A urbanização de Campinas/SP e a produção de informação nas maiores ocupações da cidade


resumo resumo

Helena Rizzatti



Introdução

A cidade de Campinas/SP abriga diversas redes nacionais e globais de transporte e informação e, para isso, se reorganiza constantemente para incorporar a nova divisão territorial do trabalho, baseada na informação (LOJKINE, 1995), e se destaca como importante polo tecnológico nacional (SANTOS, 2000/IBGE, 2011). Ao mesmo tempo, a cidade conhece acentuada expansão da pobreza nas últimas décadas e acompanha, assim, o processo de urbanização brasileiro transformando-se numa metrópole corporativa e fragmentada (SOUZA, 2008). Nas palavras de Santos (2008 [1993], pp. 119 e 120)

Em primeiro lugar, o arranjo espacial das cidades muda, tanto pelo seu tamanho consideravelmente aumentado, como pela sua localização mais dispersa. Mudam, sobretudo, suas funções. As cidades são, de um lado, os elos de uma cooperação e de uma regulação que se devem dar em escala nacional, a serviço das atividades com dimensão nacional, isto é, as grandes empresas e o Estado. Por isso, devem ser localmente equipadas para o exercício dessa vocação 'nacional', indispensável à realização do modelo nacional adotado. As respectivas tarefas, consideradas menos relevantes [como a moradia da população de baixa renda], agregam-se, por necessidade funcional, mas de forma subordinada, às tarefas hegemônicas. A cidade se define segundo as modalidades dessas combinações dependentes do grau de desenvolvimento regional e da amplitude da respectiva divisão territorial do trabalho. As atividades não-hegemônicas são, em geral, deixadas à 'espontaneidade' do mercado. De um ponto de vista político, as atividades centrais, isto é, programadas como condição de êxito para o projeto nacional, são as que interessam ao próprio Estado e às corporações. Essas atividades centrais se dispõem em rede e sistema, interessando à totalidade dos núcleos urbanos, não importa onde estejam localizados. É nesse sentido que podemos falar de uma urbanização corporativa. (SANTOS, 2008 [1993], destaque do original, grifo da autora).

 

A manutenção da desigualdade socioespacial em Campinas é resultado da constante adaptação da cidade às exigências do sistema econômico capitalista, os interesses hegemônicos; e também da capacidade de organização e de resistência da população principalmente de baixa renda, os interesses não-hegemônicos, que, mesmo sem a devida intenção, acabam por criar novos usos do território[1] ao construírem parte considerável da cidade através das ocupações de terras urbanas.

Consideramos essas ações não-hegemônicas como resistências, com base em Chauí (1987), e como contra-racionalidades do sistema econômico capitalista, com base em Santos (1996). A primeira autora explica que “Não nos referiremos às ações deliberadas de resistência [...], mas a práticas dotadas de uma lógica que as transforma



[1] Tanto a ordem, quanto a contra-ordem constituem o ‘território usado’ (SANTOS & SILVEIRA, 2001) e podem construir ações, saberes e normas que são ascendentes, por partir do lugar, e desalienadoras, por partir da reflexão crítica do cotidiano. A racionalidade e a contra-racionalidade constituem, então, as possibilidades de uso do território