Um bairro é um bairro só?


resumo resumo

André Silva Barbosa



Introdução

Em meados do século XIX, antes mesmo de Pouso Alegre ser elevada à categoria de cidade, às margens do rio Mandu, sobre os aterros feitos para conter as suas cheias, com as poucas casas que iam sendo construídas, já começava a se formar o bairro que primeiramente ficou conhecido no município como Aterrado. Essa sua denominação permanece até os dias de hoje, embora atualmente ela divida espaço com o nome oficial que o bairro recebeu no início do século XX: São Geraldo.

A partir de uma compreensão discursiva da noção de “denominação”, como propõe Costa (2012, p.146), que a entende como “um vetor ideológico” que “funciona no percurso dos sentidos” e que “os carrega no trajeto entre espaço e sujeitos”, com esta pesquisa, um dos nossos objetivos foi analisar o funcionamento discursivo das distintas nomeações em questão, visando observar o modo como cada uma delas significa o bairro[1]. Como mostraremos, é diferente se dizer Aterrado ou São Geraldo, posto os sentidos que constituem esses nomes em suas relações diversas com a memória discursiva.

O segundo objetivo que aqui buscamos realizar surgiu a partir dessa primeira etapa do nosso processo de análise. Inicialmente, colocamos a seguinte indagação: o Aterrado e o São Geraldo são um bairro só? Indo mais além, deslizamos posteriormente para a seguinte questão: um bairro é um bairro só? Tais perguntas nos conduziram a refletir sobre a própria categoria de bairro, o que nos trouxe o intuito de apreendê-la pelo viés do nosso campo teórico, o da Análise de Discurso. Assim, também estabelecemos o objetivo de abordar discursivamente o conceito de bairro, buscando fazer avançar o nosso entendimento sobre ele.

Com essa discussão e com base nas nossas análises, como mostraremos, pudemos compreender que a categoria de bairro, a partir de um “saber sobre a cidade” (ORLANDI, 1999), funciona através de um efeito de evidência de unidade, e propomos outra abordagem, levando em conta não apenas o “território”, mas ainda a “territorialidade” (IDEM, 2011). Assim, chegamos a uma definição de “bairro” em que ele não é entendido somente como uma “área” delimitada pela projeção sobre um espaço institucionalizado através dos seus contornos expostos em um mapa, mas, sobretudo, digamos, por uma cartografia de sentidos, desenhada por um “gesto de interpretação” de uma “territorialidade”. A partir da nossa pergunta, também pudemos questionar o gesto de se fixar um sentido específico de “bairro” que faz funcionar a evidência de que um bairro é apenas um “bairro”. Considerando-o como um “espaço de interpretação” (IBIDEM), pudemos observar que um bairro não é apenas um “bairro” no sentido já determinado no/pelo discurso de “organização” da cidade. Com base nas nossas análises e discussões teóricas, chegamos à compreensão de que um bairro não é um “bairro” só, de que ele é um espaço que constitui, que individua, que produz identificação dos sujeitos.

Em ambas as etapas do nosso texto abordamos os nomes Aterrado e São Geraldo. Primeiramente, o nosso foco se manteve em determinados discursos sobre o bairro, que se referem a ele por essas denominações. Nesta parte, os materiais que elencamos para análise foram recortes do site Desciclopédia, e da página do Facebook Pouso Alegre da Depressão. Na seção sequente, através de arquivos do Museu Municipal Tuaný Toledo e de pesquisas historiográficas sobre Pouso Alegre, buscamos expor o modo como os nomes Aterrado e São Geraldo foram produzidos e “historicizados” (IBIDEM, 2012a) na cidade. Em seguida, tendo em vista as conclusões das etapas anteriores, e elencando também fragmentos de discursos que analisamos de uma forma mais aprofundada em nosso trabalho de mestrado, do qual partimos para escrever o presente artigo, tecemos algumas considerações finais a respeito das denominações Aterrado e São Geraldo e do modo como elas são constituídas de sentidos. Por fim, baseados nos resultados das nossas análises, realizamos a discussão do conceito de bairro que introduzimos acima.


Discursos sobre o Aterrado e sobre o São Geraldo

Começaremos abordando um discurso em que o bairro é nomeado como Aterrado, que é um recorte da página da cidade de Pouso Alegre no site Desciclopédia[2]:

O Aterrado: Um lugar bucólico, esquecido por Deus e lembrado por alguns em época de eleições. É cercado por mato e água de um lado e pela miséria e a polícia do outro. A única coisa que entra lá de boa é a água do Rio Mandu. Visitas ao local ocorrem mediante apresentação do "GreenCard" ou com o passaporte da alegria. Não se recomenda tirar fotos e nem filmar, aliás, o melhor é nem ir lá. Na famosa rua Oscar Dantas é possível comprar produtos que deixam qualquer ser humano na velocidade da droga. Simplesmente um luxo! Lá onde reside o povo areia[3].

Um dos modos possíveis de se interpretar a colocação povo areia é a partir dos filmes Star Wars, onde um dos gêneros de seres é assim chamado. Considerando essa relação, observamos como a “denominação funciona no percurso dos sentidos como um vetor ideológico”, e como ela “se interpõe como um corpo opaco entre o corpo do sujeito e o corpo da cidade” (COSTA, 2012, p.146). Isto é, notamos como aqui os moradores são negados como pessoas ao passo em que são referidos pela nomeação de uma espécie de ser vivo não-humana, e como essa denominação também produz sentidos sobre o bairro. Tendo em vista que na ficção de Star Wars aquele povo vive em um dos planetas existentes no universo da saga, organizado em tribos, praticando a caça e guerra contra outros povos, podemos notar que os habitantes do bairro são aí significados pela hostilidade para com os que nele não residem. Quanto ao espaço do bairro, ou melhor, à sua localização no espaço, ela é dada como se o Aterrado não pertencesse a Pouso Alegre, como se ele estivesse posicionado em um lugar distante (assim como um outro planeta).

De uma forma geral, esse discurso significa o Aterrado como um local de criminalidade, um lugar hostil para os seus não-moradores. O paralelo entre o bairro e os E.U.A, também o coloca como um lugar distante e distinto do restante da cidade. Considerando que o Green Card é um documento emitido pelo Governo estadunidense que concede o direito de livre permanência nos E.U.A, observamos que, ao dizer que para visitar o Aterrado é necessário um “GreenCard”, ele é posto como um local que não é de livre circulação para qualquer pousoalegrense, que caberia aos representantes dos seus moradores decidirem quem pode ou não entrar em seu espaço.

E com a expressão passaporte da alegria, esse direito de decisão é deslocado de uma esfera oficial para um nível clandestino. A autoridade aqui é posta especificamente em relação ao tráfico de drogas. É o que compreendemos com a análise do restante da formulação, na qual é dito: Não se recomenda tirar fotos e nem filmar, aliás, o melhor é nem ir lá. Na famosa rua Oscar Dantas é possível comprar produtos que deixam qualquer ser humano na velocidade da droga. Em produtos, muitos sentidos poderiam estar significando, mas um deles é realizado. Para prosseguir com o sarcasmo inicial, vemos que produtos é mencionado para não se dizer drogas, mas que com a explicitação do seu efeito e a comparação utilizada para melhor explicá-lo, o seu sentido de drogas surge posteriormente. Enfim, a razão pela qual é indicado que não se recomenda tirar fotos e nem filmar, que o melhor é nem ir lá, é devido ao Aterrado estar sendo dado como um espaço exclusivo de tráfico de drogas. Assim, entendemos que a permissão que neste enunciado está sendo dita como algo necessário para se entrar no bairro, é concedida aos que são usuários de drogas, logo, pelos responsáveis por esse ramo de comércio. O efeito-leitor nele inscrito pressupõe um internauta que não consume tais produtos, e é dessa forma que a ressalva é de que o melhor é nem ir lá.

A criminalidade em relação ao Aterrado também é significada na citação de que ele, de um lado é cercado pela polícia. Além dela, nessa parte sublinhamos ainda outros sentidos sobre o bairro. Inicialmente ele é posto como um local rústico, campesino, ao ser apontado como um lugar bucólico, cercado por mato e água de um lado. Essas palavras, que a princípio estão tomando-o como uma área rural, abrem o caminho para a colocação da questão das enchentes que geralmente o atingem. Na sequência, ainda para dizer que a circulação por ele é restrita para aqueles que não são seus moradores, a água do Rio Mandu é designada como a única coisa que entra lá de boa.

Em esquecido por Deus e lembrado por alguns em época de eleições, é apontada uma responsabilidade pela situação precária em que o bairro existe. Ela é dada na significação do seu “esquecimento”: primeiramente, na citação do que ocorre por parte de um dirigente transcendental; em seguida, no momento em que é dito que ele é lembrado por governantes da cidade. Situando esse “lembrar” como algo que acontece somente em épocas de eleições, o esquecimento do Aterrado em todos os outros períodos pelos governantes mundanos é significado sob a forma de um “não-dito” (ORLANDI, 2009). Por duas vias, ele é colocado como um local desamparado: pelos céus e pela terra. Com o estabelecimento de um “esquecimento divino”, notamos novamente a produção do imaginário pejorativo sobre ele. E com a formulação do “esquecimento terreno”, observamos a inscrição do real do bairro: o histórico descaso da administração pousoalegrense para com ele, a “falta do Estado” (IDEM, 2012b) no bairro. Neste momento, vemos que, embora este discurso, de uma forma geral, esteja se filiando ao “imaginário de organização do urbano” (IDEM, 2001), nesse ponto, ele também é atravessado pelo “discurso da cidade”.

Estas últimas passagens que abordamos, ressaltam o fato de que o bairro é atingido pela enchente e a maneira como ele é administrado em Pouso Alegre, no entanto, essas formulações são realizadas em uma situação que reforça a separação entre o São Geraldo e o restante da cidade, funcionando de um modo que produz a delimitação das fronteiras do bairro, que neste caso são dadas por essas duas perspectivas: o fator natural (cercado por mato e água de um lado) relacionado ao “transcendente” (esquecido por Deus); e o social (pela miséria e a polícia do outro) ligado ao político (lembrado por alguns em épocas de eleições). Assim, ressaltamos que, embora alguns aspectos do real do bairro estejam inscritos nesse discurso, nele há a dominância da formação discursiva que significa o Aterrado pela marginalização, pela generalização dos seus aspectos negativos. Pois, mesmo que ele esteja significando o real do bairro, de uma forma geral, o que nele sobressai é o apagamento da constituição do bairro pela falta do Estado, isto é, o silenciamento do próprio real do bairro.

O segundo material que analisamos é uma imagem posta em circulação na rede social do Facebook pela página Pouso Alegre da Depressão. Abaixo do título Mulheres de Pouso Alegre!, há quinze quadros, cada com uma figura que é atribuída a um local da cidade. Vejamos:



Não são somente bairros que estão sendo referidos nesta imagem. Club Literário, Texas e Shopping, por exemplo, são espaços de lazer. Direito é uma se remete à Faculdade de Direito de Pouso Alegre. Perimetral é uma avenida que conduz à saída da cidade na direção oeste. O “efeito-leitor” (ORLANDI, 2008) produzido nos nomes de cada lugar pode causar a identificação de quem lê para com um local mencionado, no entanto, isso não necessariamente implica a sua identificação para com a personagem da fotografia correspondente a ele. E, além das mulheres, as fotos estão atribuindo sentidos aos lugares descritos abaixo delas também. Como nos diz Orlandi (IDEM, 2012b, p. 201), “o corpo do sujeito está atado ao corpo da cidade e estes são significados por essa ligação”. Neste caso, certos locais de Pouso alegre são significados pelos corpos mostrados.

O nosso interesse nessa imagem ocorreu principalmente por ela estar mencionando o bairro que é o nosso objeto de pesquisa. Portanto, não nos aprofundamos com a análise dos diversos sentidos que ela está formulando em seu conjunto. De um modo geral, destacamos que as mulheres dos locais habitados ou frequentados por uma população de maior poder aquisitivo, como o Alta Vile, o Clube Literário, o Fátima, a Faculdade de Direito e a Faculdade (e/ou o bairro) Medicina estão representados por corpos que se destacam nos quesitos de riqueza, de elegância, de saúde e de beleza. Por outro lado, as mulheres dos bairros e lugares nos quais não há a predominância de pessoas mais ricas (Aterrado, São Geraldo, Perimetral, Texas), dos que são periféricos (Jatobá) ou rurais (Pantano), na maioria das vezes são significadas por corpos que fazem funcionar um imaginário pejorativo sobre a população que mora ou frequenta o local em questão. Quanto à Avenida Perimetral, por exemplo, não haver uma mulher, mas um homem travestido, pode estar dizendo respeito à prostituição exercida por travestis naquele local.

Entre os diversos comentários que esta postagem teve no Facebook, um chamou mais a nossa atenção. Em certa altura um sujeito disse: mas aterrado e sao geraldo e um bairro so. Essa afirmação tem sustentação na história de Pouso Alegre, em seus mapas, nos guias das ruas da cidade, nas listas telefônicas, nos documentos oficiais, enfim. Mas vamos questionar essa evidência: Aterrado e São Geraldo é um bairro só? Ou seja: esses dois nomes se inscrevem em uma região idêntica do interdiscurso? São os mesmos sentidos que se significam em um e em outro? Ao dizermos Aterrado e São Geraldo falamos (d)o mesmo bairro?

Na imagem que estamos analisando eles aparecem divididos. Embora ambos estejam constituídos pelo imaginário pejorativo sobre o bairro, observamos determinadas diferenças entre eles.

Podemos dizer que a mulher selecionada para representar o São Geraldo é feia, isso levando em conta o padrão de beleza dominante em nossa sociedade. É um corpo extremamente magro, no qual quase se nota a presença dos ossos do braço, do tórax e das coxas. Igual à sua pose, o seu rosto e o seu sorriso parecem desalinhados. Nos lábios, um batom muito chamativo, e no corpo uma vestimenta bagunçada. De um modo geral, podemos compreender que assim esta imagem está significando o São Geraldo como um bairro sem vigor, feio e desorganizado. Já no caso do Aterrado, essa falta de vitalidade atinge o seu ápice. Diferentemente de todas as outras fotografias, em que há mulheres feias ou bonitas, magras ou gordas, com roupas luxuosas ou mais simples, ou até mesmo um homem travestido, mas sempre corpos de carne e osso, na foto do Aterrado são só ossos, um corpo sem a sua carne. No São Geraldo ainda podemos notar algumas plantas ao lado de um caminho, mas para o Aterrado o cenário é somente um fundo preto. Em seu quadro, não entra em questão se é um corpo feio ou belo, rico ou pobre, simples ou ornamentado, feminino ou masculino, se o local em que ele está é limpo ou sujo, organizado ou desorganizado, pois nele o que há é somente um corpo sem carne, morto e em meio às trevas. Esses são os sentidos atribuídos ao Aterrado nesta imagem, o de um bairro desconhecido, sem vida, nem humana e nem natural.

Ao questionarmos sobre a divisão do bairro em Aterrado e São Geraldo, não estamos nos referindo apenas a esse discurso que analisamos acima, mas sim às distintas formas como esses nomes se inscrevem na história para significar, aos diversos sentidos constituídos na materialidade de um e de outro, enfim, à diferença no modo como Aterrado e São Geraldo são construídos discursivamente. É nestas questões que aprofundaremos no próximo capítulo.


O bairro (se) faz sentido

Neste momento, iremos analisar e expor a maneira como os nomes Aterrado e São Geraldo surgiram. Porém, não é a “história” que apreenderemos, mas sim a “historicidade”, esta que, segundo Orlandi (2012a, p.13), é definida pelo modo “como os sentidos se constituem na relação da linguagem com a exterioridade, pensando a exterioridade no texto, discursivamente, isto é, produzindo efeitos de sentidos por e para sujeitos” (Grifo da autora). Ou seja, o que procuramos não é traçar a “história” dessas nomeações, mas sim compreender a sua “historicidade”, quer dizer, o modo como nelas a história se inscreve para significá-las.

Começamos pela análise de um vídeo que foi produzido pelo historiador Juliano Finamor com base em obras historiográficas de Pouso Alegre e em arquivos do Museu Municipal da cidade. O seu título é Por que “Aterrado”?[4]. Ele traz as seguintes falas:

O bairro São Geraldo surgiu em uma várzea adjacente ao centro da cidade, que fica em um terreno relativamente baixo às margens do rio Mandu com confluência do rio Sapucaí Mirím. Na imagem captada por satélite é possível percebermos o quanto o bairro São Geraldo sempre esteve vulnerável às inundações. O bairro é até hoje popularmente conhecido na cidade como o bairro do Aterrado (...) Em 1927, conforme a Resolução número 167 da Câmara Municipal, o bairro que ainda se chamava Aterrado, passou a ser chamado de bairro São Geraldo devido a um abaixo assinado dos moradores que alegaram ser hostilizados pela conotação pejorativa de Aterrado. O nome sugerido foi para homenagear o santo Gerardo Magela, franciscano, em virtude dos milagres que praticava. Também consta nesses documentos a informação de que o nome do bairro foi mudado para evitar parecer ignorância a respeito da vida do santo e outras considerações de mau gosto, e ao invés de São Gerardo, como o nome oficial do santo, o bairro teve o seu nome modificado para São Geraldo.

Apesar do seu título, no início, para mostrar ao espectador o bairro que está sendo tratado, a palavra Aterrado não é mencionada, mas somente São Geraldo. Na formalidade de sua pesquisa, o próprio autor procura evitar essa expressão para se referir ao bairro, e ela só aparece com a ressalva de que se trata de uma nomeação popular. Ou seja, o pesquisador tenta expor que não é ele quem está pronunciando essa denominação. Ele mostra que, nas suas palavras, o bairro é São Geraldo. Isso pode ser visto também no título, no qual Aterrado é escrito entre aspas. De ambos os modos, vemos que é produzido um afastamento entre esse termo e os dizeres do historiador.

Como mencionamos inicialmente, o bairro começou a se formar em meados do século XIX nas várzeas do rio Mandu, ou seja, em locais alagáveis. Na época, de acordo com Gouvêa (2004, p.107), essa várzea “tornava-se anualmente um reservatório natural das águas da enchente”, e a “baixada do Aterrado se transformava, então, num verdadeiro lago”. Para amenizar as graves consequências causadas por essas enchentes, foram sendo feitos diversos aterros. Informações obtidas no Museu Municipal nos dizem que o primeiro deles ocorreu no ano de 1839 e, segundo Faria (2008, p.76), se intensificaram após a elevação da Vila de Pouso Alegre à categoria de cidade em 1848, em áreas onde “foram sendo construídas casas e se formando um bairro chamado Aterrado”. Foi a partir desses aterros que surgiu o nome Aterrado.

Quanto ao São Geraldo, retornando às falas do vídeo, vemos que ele tem início com uma iniciativa dos próprios moradores, que fizeram um abaixo assinado para instituí-lo. Como a pesquisa nos fala, eles alegaram ser hostilizados pela conotação pejorativa de Aterrado. Dessa forma, observamos que desde antes da década de 1920 a nomeação Aterrado já era constituída de sentidos pejorativos, e que por isso os moradores instauraram para com ela uma “política do silêncio” (ORLANDI, 2007) através do nome São Geraldo. Segundo Orlandi, “ao dizer algo apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada”, e é por esse efeito que se define a “política do silêncio”, em que “se diz ‘x’ para não (deixar) dizer ‘y’, este sendo o sentido a se descartar do dito”. Acompanhando essas colocações, diremos que a denominação São Geraldo é criada como uma forma de se apagar os sentidos indesejáveis que eram realizados em Aterrado, para não (deixar) chamar mais o bairro assim. Podemos notar ainda que, a princípio, é uma nova formação discursiva sobre o bairro sendo produzida. Como nos explica Orlandi (IBIDEM, p.73, 74), em um caso de “silenciamento”, os sentidos apagados são “sentidos que poderiam indicar o trabalho significativo de uma ‘outra’ formação discursiva, uma ‘outra’ região de sentidos”. Assim, ao passo em que há uma investida para silenciar os sentidos de Aterrado, acontece também uma tentativa de impedir o trabalho de uma formação discursiva, na qual esse era o nome do bairro. Porém, como sabemos, ela não deixa de existir, ela prossegue às margens, e com a nova nomeação o que surge é uma outra formação discursiva.

Para apagar os sentidos terrenos de Aterrado, isto é, os que ligavam o bairro à terra, os moradores escolheram um nome celestial. De Aterrado a São Geraldo: da terra ao Céu. Podemos mesmo dizer que se passa do profano ao sagrado, pois, com o novo nome, no fim, o que se buscava era restituir o status de sagrado a algo fundamental do bairro: a sua vida. O objetivo foi acabar com a hostilidade para com os seus moradores, profanação que para eles tinha uma origem: A(terra)do. E a denominação foi escolhida em homenagem a um santo. Mas como o vídeo ressalta, o nome do bairro não permaneceu igual ao do santo, ele foi mudado para evitar parecer ignorância a respeito da vida do santo e outras considerações de mau gosto. Assim, ao invés de São Gerardo, como o nome oficial do santo, o bairro teve o seu nome modificado para São Geraldo. Quer dizer, a própria nomeação é definida com base em um pré-construído de ignorância por parte dos moradores. Vemos que ela já é instaurada como uma forma de negar esse e outros sentidos de mau gosto a respeito do bairro.

Esse é um dos ângulos da exterioridade que faz a denominação São Geraldo significar. A negação de sentidos pejorativos e a afirmação de sentidos positivos sobre o bairro é parte da historicidade que constitui esse seu nome. É dessa maneira que, conforme notamos durante o nosso processo de pesquisa, em ocasiões em que os sujeitos tomam como pressuposto a existência de uma significação hostil sobre o bairro e buscam fazer oposição a ela, ou mesmo em casos em que se precisa apenas mencioná-lo por alguma razão e se quer manter um distanciamento dos seus sentidos pejorativos, o nome utilizado não é Aterrado, mas, geralmente, São Geraldo. Pudemos fazer essa observação no início do próprio vídeo que estamos analisando, ou em um comentário feito por um expectador, por exemplo, que diz: Parabéns pela matéria, O bairro São Geraldo é um bairro onde a maioria de seus habitantes são simples de origem humilde, mas pessoas honradas e trabalhadoras que também contribuem para o crescimento da cidade.

Mas, para compreendermos melhor a historicidade dos nomes Aterrado e São Geraldo, é necessário apreender também um outro aspecto que está presente nessa relação. Quanto ao São Geraldo, vemos que há ainda outros sentidos que nele estão investidos desde o seu estabelecimento e de sua oficialização. Vejamos as Resoluções da Câmara Municipal de nº164 e de nº167, ambas do dia 6 de julho do ano 1927, que são referentes, respectivamente, à instalação de luz elétrica no bairro e à mudança da sua nomeação:

Resolução nº164 de 6 de julho de 1927

Auctoriza a installação de luz electrica no Aterrado, desta cidade, e contem outras disposições.

O povo do município de Pouso Alegre, por seus representantes resolveu e eu, em seu nome sanciono a seguinte resolução:

Art. 1º - Fica o Agente Executivo Municipal Auctorizado a instalar luz electrica no bairro do Aterrado, desta cidade, abrindo, para tal fim, os necessarios creditos e procedendo aos respectivos estudos

Art. 2 – Revogam-se as disposições em contrário.

Mando, portanto, a todas as auctoridades a quem o conhecimento e a execução da referida resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como na mesma se contem.

O Secretário da Câmara a publique e registre.

Secretaria da Câmara Municipal de Pouso Alegre, 6 de julho de 1927.

João Tavares Corrêa Beraldo.

(Presidente da Câmara)

Publicada e registrada no livro respectivo.

Secretaria da Câmara Municipal de P. Alegre, 6 de julho de 1927.

O Secretário: Joaquim Honorio de Mello.

Resolução nº 167 de 6 de julho de 1927.

Muda a denominação do bairro “Aterrado” para “S. Geraldo”.

O povo do município de Pouso Alegre, por seus representantes resolveu e eu, em seu nome sanciono a seguinte resolução:

Art. 1º - Fica denominado “S. Geraldo” o bairro actualmente chamado “Aterrado”, desta cidade.

§ único. O Sr. Agente Executivo Mandará collocar uma placa em logar apropriado do mesmo bairro com a nova denominação.

Art. 2 – Revogam-se as disposições em contrário.

Mando, portanto, a todas as auctoridades a quem o conhecimento e a execução da referida resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como na mesma se contem.

O Secretário da Câmara a publique e registre.

Secretaria da Câmara Municipal de Pouso Alegre, 6 de julho de 1927.

João Tavares Corrêa Beraldo.

(Presidente da Câmara)

Publicada e registrada no livro respectivo.

Secretaria da Câmara Municipal de P. Alegre, 6 de julho de 1927.

O Secretário: Joaquim Honorio de Mello.

Embora o bairro seja constituído pela falta do Estado, como dissemos anteriormente, observamos que no nome São Geraldo ele começa a marcar a sua presença no bairro. Em relação a essa “falta”, ressaltamos que “o Estado, em uma sociedade de mercado predominantemente, falha em sua função de articulador simbólico e político” (ORLANDI, 2012b, p.229), e que é essa sua “falha” que produz a “falta”. Portanto, de um modo mais preciso, pontuamos que, ao falarmos sobre a “falta do Estado”, não estamos afirmando que ele esteve totalmente ausente no local em questão, mas sim que essa sua presença é estruturada pela “falha”, que por sua vez gera a “falta” no bairro. Assim, ainda que posteriormente o Estado tenha faltado em muitos outros aspectos necessários para uma boa qualidade de vida dos moradores, dizemos que no estabelecimento da denominação São Geraldo há um gesto inicial da sua presença no (nome do) bairro.

Esse gesto pode ser percebido por diferentes perspectivas. Primeiramente, chamamos a atenção para o fato de que ambas as Resoluções que transcrevemos acima foram publicadas em 6 de julho de 1927. Ou seja, no mesmo dia em que o novo nome foi estabelecido, a autorização para a instalação de luz elétrica, que se pensarmos em termos de urbanização[5] é uma das ações básicas que são tomadas inicialmente na edificação de um bairro, foi concedida ao poder Executivo da cidade. Certamente, antes mesmo dessa decisão os moradores poderiam encontrar outras formas de se fazer a iluminação elétrica chegar ao bairro, porém, nesta ocasião, ainda que tal providência fosse realizada, ela teria sido uma atitude clandestina, pois como está dito na Resolução nº 164, é este documento que auctoriza a installação de luz electrica no Aterrado, é a partir deste dia que o Agente Executivo Municipal é Auctorizado a instalar luz electrica no bairro do Aterrado. Enfim, o momento em que essa medida mínima de urbanização é autorizada para ser efetivada no bairro é justamente o mesmo em que o nome São Geraldo é oficializado.

Na segunda Resolução, a de nº 167, antes de anunciar o Artigo 1º, o Presidente da Câmara Municipal diz: O povo do município de Pouso Alegre, por seus representantes resolveu e eu, em seu nome sanciono a seguinte resolução (grifo nosso). Se considerarmos algumas opções de possíveis substituições para o termo que destacamos nessa frase, teríamos os dizeres de que foi, por exemplo: através de seus representantes que o povo do município de Pouso Alegre resolveu modificar a denominação do bairro; ou que isso ocorreu por intermédio de seus representantes; ou ainda que essa foi uma atitude tomada por causa de seus representantes. Na primeira ocasião, os representantes estão como um meio, como a forma pela qual o povo do município de Pouso Alegre resolveu e atingiu o objetivo em questão. No segundo, eles são aqueles que incitaram o povo do município de Pouso Alegre a realizar essa ação. E no último caso, os representantes aparecem como o motivo pelo qual o povo do município de Pouso Alegre resolveu mudar o nome Aterrado.

Não há como sabermos se a decisão aconteceu porque foi fomentada pelos vereadores, se uma nova nomeação era uma demanda que partira mesmo da administração pousoalegrense, ou ainda se os representantes foram apenas a via pela qual os moradores puderam estabelecer a nova denominação que eles pretendiam. O que observamos é que, de acordo com essa Resolução, não foi somente a população do bairro que instaurou o novo nome, além de estender esse feito aos outros habitantes, pela generalização dada nas palavras o povo do município de Pouso Alegre, ela nos mostra também que a administração da cidade, na figura dos vereadores, foi um caminho pelo qual o São Geraldo teve que passar para ser consolidado como denominação do bairro.

Assim, ela adquire o status de nome oficial e, ao passo em que o Aterrado permanece até hoje como uma forma popular de se chamar o bairro, o São Geraldo se consolida como uma maneira oficial e formal de dizê-lo. Como está escrito na Resolução nº167, cabe a todas as auctoridades a quem o conhecimento e a execução da referida resolução pertencer, que a cumpram e façam cumprir tão inteiramente como na mesma se contem. Ou seja, podemos afirmar que, sobretudo, o São Geraldo é um nome institucionalizado, lícito de acordo com a legislação municipal, uma denominação que não foi só de competência da população, mas sim das auctoridades começarem fazer a vigorar. Na Resolução, após se dizer que fica denominado “S. Geraldo” o bairro actualmente chamado “Aterrado”, desta cidade, o Presidente da Câmara define que o Sr. Agente Executivo Mandará collocar uma placa em logar apropriado do mesmo bairro com a nova denominação. A instalação da referida placa pelas autoridades é uma das primeiras medidas que asseguram a legitimidade da nova nomeação por parte da administração municipal. Dispor a placa no bairro é um gesto simbólico que marca tanto a chegada do nome São Geraldo até ele como a presença do Estado, não só em seu espaço, mas principalmente na nova denominação.

É assim que o Aterrado passa a ser um termo que geralmente não é utilizado em determinadas condições de produção. Ao passo em que a nova nomeação é constituída por sentidos que a investe de oficialidade, de legitimidade, de legalidade, quando o bairro está em questão e se trata de um momento formal, ou de um discurso realizado em uma esfera institucional, ele se sobrepõe ao nome Aterrado, afinal, esses são sentidos que habitam no São Geraldo.

Observamos que é somente no momento em que o bairro recebe a sua nova denominação, constituída pelos sentidos da “organização” (IDEM, 2001) que nessa ocasião passa a incidir sobre o seu espaço, que ele se torna um bairro (com um nome). Embora as duas Resoluções que analisamos tenham sido publicadas no mesmo dia, elas possuem uma ordem de produção, que se vê na sequência que elas apresentam. Seguindo a contagem numérica dos documentos, a Resolução nº164, que diz sobre a instalação de luz elétrica foi redigida primeiro. As passagens em que nela o bairro é citado são especificamente as seguintes: Auctoriza a installação de luz electrica no Aterrado; Fica o Agente Executivo Municipal Auctorizado a instalar luz electrica no bairro do Aterrado.

O bairro é citado em dois momentos, em um ele é referido nos termos no Aterrado, e no outro como bairro do Aterrado. No primeiro, a palavra bairro nem mesmo é utilizada, e Aterrado pode estar significando simplesmente o aterro que existia no local. No segundo encontramos a expressão bairro, porém, Aterrado não é posto como a sua denominação, mas somente como o nome de um dos locais que integram o seu espaço. Em nenhum dos casos é escrito bairro Aterrado. Apesar de haver a consideração de que existe um bairro em questão, ele é dado como um sem nome, ou seja, o Aterrado mesmo não é admitido enquanto bairro. Isso já ocorre na Resolução nº 167, quando é dito que será mudada a denominação do bairro “Aterrado” para “S. Geraldo”, ou que ficará denominado “S. Geraldo” o bairro actualmente chamado “Aterrado”. Desse modo, nestes documentos, ele é assumido como sendo um bairro, mas isso só acontece quando ele é posto em relação ao espaço que passará a ser chamado de São Geraldo, circunstância que dura somente um instante, pois como se sabe é nela em que o Aterrado está sendo oficialmente silenciado.

Destacamos que a “organização da cidade” começa a incidir sobre o bairro ao constituir sentidos do/no nome São Geraldo, que essa nova nomeação foi a via pela qual ele passou a integrar o “discurso do urbano” (ORLANDI, 2001) em Pouso Alegre, e que foi assim que, para a administração municipal, ele veio a se tornar um bairro (com um nome) legitimado. É dessa maneira que, com a instalação de luz elétrica no bairro, com placa colocada em seu espaço com a nova nomeação, com a legitimidade assegurada pela lei municipal, enfim, com um gesto inicial da presença do Estado, o São Geraldo surge como um bairro “organizado”.

O gesto de estabelecer a nova denominação, no entanto, não gerou uma ruptura definitiva, pois, inicialmente, para que ela pudesse fazer sentido, o nome Aterrado continuou a ser reproduzido nessa relação em alguns casos. Vejamos uma notícia publicada pelo Jornal A Razão em 14 de outubro de 1937:

O Bairro São Geraldo tem nova capela.

Inaugurar-se-á no próximo sábado, às 8 horas, a nova capela do bairro de São Geraldo (Aterrado), verificando-se, nessa ocasião, a bençam da nova imagem de S. Geraldo e do Sino da Capela. As solenidades terão a presença do Sr. D. Otavio C. de Mirando, Bispo Diocesano.

Observa-se que não é usado somente o nome São Geraldo. Das duas ocasiões em que ele aparece em relação ao bairro, a palavra Aterrado é posta em uma delas entre parênteses. Mesmo tendo passado dez anos desde a mudança de nomeação, o jornal considerou ainda ser necessário expor que quando se falava em São Geraldo estava se remetendo ao bairro Aterrado. E nesses dizeres, eles estão postos como equivalentes. O que é dito não é que o São Geraldo é o “(antigo Aterrado)”, e sim o (Aterrado). Ou seja, este nome continuava significando o bairro contemporâneo da notícia, e não apenas o dos tempos anteriores ao ano de 1927, em que a denominação foi oficialmente modificada.

Conforme já dissemos, Aterrado surge devido aos vários aterros que foram realizados no local. Mas não é somente ele que obteve a sua nomeação a partir das terras depositadas naquela área, além disso, os aterros renderam ainda nomes a alguns locais dentro do próprio bairro e em seus arredores. Em certa altura de uma matéria publicada em 14 de fevereiro de 1929, a respeito das enchentes que aconteceram na cidade no ano em questão, o jornal Gazeta de Pouso Alegre diz: A vargem do rio Mandù, de tal maneira se innundou que quasi todo o aterrado, que dá acesso ao bairro de São Geraldo está coberto de agua, facto já mais observado nesta cidade. Aqui, a denominação Aterrado não é empregada para se referir ao bairro, nesta ocasião é apenas São Geraldo. Mas como o jornal nos mostra, embora a sua nomeação tenha sido mudada, o termo aterrado prossegue definindo outros lugares próximos a ele. Nas falas da reportagem há uma separação do São Geraldo (o bairro) com o local que está sendo chamado de Aterrado (o aterro), e este não é colocado como parte do bairro, mas como um caminho que dá acesso a ele. No entanto, mesmo que nomeação Aterrado esteja sendo silenciada, ainda sim a palavra aterrado não está, ela continua incidindo nessa relação em que o bairro aparece, por estar nomeando locais contíguos a ele.

Com a Lei Ordinária nº 262, decretada pela Câmara Municipal de Pouso Alegre no dia 9 de janeiro de 1955, podemos perceber que essa situação permanece por um tempo relativamente longo, bem como a pretensão de encerrá-la:

Art. 1º - Passará a denominar-se Rua "Vereador Antônio da Costa Rios" a atual via pública "Aterrado" desta cidade e que, partindo da Ponte do Mandu, termina no Bairro de São Geraldo.

Art. 2º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução desta Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir, tão inteiramente como nela se contém.

Por quase três décadas após a mudança na denominação, a palavra Aterrado ainda permaneceu intitulando a sua principal via. Neste caso, e também no que mostramos há pouco, notamos que o sentido de ligação com a cidade, de contiguidade, ou mesmo o de pertencimento do bairro, de certa forma, significavam (n)o nome Aterrado. Afinal, nos momentos em questão, ele era usado para se referir às ruas de acesso ao bairro, ou seja, aos locais que vinculam o seu espaço ao do restante da cidade.

Consideramos que nestes períodos em que certos lugares do bairro continuaram a ser definidos de acordo com os aterros, a nomeação Aterrado possa ter funcionado como uma metonímia do bairro. E isso certamente contribuiu para que o nome São Geraldo fosse silenciado em certas ocasiões, na medida em que o bairro era tomado pela denominação de determinadas partes suas. A sobreposição do Aterrado pelo São Geraldo é um processo que vai ocorrendo ao longo dos anos, e que se estende até os dias de hoje. Ainda que no decorrer do tempo o termo Aterrado tenha sido retirado das nomeações oficiais das ruas do bairro, e que assim a possibilidade de ocorrência da metonímia que mencionamos tenha sido extinta, conforme vimos durante a nossa pesquisa ele permanece até a atualidade como nome do bairro. Não mais nos documentos e nos discursos oficiais, nem por essa operação metonímica que antes encontrava na denominação de certas partes do seu espaço condições para acontecer. Ele está presente principalmente como uma “metáfora” (PÊCHEUX, 2009) nas falas de uma grande parte dos moradores da cidade, que não se filiando às formações discursivas que dispõem a nomeação São Geraldo, trocam “uma palavra por outra” (IBIDEM, p.277), e significam o bairro por Aterrado.

Embora tenha havido o investimento para silenciar essa denominação, e isso ainda venha acontecendo, ela resiste até os dias atuais. O estabelecimento da nova nomeação não conseguiu apagar completamente a precedente. Esta, não atingiu a mesma credibilidade do São Geraldo, e com o tempo, cada vez mais foi sendo inutilizada principalmente em condições formais. No entanto, em algumas matérias jornalísticas, em redes sociais, em falas dos pousoalegrenses, em discursos de diferentes materialidades realizados na cidade, o Aterrado continuou a (se) significar. Durante o percurso da nossa pesquisa, percebemos que ele é o nome que geralmente se encontra nos casos em que os sujeitos produzem um imaginário negativo sobre o bairro, em que buscam significá-lo por sentidos de violência, de pobreza, de tráfico de drogas, ou pela a falta de infra-estrutura. Notamos que esses são sentidos presentes na memória da denominação Aterrado em Pouso Alegre, e que alguns deles foram sendo constituídos desde a formação do bairro, significando-o pela falta de organização, bem antes do São Geraldo ser formado.


Sobre o Aterrado e o São Geraldo

A partir das nossas análises, podemos afirmar que a nomeação Aterrado consiste em uma “palavra-discurso” (ORLANDI, 2013, p.17), que “explode carreando diferentes construções referenciais” do bairro, “em distintas porções do real”. Os vários sentidos constituídos historicamente a partir do seu real, que seguem em distintas direções, incidem na palavra Aterrado, e esta, por sua vez, “explode” significando o bairro de maneiras diversas em diferentes lugares. Gostaríamos de ressaltar que não são apenas sentidos negativos que constituem a memória do nome Aterrado, que ele não é formulado somente em condições em que o bairro é marginalizado, mas mesmo em discursos que em que os sujeitos procuram contrapor o imaginário negativo sobre ele, formulando sentidos do real do bairro.

Isso pôde ser observado em vários materiais com os quais nos deparamos durante a nossa pesquisa (BARBOSA, 2015)[6], como, por exemplo, em comentários de postagens no Facebook feitas pela página Pouso Alegre da Depressão sobre o bairro, tais como Aterrado é amor ♥, ou é noooiz no Aterrado, com orgulho. Outro sujeito acaba até invertendo o pressuposto de que é somente em discursos pejorativos sobre o bairro que esse nome é utilizado. Sobre uma postagem que significa o Aterrado como um local de tráfico de drogas, ele diz: Aterrado é só para os íntimos. Mais respeito com o nosso bairro por favor. Vemos como o sujeito reivindica o uso da denominação apenas para os moradores, para os íntimos. Na sua interpretação, um pronunciamento do nome Aterrado em determinadas condições de produção pode ser sinônimo de falta de respeito. Quer dizer, o seu afeto para com o bairro se mostra nessa denominação, e é nessa medida em que ele repudia a hipótese de ela ser usada por aqueles que não se identificam com o Aterrado, pois assim se reduz as chances desse nome se inscrever um discurso hostil para com o bairro.

Durante o nosso processo de pesquisa, notamos ainda como o nome São Geraldo aparece principalmente em falas que buscam restituir a ele a sua condição de bairro, em discursos que buscam expor para a cidade os seus sentidos positivos, como nos mostra a sua própria produção e instauração por parte dos seus moradores. Porém, ele também não se inscreve somente em uma formação discursiva amistosa. Em diversos casos, ele é realizado em discursos que marginalizam o bairro, mas que, no entanto, geralmente estão filiados a uma memória do São Geraldo como um bairro legítimo, organizado, oficial.

Um caso que exemplifica isso que estamos dizendo, é o de um pronunciamento feito pelo vereador Moacir Franco. Em uma reunião na Câmara Municipal de Pouso Alegre no ano de 2011, momento em que ele era presidente da mesma, entre outras colocações, Moacir disse: o “São Geraldo (...) é como se fosse o câncer de Pouso Alegre, um câncer no coração de Pouso Alegre”. Apesar de ser um discurso que marginaliza o bairro, o termo usado para nomeá-lo foi sempre São Geraldo. Se tratando de um pronunciamento feito por um vereador da cidade durante uma reunião na Câmara, ou seja, realizado em uma ocasião marcada pela formalidade, não há espaço para a palavra Aterrado. Da sua posição-sujeito vereador, embora ele esteja formulando sentidos que recusam ao bairro esse seu status, dada as condições de produção em que esse discurso acontece, a necessidade de se utilizar o nome São Geraldo se faz presente para ele, isto é, o vereador precisa partir do bairro enquanto tal, ainda que seja para negá-lo depois.

Outro exemplo em que observamos o funcionamento das palavras Aterrado e São Geraldo significarem o bairro de maneiras distintas, não em termos de se estar sendo favorável ou não a ele, mas em relação à sua organização, ao seu caráter de bairro justamente, está na imagem sobre as mulheres de Pouso Alegre que abordamos anteriormente. Em nossa análise vimos que a fotografia estabelecida para o Aterrado é apenas a de um esqueleto sobre um fundo preto, que assim, nela não entra em questão se há beleza ou feiura, riqueza ou pobreza, se o corpo está em um local citadino, rural ou litorâneo, se é limpo ou sujo, pois, antes de tudo, os próprios sentidos de espaço e de vida são negados ao bairro. Já na imagem do São Geraldo, embora haja uma marginalização para com ele, conforme expomos anteriormente, a mulher posta em seu quadro se encontra em “algum lugar”. Isto é, ela não permanece mórbida e imersa em um fundo no qual não se pode visualizar espaço algum, mas está em um local que, inclusive, dispondo de alguns arbustos e pedras que parecem ser um caminho construído, de certo modo faz significar a vida e a organização daquele espaço. Nos dois casos ele é hostilizado, mas não é no Aterrado, e sim no São Geraldo que se inscrevem os sentidos de organização e o de bairro propriamente.

Como mostramos, para que a nova nomeação começasse a vigorar, foi preciso que ela percorresse o nível da administração municipal. E como pudemos perceber, é quando ela passa por essa esfera institucional que o Estado passa pelo bairro. Neste momento em que ambos se atravessam, a nova denominação é produzida: São Geraldo. Nome este que passa o bairro do não-sentido ao sentido, que assim, de certa forma, funda um novo bairro, para os moradores e para administração: um bairro legal(izado). Dessa forma, o que gostaríamos de ressaltar, por fim, é que a formação discursiva que surge com os acontecimentos nas condições de produção do nome São Geraldo e da sua instauração, em nossa compreensão, não se define em termos de estar realizando sentidos amigáveis ou hostis para com o bairro. Acompanhando as nossas análises podemos dizer que a sua característica constitutiva é determinar sentidos que significam essa relação entre o espaço do bairro e a organização, a formalidade, a oficialidade, a legitimidade dele enquanto bairro.


Um bairro não é um bairro só

Primeiramente, levantamos a seguinte questão: Aterrado e o São Geraldo são um bairro só? A partir da nossa pesquisa podemos dizer que não. Durante o nosso trajeto notamos que essas duas denominações são significadas de formas muito diversas, em relação a distintas regiões do interdiscurso. Logo, devido aos modos como a memória discursiva se inscreve em cada uma dessas nomeações, elas significam o bairro de maneiras diferentes. Embora sejam dois nomes de um mesmo território, eles, no entanto, não produzem o mesmo bairro. Aterrado e São Geraldo são dois bairros que não se coincidem.

Começamos questionando a afirmação de que Aterrado e São Geraldo são um bairro só. Após esta indagação, pretendemos agora chegar a um ponto que está basicamente relacionado a um desfecho para a seguinte pergunta: um bairro é um bairro só? Mais adiante, com base nas nossas conclusões, retornaremos a essa questão para discuti-la.

Iniciamos destacando o deslocamento feito por Orlandi (2012a) que nos leva à categoria de “historicidade”, com a qual a “história”, que em determinadas vertentes é concebida como um conteúdo presente “atrás” de um texto, passa a ser compreendida enquanto efeito de sentidos da própria materialidade discursiva. Essa abordagem proposta pela autora nos conduz também ao questionamento do modo como o conceito de bairro é posto em funcionamento na sociedade a partir do imaginário produzido pelo “discurso do urbano”, no qual “o real urbano é substituído pelas categorias do saber urbano, seja em sua forma erudita (discurso do urbanista), seja no modo do senso comum em que esse discurso do urbanista é incorporado pelo político, pelo administrador, pela ‘comunidade’” (IDEM, 1999, p.9,10).

Observando o modo como “bairro”, com seus limites, é definido, por exemplo, nos mapas, nos guias de um município, que são embasados na sobreposição da materialidade da cidade pelo discurso do urbano, vemos que ele é estabelecido principalmente através de linhas traçadas (imaginariamente) em um território. Ele é apresentado como um recorte de uma área, como um dado sobre um determinado espaço, enfim, como sendo apenas um conteúdo sobre a cidade, que pode ser apreendido com o devido entendimento dos seus limites que estão sendo desenhados na cartografia em questão. Segundo Tuan:

Os bairros urbanos, se comparados com os povoados rurais, não têm proeminência visual. Cada bairro é uma pequena parte de uma área construída maior, e não está claro onde termina uma unidade e começa a outra. Um planejador, ao olhar a cidade, pode discernir áreas de características físicas e sócio-econômicas bem definidas; ele as chama de distritos ou bairros e lhes atribui nomes se ainda ninguém lhes deu um (1983, p.188).

Como o autor prossegue afirmando no decorrer do seu texto, os moradores de uma cidade não possuem uma noção de bairro assim como um planejador. Como ele diz, “cada bairro é uma pequena parte de uma área construída maior, e não está claro onde termina uma unidade e começa outra”. Ou seja, no espaço urbano, essa unidade é inexistente, ela consiste em uma definição posta por um limite imaginário. Porém, embora se tratando de uma unidade imaginária, ela tem a sua materialidade nos discursos que derivam do saber sobre a cidade produzido pelo especialista do espaço urbano. De acordo com Orlandi:

A maneira como o urbanista fala sobre a cidade acabou criando categorias que vão substituindo a própria maneira como as pessoas pensam a cidade. Por um processo de migração de sentidos, elas significam a partir de categorias do urbanismo, tornadas gerais, e deixam de dizer a cidade em seu real, em sua materialidade específica (1999, p.9).

Acompanhando as palavras da autora, podemos dizer que é por esse “processo de migração de sentidos” que a categoria de bairro passa a individuar os moradores da cidade com a evidência de sua unidade (imaginária). Parafraseando a citação de Tuan: um planejador irá discernir áreas, chamá-las de distritos ou bairros e lhes batizar com um nome. Posteriormente, essa definição passará a circular na cidade através da sua formulação em diferentes discursos, sendo o mapa urbano um exemplo clássico (e mais recentemente o programa digital Google Earth[7] ou mesmo o site Google Maps[8]). Após essa empreitada, frente a um mapa, um sujeito pode constatar uma delimitação e dizer: “esse é o bairro X”. Ou, mesmo no espaço da cidade, ele pode concluir a partir da deriva de um já-dito do discurso do urbano: “o bairro X é aquele que fica entre o ponto Y e o ponto Z”.

Essa “sobreposição do que é conhecimento urbano (sobre a cidade) com a própria materialidade urbana (da cidade)”, é justamente o movimento que produz também a sobreposição do real da cidade pelo imaginário urbano (IBIDEM, p.9). Eis que “bairro”, sob um efeito de evidência, passa a significar como uma unidade no imaginário urbano, e a cidade fica impedida de se significar em sua falha, em seu equívoco, enfim, em seu real, que por sua vez rompe com a unidade atribuída ao bairro pelo discurso do urbano.

É com base nestas considerações que buscamos fazer avançar o nosso entendimento sobre o conceito de “bairro”, compreendendo “bairro”, não como algo já dado, como um conteúdo que estaria “atrás” do discurso do urbano, mas sim como um efeito de sentidos produzido na própria materialidade desse discurso. Assim, passamos a apreendê-lo não apenas como resultado da delimitação de uma determinada área, de um recorte sobre um certo espaço, mas, sobretudo, como uma construção discursiva da/sobre cidade. Por essa perspectiva, saindo da evidência pela qual a categoria de bairro é mantida, observamos o real da cidade destituir a unidade imaginária atribuída a ela, e notamos que “bairro” é sujeito a equívocos. Quer dizer, vemos que ele não é constituído somente pelo sentido do especialista, mas por um processo discursivo em que entram outros gestos de interpretação, não só do urbano, mas também da cidade. Procuramos trabalhar o conceito de bairro de acordo com a “historicidade”, e não com a “história”, ao passo em que, pelo viés historiográfico, teríamos apenas corroborações para a forma como “bairro” se apresenta a partir do discurso do urbano enquanto unidade. Pela nossa perspectiva, observando a relação entre uma materialidade discursiva e a sua exterioridade, conseguimos apreender a “historicidade” que constitui os discursos que produzem “bairro”, e perceber o modo como ela garante o “movimento dos sentidos” (ORLANDI, 2012c). Ou, em outras palavras, como ela determina diferentes construções discursivas do bairro.

Foi ao analisar a “historicidade” que se inscreve nos nomes São Geraldo/Aterrado que conseguimos notar as distintas maneiras pelas quais esse bairro é significado em cada uma destas denominações, e por fim perceber que elas acabam por produzir dois bairros diferentes.

Neste caso, tivemos a oportunidade de estar frente a um espaço que é multiplicado por nomes diferentes, que assim, produzem bairros diversos. Mas as nossas considerações estão relacionadas à afirmação que se entrelaça com a pergunta feita inicialmente, para a qual respondemos: um bairro não é um bairro só. Conforme discorremos, a categoria de bairro funciona enquanto uma unidade no imaginário urbano a partir de uma deriva do “discurso do urbano”. E analisando a materialidade destes discursos que formulam um bairro, podemos observar o modo como essa unidade é um efeito aí produzido, enfim, como “bairro”, concebido dessa maneira, é um efeito de sentidos. Assim, discursivamente, poderíamos dizer que um bairro não é um bairro só, afinal as suas fronteiras e os seus limites são traços simbólicos, passíveis de equívoco, são construções discursivas. Em suma: é o sentido que produz “bairro”.

Dessa forma, propomos uma abordagem desse conceito levando-se em conta que um bairro não é estabelecido apenas por uma delimitação no “território”, mas sobretudo por uma demarcação na “territorialidade”. Aqui, estamos nos filiando à distinção entre esses termos tal como estabelecida por Orlandi (2011, p.20), que compreende a “territorialidade” como um espaço “material, parte das condições de produção dos sentidos que aí se constituem, se formulam e circulam. Espaço histórico e simbólico. Espaço de interpretação”, e o “território” como referente ao “espaço institucionalizado, nomeado pelo poder do Estado” (grifo da autora). Com base nestes dizeres, o que buscamos é destacar que um bairro não é somente uma área projetada sobre um espaço institucionalizado a partir dos seus contornos expostos em um mapa. Na medida em que a “territorialidade” indica o espaço como “histórico e simbólico”, podemos afirmar que é nessa relação com a “territorialidade” que bairro é produzido. Afinal ele coloca em funcionamento o fato de que o espaço é um “espaço de interpretação”, já se apresentando como o resultado de uma das possíveis interpretações do espaço. É assim que conseguimos apreender um bairro em sua demarcação feita por limites simbólicos, traçados no espaço (de interpretação), e por fim, discursivamente, compreendê-lo enquanto um gesto de interpretação de uma “territorialidade”.

Para exemplificar essas nossas conclusões, relembraremos as observações que fizemos a respeito dos dizeres sobre o Aterrado no site Desciclopédia. Naquela ocasião, ressaltamos o modo como os limites do bairro não são dados a partir da sua extensão territorial na cidade, mas sim de acordo com a interpretação do seu espaço. Como assinalamos, no discurso em questão, as fronteiras do bairro são construídas através de duas perspectivas: o fator natural (cercado por mato e água de um lado) relacionado também ao “transcendente” (esquecido por Deus); e o social (pela miséria e a polícia do outro) ligado ainda ao político (lembrado por alguns em épocas de eleições). Enfim, aqui, o sujeito que realizou esse discurso não acompanha as delimitações do “território” do bairro que estão estabelecidas no mapa da cidade para produzi-lo, as suas fronteiras são demarcadas através de uma cartografia de sentidos, desenhada pelo seu gesto de interpretação da “territorialidade” do Aterrado.

Um bairro é um bairro só? Esta pergunta traz não uma perspectiva só. Em um primeiro momento, como mostramos, o seu adjetivo nos permitiu colocar em causa a unidade do “bairro”. Mas não foi só. A ambiguidade desta palavra que insistimos em repetir, nos levou ainda a pensar nesse advérbio, e com ele sobre outra evidência que essa frase nos faz interrogar. Ou seja, além de discutirmos sobre a unicidade que aí é questionada, também fomos conduzidos a indagar sobre uma segunda evidência, a que faz funcionar o sentido de que um bairro é apenas um bairro, na qual “bairro” já tem um sentido fixado pelo discurso do urbano.

Considerando a questão da “territorialidade”, pudemos observar que um bairro não é apenas um bairro no sentido determinado no/pelo discurso do especialista do espaço urbano, da administração, do planejamento, enfim, no/pelo discurso de “organização” (ORLANDI, 1999) da cidade. Não só. O dicionário Michaelis[9], por exemplo, traz as seguintes definições para “bairro”: “cada uma das partes em que se divide uma cidade”; “porção de território de uma povoação; arraial, povoado”; “área urbana onde moram indivíduos de uma mesma classe social”. Entendido como um “espaço de interpretação” (IDEM, 2011), para nós, “bairro” se torna não somente uma parte, uma porção ou uma área que recebeu um nome e que foi delimitada por fronteiras concretas no espaço da cidade ou por linhas sobre um mapa. A partir das nossas análises e discussões teóricas, por fim, passamos também a seguinte compreensão: o bairro é um espaço que constitui, que individua, que produz identificação dos sujeitos. Um bairro não é um bairro só.


Referências bibliográficas

BARBOSA, André Silva. São Geraldo: (A)Terrado de Sentidos. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem). Pouso Alegre: UNIVAS, 2015.

COSTA, Greciely Cristina da. Denominação: um percurso de sentidos entre espaços e sujeitos. In: Revista RUA (online). 2012, no. 18. Volume 1 – ISSN 1413-2109. Consultada no Portal Labeurb – Revista do Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade: http://www.labeurb.unicamp.br/rua/

FARIA, Rivaldo Mauro. Território urbano e o processo saúde-doença. Perfil territorial da saúde no São Geraldo, em Pouso Alegre (MG). Dissertação (Mestrado em Geografia) – UNICAMP. Campinas, 2008.

GOUVÊA, Octávio Miranda. A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre: Gráfica Amaral, 2004.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 8ª ed. Campinas: Pontes Editores, 2009.

______. A palavra dança e o mundo roda: Polícia! In: GUIMARÃES, Eduardo (org.). Cidade, Linguagem e Tecnologia: 20 Anos de História. Campinas: LABEURB, 2013

______. As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. 6ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.

______. Discurso em Análise: Sujeito, Sentido e Ideologia. Campinas, SP: Pontes, 2012b.

______. Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. 3ª ed. Campinas: Pontes Editores, 2008.

______. Interpretação, autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 6ª ed. Campinas: Pontes Editores, 2012c.

______. N/O Limar da Cidade. In: Revista RUA. Número especial. Campinas, 1999.

______. Os sentidos de uma estátua: Fernão Dias, individuação e identidade pousoalegrense. In: ______. (org.) Discurso, Espaço, Memória – Caminhos da identidade no sul de Minas. Campinas, SP: Editora RG, 2011.

______. Sentidos em fuga: efeitos da polissemia e do silêncio. In: CARROZA, Guilherme; SANTOS, Míran dos; SILVA, Telma Domingues da. (orgs.). Sujeito, Sociedade, Sentidos. Campinas: Editora RG, 2012a.

______. Tralhas e troços: o flagrante urbano. In: ORLANDI, Eni. (org.) Cidade atravessada: os sentidos públicos no espaço. Campinas: Pontes Editores, 2001.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 4ª ed. Campinas: Editora Unicamp, 2009.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.

Data de Recebimento: 18/10/2017
Data de Aprovação: 05/02/2018


[1] No decorrer do nosso texto, em diversos momentos, como este, utilizaremos também as palavras “nome” e “nomeação”. Sublinhamos que, em todas essas ocasiões, elas estão sendo sempre compreendidas por nós da mesma maneira como entendemos a noção de “denominação”, segundo o modo como aqui apresentamos.

[2] Gostaríamos de já ressaltar que o site Desciclopédia, assim como as páginas do Facebook chamadas da Depressão, são constituídas pela produção de piadas, sátiras, ironias e deboches. No caso do Desciclopédia, o principal tema é a cidade, isto é, um município específico que é escolhido.

[3] Disponível em <http://desciclopedia.org/wiki/Pouso_Alegre> Acessado no dia 12 de março de 2014

[4] Disponível em http://pousoalegre.net/noticia/2014/03/por-que-aterrado/> Acessado no dia 08 de agosto de 2014.

[5] Aqui, ao dizermos “urbanização”, falamos das medidas que são realizadas para levar infra-estrutura e aparatos urbanos a uma determinada área.

[6] As análises que fizemos destes discursos que elencamos neste momento foram realizadas em nosso trabalho de mestrado.

[9] Consultado em sua versão online, disponível em <http://michaelis.uol.com.br>.