O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



emprego ou correr o risco de ficar impeditivos pequenos intervalos sem trabalhar. Esse imigrante também sabe que, se custa tanto abrir uma porta, ela pode se fechar com uma rapidez espantosa, principalmente, como nos ensina Sayad (1998), nos momentos de crise, quando a verdade da imigração se revela sem nenhum pudor para o imigrante.

Eles sabem que o preço da mobilidade internacional é hoje, no mínimo, mais demorado para se pagar. Também sabem que a imobilidade se impõe durante, pelo menos, os primeiros anos de imigração. Mesmo na idade técnica avançada dos transportes, horas, dias, semanas de viagem podem se acumular para que essa sonhada mobilidade consiga se efetivar. Depois disso, anos se acumulam antes de poderem retornar ou emigrar para outro país.

Todos esses fatores denotam como não é a suposta leveza de um mundo “globalizado e interconectado” que cria essa mobilidade. Sua causa continua sendo o peso da busca por trabalho, com sacrifícios, custos e entraves implicados: o endividamento, a distância de familiares, a restrição dos vistos, a imobilidade que se impõe posteriormente. 

Por ter que se apoiar na chance de mudar uma vida que não suporta mais, esse imigrante dificilmente renuncia sem antes tentar todas as alternativas que estão ao seu alcance. Todos esses riscos são encarados por eles como relativos, diante das relações de força que enfrentam em seus países de origem e da chance, mesmo mínima, de mudar essa vida que, em razão da sua condição de classe, passa impreterivelmente pelo fato de conseguir um trabalho. Também é verdade que, em alguns casos, embora tenham trabalho em seus próprios países, muitas vezes dizem não a uma vida marcada pela violência de diferentes tipos, que modela a estrutura social do conjunto das sociedades periféricas, atingindo em particular suas frações mais pobres.

Além de não ter a proteção da família ou uma rede de contatos consolidada, esse imigrante, no Brasil, sobretudo quando indocumentado, não conta inicialmente com nenhuma garantia de direitos sociais ou de instituições que o representem em sua condição de trabalhador. A relação dos sindicatos com os imigrantes periféricos ainda não foi estudada na profundidade que esse tema mereceria, mas sem dúvida há um distanciamento dos sindicatos dentro e fora do lugar de trabalho, ou seja, essa entidade não é uma referência de apoio, como costumava ser para os imigrantes no passado[15].

 



[15] É claro que essa problemática não se explica por nenhuma apatia política desses imigrantes, que não é uma verdade de fato, pois se exprimem em diferentes espaços de luta, inclusive na esfera do trabalho. Se essa aproximação não ocorreu, o motivo deve ser buscado na crise de representação sindical, que é internacional e envolve também os próprios brasileiros, conforme diversos estudos sociológicos críticos têm indicado, também apontando suas raízes mais profundas no próprio sistema econômico vigente e nos diversos mecanismos de pressão sobre o trabalho (ANTUNES & SANTANA, 2014). Mas também é verdade, como evidencia Basso (2004), que a atitude dos sindicatos com relação aos imigrantes internacionais é “no mínimo, ambígua”, pois em alguns casos tende a reforçar a divisão entre trabalhadores com base na defesa de sentimentos racistas e nacionalistas, mais do que enxergar a luta comum e as potencialidades desse encontro. Contudo, o autor não deixa de lembrar a importância do espaço de lutas dos sindicatos, tendo em vista que, em alguns casos, também representam um ambiente que preserva e cultiva a perspectiva internacionalista.