O estigma da ameaça ao emprego pelos periféricos na periferia: crise e imigração no Brasil


resumo resumo

Patricia Villen



as altíssimas taxas para enviar remessas, o preço de aluguéis cobrados de cada imigrante dividindo metros quadrados (muitas vezes insalubres). 

A via para chegar e entrar no Brasil já é, de início, muito representativa dessa particularidade e, em geral, não caminha dentro dos circuitos institucionais, com a exceção, como visto acima, aos cidadãos do Mercosul e de países associados (a partir de 2009), aos vistos humanitários concedidos a uma parcela restrita dos fluxos de haitianos e aos casos especiais dos vistos de por casamento e paternidade.

Para muitos desses imigrantes, o modo de entrar no país, diferentemente do que ocorria no passado, é hoje, em grande parte, por uma via indocumentada, que cobra um preço material e psicológico muito alto para emigrar e, em alguns casos, significa até o risco de perder a própria vida, ser extorquido ou sofrer violências, principalmente no caso das mulheres. O deslocamento entre países, em geral, é preparado com muitos sacrifícios, implica renúncias e uma alta dose de coragem, pois sempre exige muito em termos financeiros (com relação às reservas que o imigrante possui ou não possui) e também emocionais.

É necessário precisar que a indocumentação, no que se refere aos efeitos que possui nas relações laborais, não é somente sinônimo de informalidade. No exercício de uma atividade laboral, em termos formais (de direito), tem os mesmos efeitos, porém sua substância vai além dessa esfera, pois carrega um peso a mais de condicionamentos, objetivos e subjetivos, que colocam o imigrante numa situação ainda mais vulnerável do que aquela contida no trabalho informal, com efeitos mais amplos também na vida social.

Para todos os efeitos, a situação indocumentada equivale ao “pesadelo kafkaniano de vias sem saída” que, como esclarece Löwy (2005, p. 202), ficou conhecido pela expressão de situação kafkaniana para descrever “um leque de experiências que vai do absurdo ridículo do funcionamento cotidiano das instituições burocráticas até as manifestações mais mortais do poder administrativo”. Essa situação kafkaniana dos indocumentados tangencia, no mínimo, uma exposição ao sistema de trabalho forçado, fenômeno que atinge também brasileiros (FIGUEIRA et al., 2011), mas, há décadas, está profundamente imbricado com os movimentos migratórios desse perfil de imigrantes – veja o caso dos bolivianos na indústria têxtil.