O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Embora o quadro das diferentes modalidades dos movimentos migratórios seja bastante complexo, no contexto neoliberal, falar de migração internacional e refúgio, hoje mais do que nunca fenômenos imbricados (MACKAY, 2009), significa considerar massas de pessoas, em sua maioria provenientes de países periféricos, que se deslocam principalmente para os países centrais (BASSO, 2003) e, em menor escala, também àqueles que, a despeito de ocuparem uma posição subordinada no mercado mundial, se encontram numa situação um pouco menos dramática, como é o caso do Brasil.

No país, essa realidade social periférica dos fluxos internacionais tem sido silenciada e invisibilizada, desde pelo menos os anos 1960, quando as entradas de coreanos e bolivianos começavam a ganhar corpo. Desde então, as “grandes levas anônimas”, expressão de Florestan Fernandes (2008b, p. 157) para se referir à imigração do século XIX e da primeira metade do XX, passam a ser compostas, também no Brasil, por imigrantes e refugiados da periferia do capitalismo (BAENINGER, 1996; MOREIRA, 2012).

Se essa modalidade de imigração forçadamente indocumentada e institucionalmente silenciada antes era composta em sua maioria por essas nacionalidades, no século XXI – em particular após a eclosão da crise nos países centrais (2007), combinada com o recrudescimento das políticas imigratórias nesses territórios (BASSO, 2010) – passa a conjugar uma diversidade de proveniência de fluxos (de imigrantes e refugiados), circunscritos principalmente aos contextos periféricos da América Latina, África e Ásia (BAENINGER, 2013).

Com o fim de expor as linhas gerais desses fluxos na atualidade, que são importantes para se analisar essa base histórica da imigração no Brasil em sua relação com o trabalho, sugere-se uma divisão em dois grupos, segundo os países de proveniência e a modalidade predominantemente indocumentada de entrada no país, apresentados abaixo.

O primeiro grupo refere-se aos fluxos de nacionalidades provenientes do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai) e países associados (Bolívia, Colômbia, Chile, Venezuela). Alguns desses fluxos, ganham peso no Brasil principalmente a partir da década de 1970. Por esse motivo, podem ser considerados contínuos, não tendo sido interrompidos nem mesmo no contexto de recessão e crise das décadas de 1980 e 1990.