O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



possuindo ou não um título universitário e/ou experiências de trabalho consideradas qualificadas – estão em relação direta com atividades laborais de baixa remuneração (geralmente de um a dois salários mínimos), muitas vezes informais e desprotegidas legalmente, em particular intensas em horas e sobrecarga de trabalho. Há muitos casos de imigrantes periféricos que, não obstante possuírem títulos universitários, só conseguem se inserir em postos que não exigem qualificação. Do mesmo modo, há trabalhos que desenvolvem, por exemplo, na costura ou doméstico, que requerem muitos conhecimentos apesar de não serem reconhecidos enquanto parâmetros de “qualificação” e melhores salários.

Fatores, portanto, problemáticos, que poderiam ser contrastados com outras experiências de imigrantes que conquistaram condições melhores de trabalho e de estruturação social, principalmente dos grupos radicados há mais tempo no país. A importância de contrabalancear essas experiências laborais relaciona-se com uma perspectiva que evita “vitimizar” os imigrantes e ilumina suas próprias iniciativas e respostas a condições adversas. No entanto, é preciso ter cautela para não transformar casos isolados em regra ao se falar de experiências de trabalho essencialmente coletivas, que não envolvem uma nacionalidade exclusiva, e são condicionadas pelo funcionamento de atividades econômicas. Não é por acaso que quadros muitos similares de condições precárias de trabalho de bolivianos, peruanos e paraguaios são verificados na Argentina ou no Chile, países para os quais também se destinam, desde as últimas décadas, muitos imigrantes intrarregionais e agora também começam a atrair aqueles de países periféricos de outros continentes (BENENCIA & QUARANTA, 2006; REYES, 2012).

Há uma exposição, o que não é sinônimo de aceitação passiva, a diversificados mecanismos de abusos e exploração, no trabalho e na vida social, que atingem dimensões redobradas para aqueles em situação indocumentada, e extremas, se levados em consideração o trabalho análogo à escravidão e o tráfico de humanos.

 

Considerações finais

Se a presença dos periféricos na periferia era, de alguma forma, mais “tolerada” na última década, quando o mercado de trabalho brasileiro estava aquecido; a partir de agora (2015), com o brusco aumento das taxas de desemprego, passa a simbolizar concretamente o pretenso “roubo” de postos de trabalho, mesmo daqueles mais explorados, os quais os trabalhadores nacionais, se pudessem, deixariam de almejar.