Reportagem e Folhetinismo: narrativas infames como poder finalista
Rodrigo Marcelino
Houve um tempo em Roma, no qual certas relações dispensavam completamente a proteção do Direito e só contratavam com a garantia dos costumes (infâmia);
Tobias Barreto – Prolegômenos do estudo do Direito Criminal
1.0 Jornalista e folhetinista: posições ocupadas pelo discurso da imprensa no século XIX
Que “efeito estranho é este, assim produzido pela afinidade assinalada entre o jornalista e o folhetinista”[1] nas práticas da imprensa? No lugar reservado ao folhetim, há uma prática que narra romances, contos, crônicas etc., isso pelo que toca ao “devaneio, à leviandade, está tudo encarnado no folhetinista mesmo; o capital próprio” [2]. Romances, contos, crônicas, tudo isso faz parte da imprensa e do exercício do folhetinista, mas não é peculiar à prática do jornalista. É na crítica que a imprensa realiza a prática do jornalista, quando ele é, sobretudo, crítico literário e, variavelmente, científico e político, aqueles sobre os quais cai a “luz séria e vigorosa, a reflexão calma, a observação profunda”[3]. Como há de se exumar, contudo, cada princípio das relações de poder da imprensa, sem que se conheçam os deslocamentos sofridos na ciência e na política, e como descrever esses deslocamentos de saber, sem mostrar uma espécie de pintura, na qual o corpo do povo se compõe suspenso por uma moldura de discurso? “A imprensa periódica é nossa opinião, a página mais interessante do grande livro da vida de um povo [...] a nosso ver, a imprensa periódica seria a primeira palavra da literatura pátria” [4].
A literatura do povo, através de outra intuição da análise crítica, não será mais justaposta pela imprensa aos reflexos distintos da religião, pois quando, porventura, a ciência, bem ou mal fundada, nega à religião uma sede imutável na alma humana, ouve-se, como regra, a sentença condenatória das artes (ROMERO, 1878, p.VIII). Desde esse ponto, o que se diz da literatura, e que se deve afirmar de uma posição ocupada pelo discurso da imprensa, vai partir, aos poucos, de todas as manifestações da ciência, sempre há aí a combinação binária das forças físicas e mentais, ação dupla da natureza e da inteligência, princípio elementar da filosofia da História.