O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



Organização Internacional para as Migrações, foi o principal destino dos fluxos migratórios na América Latina na última década. Contudo, se considerada a média de 10,8% (ONU, 2013) da população estrangeira nos países centrais, percebe-se que a porcentagem no Brasil, de aproximadamente 0,5%, é muito inferior. Da mesma forma, essas estatísticas permanecem baixas com relação aos refugiados que estavam no país em 2014 cerca de oito mil, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR, 2014)[10]. Se esse número vem comparado com as estimativas para o mesmo ano referentes à União Europeia (714.300) ou à América do Norte (134.600), percebe-se que o Brasil recebe uma parcela mínima dos fluxos de refugiados (ONU, 2014). Todavia, a análise estatística sobre refúgio desse mesmo órgão aponta o crescimento do fenômeno no país, principalmente nos últimos quatro anos.

Mas, se o percentual dessa população de estrangeiros oficialmente é mais baixo do que aquele de 1980, ou seja, ainda é insignificante para poder significar uma “verdadeira ameaça” ao emprego do trabalhador nacional, por que continua a representar um potencial “roubo” de postos de trabalho?

 

Os periféricos na periferia

A maior ameaça simbolizada pela presença desse perfil sociológico da imigração no Brasil é exatamente sua necessidade imediata, extrema e ininterrupta de trabalhar. Do mesmo modo, é verdade, que por serem de proveniência de países periféricos, em geral, não-brancos, compõem uma base social representativa de um novo enquadramento para as dinâmicas de atuação do racismo no Brasil, o que ajuda também a entender a carga de agressividade muitas vezes manifestada por nacionais contra esses imigrantes.

Além de enfrentarem os preconceitos de uma sociedade com herança escravista – que, no fundo, ainda associa a imigração com o mesmo referencial racista da “modernização dependente” no passado (FERNANDES, 2008a) – e todos os condicionantes do trabalho dentro de um regime de acumulação flexível, como já mencionado, também se deparam com políticas e leis imigratórias formalmente fechadas.



[10] O mesmo documento aponta que neste ano foram analisadas 2.206 solicitações de refúgio, das quais 1.952 foram deferidas, compondo 81 nacionalidades diferentes no país, sendo as mais representativas: colombianos, sírios, angolanos e congoleses.