O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



p. 92) no empregador para determinar os termos da relação empregatícia. Essa condição de fundo é complementada por outros fatores, como a rede de agenciamento envolvendo coiotes e aliciadores[14]; o isolamento forçado do imigrante; o medo de ser denunciado e pego pela polícia ou de perder o emprego e, muitas vezes, o endividamento para conseguir entrar e trabalhar no Brasil.

O autor descreve essa situação indocumentada de trabalho nas oficinas têxteis na cidade de São Paulo, foco de seu estudo realizado na segunda metade da década de 2000, como “fragilizada sem muitas possibilidades de defesa contra a extrema exploração do seu trabalho, sujeitos a multas [do Estado Brasileiro por permanecer ilegalmente no território] e sob constante ameaça de deportação” (SILVA, 2008, p. 92). Segundo relata, essa condição envolve o “controle das condições de vida dos empregados [em particular daqueles que moram nas oficinas]”; o qual muitas vezes é reforçado pelo endividamento do trabalhador que é obrigado a “permanecer nas oficinas enquanto sua dívida não for paga”. Todos esses fatores caracterizam a natureza de um trabalho sob “grande pressão do rendimento produtivo”: eles “vêm endividados, se não produzem, não podem comer” (op. cit., p. 12, 96 e 97).

Principalmente nos primeiros meses de estadia, quando não possuem redes de apoio no Brasil, são obrigados a recorrer a ajudas de entidades de caráter religioso (Caritas, Pastoral do Imigrante) ou ONGs para conseguirem moradia, assistência social e jurídica, eventualmente a regularização dos documentos. As redes de compatriotas, de outros imigrantes ou mesmo de brasileiros, de fato são vitais como apoio para possibilitar a vinda e a estabilização desses imigrantes, mas também mantêm os limites inerentes à condição de classe – que possui recursos mínimos para ajudar, geralmente dividindo o que já é escasso, ou seja, não é suficiente para garantir a permanência desses imigrantes no país. Ao contrário, o trabalho é determinante nesse sentido.



[14] No caso de bolivianos que trabalham na indústria têxtil, essas redes estão presentes na Bolívia e no Brasil: “há um mercado que explora essa imigração” e “futuros empregadores que financiam a viagem”, sendo que as “rotas são alteradas de acordo com a pressão da fiscalização [policial]” (SILVA, 2008, p. 91).