 anos de doutorado, completados em dezembro de 2024. Isso só para dizer que acompanho de perto, desde meu período de estudos em Campinas, o nascimento da revista. Rua surgiu em formato diferente dos demais periódicos. Com uma capa cheia de estilo que dava destaque ao próprio nome, com letras grandes e sugestivo fundo cinza, Rua chegou marcando presença. Guardo até hoje o número 1, de março de 1995, que trazia uma tradução de Thomas Herbert (feita por Carolina Rodriguez, Eni Orlandi e José H. Nunes) e textos do historiador de Decca, de Eni Orlandi e Suely Rolnik, entre outros. Mais recentemente a revista passou a ser publicada apenas por via eletrônica, como tem sido a tendência geral. Felizmente, guardei um número impresso! Partindo, então, desse marco, vou pensar em meu próprio percurso como analista de discurso, nesses últimos 30 anos.
O período no IEL na UNICAMP
Durante o período de cinco anos que fiquei em Campinas – de 1989 a 1994 – aproveitei ao máximo, não só os cursos com os excelentes professores do Instituto de Estudos da Linguagem, mas também com os convidados franceses, trazidos por Eni Orlandi, minha orientadora. Marquei os famosos rendez-vous com quase todos, mesmo sem ter ainda muita definição de qual seria meu objeto de pesquisa. Mas sabia que seria a língua, a velha e boa base material do discurso. Além disso fiz qualificações em Sintaxe, em Semântica e em Sociolinguística e comecei a publicação em livros da área . Lembro com certo orgulho que no lançamento do livro O discurso fundador, numa livraria de Campinas, Paul Henry, também autor no livro, estava junto comigo e demais colegas na sessão de autógrafos.
O convívio com colegas do IEL foi muito prazeroso e me acalentava o coração, pois me sentia muito sozinha, tendo me mudado para uma cidade estranha, sem conhecer praticamente ninguém. Freda, minha amiga e colega da UFRGS, voltara para Porto Alegre no ano seguinte de minha chegada a Campinas, mas me deixou a porta aberta para muitas dessas amizades que guardo até hoje. Fazíamos seguidamente reuniões de estudo para discutir os textos “cabeludos” de Pêcheux e seu grupo, ainda quase todos em francês. Depois de ler e reler, tínhamos a compreensão de que havia muitas camadas de sentidos e de historicidades em cada texto e que a caminhada seria longa e penosa, mas ainda assim, prazerosa. Desses encontros em aula, em reuniões sociais, em nossas casas, realizados nesse período de formação na UNICAMP, mantemos até hoje o grupo, ao qual demos o nome “O discurso que nos uniu”. Essa já tradicional saudação vai completar 30 anos também em 2026 e foi feita pela 1ª vez num jantar em João Pessoa, por ocasião de um encontro da ANPOLL, que foi minha primeira participação, como doutora em Linguística, no GT de Análise do Discurso.
O retorno para a UFRGS
Ao concluir meu programa de doutorado com Eni Orlandi, voltei para a instituição em que sou professora, desde 1976, o Instituto de Letras da UFRGS. Mas agora habilitada a trabalhar também na Pós-Graduação, onde começo com tudo em 1996. A Análise do Discurso já existia no Programa, pelo trabalho pioneiro da colega Freda Indursky e dava seus passos iniciais, já com bastante interesse e procura por parte da comunidade acadêmica. Em especial, professores do Estado, que atuavam no ensino superior e que buscavam aperfeiçoar sua formação.
Não vou cair na ilusão de que darei conta do percurso de 30 anos, nem essa seria a intenção. Afinal, nós, analistas de discurso, nos deparamos com a angústia da incompletude desde cedo. Mas o que lembro é que nos anos iniciais de meu retorno do afastamento para capacitação docente, tive que deixar de lado as inquietações que trazia da minha tese , onde penetrara nos caminhos densos e cheios de atalhos e tropeços da equivocidade na língua e no discurso. Mas essa noção permanece bem viva comigo, até hoje, nas aulas, orientações, palestras e publicações. Falarei sobre isso mais adiante.
Já na UFRGS, ao lado da atuação no Pós, na linha de pesquisa enunciativa, textual e discursiva, busquei implementar uma disciplina de Análise do Discurso na Graduação, o que ainda não havia e nem despertava entusiasmo da parte de meus colegas de outras áreas. Consegui assim mesmo criar uma disciplina eletiva de Introdução à Análise do Discurso, no currículo de Letras. De 1997 a 2000 estive envolvida em atividades de gestão administrativa e representação docente nos Conselhos Superiores da Universidade, como Diretora de Unidade. Foi um período intenso de muito aprendizado e amadurecimento do qual guardo boas lembranças, ainda que não tenha querido continuar na atividade. Meu gosto sempre foi o de estar em contato com os alunos, com a pesquisa e com a escrita. Na verdade, só aceitei concorrer à eleição para a Direção das Letras, como um gesto de comprometimento com meus colegas e reconhecimento com a Instituição onde me formei e à qual tanto devo.
O primeiro glossário a gente não esquece
Mesmo Diretora, ainda que reduzindo parcialmente minhas atividades de ensino, segui na Pós com as aulas e na orientação de Iniciação Científica, que vinha fazendo desde o retorno do doutorado. Aliás foi nesse período também, iniciado em 1997, que dei início com os bolsistas de Iniciação Científica ao projeto de criar um Glossário de termos do discurso, o qual foi concluído em 2001, com diversas reimpressões desde então. Este é um daqueles “filhos queridos” que me traz muita satisfação ainda hoje, medida pela ampla aceitação e circulação que teve em vários meios e em diferentes áreas das ciências humanas. Para aumentar ainda mais o orgulho e o sentimento de bons serviços prestados ao campo discursivo, 20 anos depois esse “filho” ganhou corpo e se transformou em livro . Isso se deu por haver retomado o projeto, a partir de 2015, agora com os orientandos do Pós. Decidimos então fazer uma edição ampliada do “Glossarinho” (que era uma simples brochura de 23 páginas, feita na gráfica da UFRGS, com recursos próprios). E assim, depois de 5 anos de muitas animadas reuniões, para discutir e rediscutir cada verbete, decidir quais seriam acrescentados, concluímos, em 2020 (em plena pandemia) o novo Glossário de Termos do Discurso. De 20 e poucas páginas o glossário pulou para quase 300! Que orgulho!
As orientações
Ao lado desse trabalho com alunos da Graduação, no início, começo também minhas orientações com alunos do mestrado e, depois, do doutorado. Minha primeira defesa de mestrado aconteceu em 1999 e a de doutorado em 2005. Depois disso até agora sigo orientando e, confesso, não faço mais a conta de quantos foram os mestres e doutores formados. Só sei que continuo ainda com o mesmo entusiasmo e a mesma alegria ao abraçar algum novo projeto e conviver com jovens pesquisadores, com quem a troca acadêmica é sempre renovadora e gratificante. Além de mestrandos e doutorandos, acrescentei a meu currículo colegas que me procuram para a supervisão de pós-doutorado. Sinto muito prazer nessa função, pois aprendo bastante acerca de outros objetos teóricos, de diferentes áreas vizinhas e descubro novos desafios a serem trilhados nos caminhos infindáveis, tensos e surpreendentes do discurso.
O Seminário de Estudos em Análise do Discurso (SEAD)
Outro fato marcante nesse período de 30 anos, em que tento fazer um pareamento com a existência da Revista Rua, foi a criação do Seminário de Estudos em Análise do Discurso (o I SEAD), em 2003, em Porto Alegre, na UFRGS, e que agora em 2025 completa sua XII edição, dessa vez em Maceió. O SEAD surgiu de conversas nas aulas de Análise do Discurso do nosso Programa de Pós-graduação. É nesse palco soberano e sagrado, onde as pequenas-grandes revoluções acontecem, que foi gestado o nascimento do nosso SEAD, como uma forma muito singela e genuína de marcar os 20 anos da morte do fundador e principal formulador da teoria do discurso – Michel Pêcheux – desaparecido em 1983. Até hoje esse segue sendo um grande feito, porque conseguimos não só dar início a um grande evento, de repercussão nacional e internacional, como manter essa chama viva, com o mesmo rigor e qualidade, pelo mais importante encontro de analistas de discurso do Brasil, como é dito frequentemente pelos nossos pares.
O Pós-Doc em Paris e seus desdobramentos
Uma etapa decisiva nessa trajetória foi o período de estágio pós-doutoral em Paris, na Sorbonne Nouvelle, Paris 3, de 2008 a 2009. Por questões familiares tive que adiar bastante esse desejo, mas que felizmente se realizou e foi extremamente marcante na minha formação docente e na minha vivência pessoal. Sob a supervisão de Jean-Jacques Courtine desenvolvi meu projeto sobre o corpo discursivo, dando a largada para uma investigação teórica que até hoje me afeta. Nesse período do pós-doc assisti a dois cursos de Courtine, muito estimulantes e enriquecedores – sobre o corpo e a imagem. As aulas eram naquele estilo expositivo, do professor sentado à frente, com suas anotações e falando à turma, por duas horas, sobre os temas em tela. Mas havia espaço para perguntas, caso houvesse interesse, o que sempre me pareceu muito proveitoso. Eu mesma, algumas vezes, me animei a trazer algum comentário. Os dois cursos, como falei, trataram das questões do corpo, numa perspectiva mais foucaultiana, e da imagem, numa perspectiva da semiologia histórica (expressão cunhada por Courtine), e cada um desenvolvido nos dois semestres do ano da graça de 2008.
O corpo
No semestre inicial fiz o curso sobre o Corpo, que era o foco de meu projeto, cujo título em francês tinha por nome: Le corps, entre et le sujet et la langue. Eu trazia já algumas leituras no campo da Análise do Discurso, da Psicanálise, da Filosofia, da História. Mas as conversas com Courtine me renderam boas indicações. Lembro, por exemplo, do livro do Paul Schilder , que eu desconhecia, e que é um precursor dos trabalhos sobre corpo dentro da área da psicanálise e psiquiatria. Schilder (1968) trabalha com a noção de imagem do corpo, sob tríplice dimensão: como suporte material, como estrutura subjetiva e como significação social. Penso ser muito produtiva essa forma como o autor austríaco cerca o objeto-corpo, buscando investigá-lo do ponto de vista interno da sua base constitutiva e de suas repercussões e efeitos externos. Ainda pretendo retomar essa noção clássica de imagem do corpo e atualizá-la, trazendo para nossa era digital, cunhando-a como imagem social de um corpo virtual.
Courtine, linguista de formação, atuava em Paris 3, Sorbonne Nouvelle, no período de meu pós-doutorado, como titular da cadeira de Antropologia Histórica e Cultural. Foi também no semestre do corpo que entrei em contato com o trabalho de Marcel Mauss, considerado o pai da Antropologia, mais especialmente suas Técnicas Corporais , em que analisa e descreve as diferenças culturais que são marcadas no corpo dos sujeitos, o que me parece, até hoje, uma descoberta genial. Foi assim que ele observa o modo diferente de marchar dos soldados franceses e ingleses na I Guerra Mundial, bem como as singularidades na forma de executar as técnicas corporais de natação
Desde a volta dos estudos de pós-doutoramento até hoje, já são vários os trabalhos publicados sobre o corpo e suas implicações com outras áreas de pesquisa. Tudo isso aconteceu como desdobramento do projeto inicial, redigido em 2007, e encaminhado à Capes para obtenção da bolsa, o que efetivamente se deu no ano seguinte. A partir daí houve sempre uma escuta ativa para novas interrogantes que seguem até hoje. O corpo, como objeto de análise, além de ser extremamente fascinante, parece inesgotável, e tem o dom de estar sempre nos desacomodando e desafiando. São muitas as perspectivas pelas quais se pode analisar o corpo, buscar decifrá-lo, como dizem alguns especialistas.
Em 2015, ao lançar um livro com meu grupo de pesquisa – Oficinas de Análise do Discurso: conceitos em movimento – anunciava na apresentação uma proposta de analisar o corpo, com nítida influência, ainda, de Paul Schilder, mas buscando certas particularidades na designação, com intuito de produzir uma possível reterritorialização no campo do discurso. Nos termos formulados então o corpo poderia ser trabalhado também em uma tríplice condição, mas com diferenças de natureza e escopo. Assim teríamos o corpo: (1) como lugar de observação do sujeito, (2) como objeto de investigação e (3) como ferramenta, isto é, como categoria teórica” (Leandro Ferreira, 2015, p. 13).
Acho importante registrar essas distintas compreensões e consequentes formulações do mesmo objeto ao longo tempo. O fato é que já não se trata mais do “mesmo” objeto, pois o efeito da historicidade sobre o conceito e sobre o analista atuam sem cessar e vão produzir esse efeito de deslocamento. Sabemos que a caminhada é longa e pressupõe obstáculos e impasses, o que antes de nos dissuadir ou desanimar, vai operar como provocação e chamado para seguir pesquisando.
A prova é que em 2023, organizei com Luciana Vinhas, um novo livro totalmente dedicado ao corpo na Análise do Discurso. Foi um intenso e cuidadoso trabalho em que convidamos colegas de todo o Brasil, de várias Instituições de Ensino Superior, para participar do projeto da coletânea, trazendo suas pesquisas e reflexões mais recentes. Tivemos um retorno expressivo, resultando num volume de quase 600 páginas, mostrando a versatilidade, a potencialidade e o interesse sobre o corpo, objeto que mais nos identifica, fala de quem somos e carrega as marcas de nossas dores e angústias. Tal é o caráter enigmático, ambivalente e paradoxal do corpo, como objeto teórico. Como escrevi na nossa coletânea:
A cada vez que mergulho nesse tema me parece que há camadas submersas que restam intocadas, mas que estão ali, latentes, à espera de que as signifiquemos, dando-lhes um nome e uma razão para ali estar. A única certeza, talvez, é a de que pouco ainda sabemos sobre essa categoria – o corpo soberano = o corpo assujeitado – o corpo paradoxal (39).
A imagem
O trabalho propriamente com as imagens trouxe à cena alguns conceitos novos para mim e que, desde então, passaram a ser muito produtivos na minha leitura das diferentes materialidades discursivas. Um deles que gostaria de destacar é o conhecido “punctum”, de que trata Roland Barthes, em Câmara Clara (1984), que me fez ter um olhar mais agudo e sensível para as fotografias. O punctum é o elemento singular, inesperado, que atrai o olhar do espectador e causa uma experiência subjetiva única, tal o seu poder de afetação, tornando a fotografia inesquecível para aquele que o percebe. Barthes distingue o “punctum” do “studium”, que seria a compreensão cultural do que é retratado. O “studium” será assim mais previsível, passando a informação precisa que a imagem nos dá, a situação social e cultural que é mostrada. Tende a ser, portanto, uma leitura mais geral, coletiva, sem as nuances e idiossincrasias do “punctum”.
Na verdade, a semiologia sempre foi objeto de pesquisa por parte de Courtine, que buscou introduzir certos conceitos, como o de intericonicidade, para estudar como as imagens funcionam discursivamente, levando em conta a memória e a forma como elas se repetem. Essa retomada da Semiologia numa perspectiva histórica não chega a ser algo novo, portanto, na sua produção. Veja-se o texto O chapéu de Clémentis2 (La toque de Clementis), onde ele analisa como uma fotografia, do tempo de Stalin, ao se tornar um ícone3, vai desencadear uma série de memórias e esquecimentos.
O equívoco revisitado no corpo e na arte
O foco no equívoco começou pela língua em sua forma material, sujeita a falhas, deslizamentos e mal-entendidos, que fazem parte de sua própria estrutura. Encontrei em Pêcheux o entendimento de que toda língua é da ordem da equivocidade. Equivocar-se faz parte do real da língua. E mais: esse equívoco é um fato linguístico estrutural implicado pela ordem do simbólico. Desse modo, Pêcheux ressalta a necessidade de se trabalhar no ponto em que cessa a consistência da representação lógica inscrita no espaço dos “mundos normais” (Pêcheux, 1990, p. 51). Ou seja, o equívoco como o avesso da língua, mas também como seu direito, pois não há mais a distinção logicamente estabelecida do dentro/fora, do interno/externo, normal/anormal. Eis uma mudança de paradigma na forma de conceber a língua pelo enfoque discursivo. Isso porque a língua é um sistema intrinsecamente passível de jogo e dentro desse espaço é que o equívoco se manifesta pelo viés da falta, do excesso, do repetido, do imprevisto, do estranho, do absurdo. Em todas essas possibilidades se dá a ruptura do fio discursivo e se abre o espaço para fazer e desfazer sentidos
Esse mergulho teórico no universo do equívoco segue até hoje me impactando e me fazendo perceber seus sinais, seja pela materialidade da língua, seja por alguma outra materialidade significante, como é o caso do corpo, ou mobilizando campos vizinhos, como o da arte e da cultura. Vou exemplificar esse mergulho com dois textos em que trato dessas questões.
Um deles
4refere-se a uma obra da artista plástica Louise Bourgeois, especialmente sua escultura “O arco da histeria”, em que o corpo nu de uma mulher, sem cabeça, suspenso por um fio, paira no ar, como puro gozo, sob a
forma de um arco, quase um círculo, numa referência ao eterno porvir que a vida nos impõe ou nos condena em um ciclo infinito. Nessa arte em bronze, Bourgeois faz com que devido ao arco as mãos e os pés quase se toquem, em uma torção agonizante. “Essa imagem feminina, forte em sua resistência e frágil em seu abandono, revela toda a agonia de um corpo que fala e que não mente” (Leandro Ferreira, 2013, p. 118).

Figura SEQ Figura \* ARABIC 1 BOURGEOIS, Louise. Arch of Hysteria (1993).
Outro texto
5foi inspirado por uma exposição vista em Paris, no Grand Palais, “Seis bilhões de outros”, do fotógrafo Yann Arthus-Bertrand, no início de 2009. Ele seria uma espécie de Sebastião Salgado dos franceses. Bertrand, além de fotografar pessoas de todos os continentes, dá voz a elas para que falem de temas comuns a toda humanidade, como amor, morte, felicidade, maiores medos, infância, entre outros. E o que se pode constatar é que no meio de tantos Outros, entre tanta diversidade, ainda assim, o que se destaca é o particular de cada um, enquanto universal que há em cada homem, universal que nos habita e que partilhamos pela nossa condição de humanos. Meu propósito foi mostrar que essa
mega escuta de 6 bilhões de Outros pode nos dar
elementos para integrar, de modo efetivo, o social e a cultura ao dispositivo discursivo. A ordem da cultura e a ordem do discurso encontram-se interligadas pela linguagem, pela ideologia e pelo inconsciente, bem como o sujeito do discurso e da cultura, os quais se constituem pelos mesmos modos de determinação.
Poder tratar de corpo, de cultura e de arte e de tantas outras noções, sob a perspectiva teórica da análise do discurso, é algo que me fascina, me entusiasma e me faz perceber a generosidade da teoria que me afeta, a qual sem abrir mão do rigor de seus postulados teórico-analíticos, sem vulgarizar ou diluir seus conceitos, abre espaço para olharmos, de seu observatório, novas ou diferentes possibilidades de objetos discursivos.
Rememorar esse percurso pessoal de 30 anos, a partir da celebração dos 30 anos de existência da Revista Rua, foi um exercício muito prazeroso, inspirador e emocionante. Espero que possamos contar por muito tempo com a Revista Rua enriquecendo nossa área com trabalhos que, não só nos coloquem na ponta de lança das pesquisas de excelência, como nos possibilitem continuar fazendo parte de sua história de sucesso.
Referências:
BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. 8. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
BOURGEOIS, Louise. Arch of Hysteria. 1993. Bronze, acabamento polido. The Easton Foundation; MOMA: Nova Iorque, 1993. Disponível em: https://www.moma.org/audio/playlist/42/681. Acesso em set. 2025.
CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo. Vol. 1: Da Renascença às Luzes. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo. Vol. 2: Da Revolução à Grande Guerra. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo. Vol. 3: As mutações do olhar. O século XX. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
COURTINE, Jean-Jacques. O chapéu de Clémentis: observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político. In: INDURSKY, Freda; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (org.). Os múltiplos territórios da Análise de Discurso. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1999.
LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. A antiética da vantagem e do jeitinho na terra em que Deus é brasileiro: o funcionamento discursivo do clichê no processo de constituição da brasilidade. In: ORLANDI, Eni (org.). Discurso fundador: a formação do país e a construção da identidade nacional. Campinas: Pontes, 1993, p. 69-80.
LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. O lugar do social e da cultura numa dimensão discursiva. In: INDURSKY, Freda; MITTMANN, Solange; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (org.). Memória e história na/da análise do discurso. Campinas: Mercado de Letras, 2011, p. 55-64.
LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. Discurso, arte e sujeito e a tessitura da linguagem. In: INDURSKY, Freda; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina; MITTMANN, Solange (org.). O acontecimento do discurso no Brasil. Campinas: Mercado de Letras, 2013, p. 127-140.
LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (org.). Oficinas de análise do discurso. Conceitos em movimento. Campinas: Pontes, 2015.
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LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. Quando o corpo acontece. In: LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina; VINHAS, Luciana Iost (org.). O corpo na análise do discurso: conceito em movimento. Campinas: Pontes, 2023, p. 35-56.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003, p. 399-422.
PÊCHEUX, Michel. O Discurso: estrutura ou acontecimento. 3. ed. Campinas: Pontes, 1990.
SCHILDER, Paul Ferdinand. L’ image du corps. Paris: Gallimard, 1968.
1 COURTINE, Jean-Jacques. O chapéu de Clémentis: observações sobre a memória e o esquecimento na enunciação do discurso político. In: INDURSKY, Freda; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (org.). Os múltiplos territórios da Análise de Discurso. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1999.
2 Na foto inicial aparecia Clémentis, que havia emprestado seu chapéu, a um importante líder soviético, Gottwald. Na foto seguinte, Clémentis já não aparece (fora executado como traidor), mas seu chapéu está lá na imagem, como vestígio indiciário, denunciando o apagamento e acionando a memória.
3 LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. Discurso, arte e sujeito e a tessitura da linguagem. In: INDURSKY, Freda; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina; MITTMANN, Solange (org.). O acontecimento do discurso no Brasil. Campinas: Mercado de Letras, 2013, p. 127-140.
4 LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina. O lugar do social e da cultura numa dimensão discursiva. In: INDURSKY, Freda; MITTMANN, Solange; LEANDRO FERREIRA, Maria Cristina (org.). Memória e história na/da análise do discurso. Campinas: Mercado de Letras, 2011, p. 55-64.
5 Doutora em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: kittyleandro@gmail.com.